sábado, 30 de dezembro de 2006

Obituário de 2006



  • Rodrigo Neto - guitarrista dos Detonautas
  • James Brown - dispensa apresentações
  • Gianfrancesco Guarnieri - ator, diretor e base do teatro brasileiro
  • Braguinha - o maior compositor desse país, o homem que lançou Tom Jobim. Precisa mais? "Carinhoso" é dele.
  • Joseph Barbera - o criador de inúmeros desenhos animados da minha infância. "Hanna Barbera" era um termo íntimo meu quando criança.
  • Jece Valadão - o mais pouco-reconhecido ator nacional. Um gigante em cena, ficou marcado pelo papel de cafageste.
  • Clay Regazzoni - piloto de F1 da Ferrari, nos tempos românticos do automobilismo.
  • Robert Altman - diretor de cinema genial
  • Ferenc Puskas - liderou a seleção de futebol da Hungria. Mesmo sendo chamado de "gordinho" por muitos, foi considerado por muito tempo o melhor jogador do mundo. Vice campeão da copa de 54, um dos resultados mais surpreendentes da história do futebol. Perdeu para a Alemanha.
  • Ariclê Peres - mega atriz brasileira. Um dos sorrisos mais elegantes já vistos na nossa Tv.
  • Sivuca - mágico dos sons.
  • Palhaço Carequinha - palhaço. Ícone da tv nacional em tempos idos, referência de infância para meus antepassados.
  • Bussunda - você sabe quem.
  • Syd Barret - esse também. Pink Floyd te diz alguma coisa?
  • Steve Irwin - o caçador de crocodilos mais frito do mundo.
  • Raul Cortez - ator brasileiro, reserva de esperança aos calvos do mundo, vendo o tanto de charme e sedução que ele possuía. Um puta ator.
  • David Cunha, o Espanta - comediante cearense. Impagável, hilário e um grande sujeito para se tomar whisky.
  • Mário Cesariny - pintor e poeta surrealista português
  • Vítor Negrete - montanhista brasileiro, morreu no Everest.
  • Jack Palance - ator americano que melhor fazia cara de mau. O grande coadjuvante do cinema.

Mas em 2006 também morreram...

  • Saparmurat Niyazov - ditador maluco do Turcomenistão. Era tão doido que fez um parque de diversões temático sobre ele mesmo, deu seu nome a um tipo de melão e construiu um monumento com uma estátua sua de ouro que gira seguindo o sol. O mundo está melhor sem ele.
  • Ta Mok, homem forte do Khmer Vermelho, homem de confiança de Pol Pot. Conhecido como "O Açougueiro".
  • Stroessner - ditador paraguaio
  • Pinochet - ditador chileno
  • Saddan - ditador iraquiano

ou seja, no final a matemática ainda ficou positiva. Na minha opinião, entre perdas e ganhos, o mundo ficou melhor.


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Alguém mais que tenha morrido nesse ano que mereça comentar? Se lembra de alguém que eu esqueci? Comenta aí e acrescenta.

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Há braços!

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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

eduardoinimigo@gmail.com

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Minha mensagem de fim de ano...

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Então agora é hora, meninada. Fim de ano se aproxima e ainda existem cicatrizes do último e recente Natal. A julgar pela imagem acima, tomara que vocês tenham sido boas crianças esse ano. hehehe
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No mais, mais nada. Um puta 2007 pra todo mundo que ousou vir até aqui e participou, ajudou, deu toques, comentou, ou mesmo você que veio e foi em silêncio com uma rápida olhadinha.
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À todos que fazem a experiência de blogar alguma coisa divertida, meus sinceros votos de um próximo ano cheio de tudo que vocês quiserem. Sei lá o que cada um vai querer...
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2007 vai ser o que a gente fizer dele, então o meu vai ser muito loki!
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Há braços!
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Até o ano que vem, eu acho.
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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Ainda sobre o maldito pinochet (com minúsculas!)


Jesus usava maconha pra curar?


Recebi esse texto do meu precioso brother Andrei "Césio", mas nunca dei-lhe a devida atenção. Ontem me dediquei a dar uma lida e achei interessante demais. Novamente a ciência levantando hipóteses polêmicas e que podem iluminar cantos perdidos da nossa memória "enquanto" raça. Vejam isso:
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CRISTO SHAMAN: PESQUISADOR DIZ QUE JESUS USAVA MACONHA PARA CURAR
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por Duncan Campbell e Chris Bennett
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tradução e adaptação: Mahajah
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Jesus utilizava os princípios ativos da maconha com finalidades medicinais - é o que diz um estudioso Chris Bennett que vem pesquisando usos e costumes da antigüidade partindo da análise dos textos bíblicos. Bennet concluiu que Jesus e seus discípulos usaram a substância em curas ditas miraculosas na forma de um ungüento cuja fórmula continha seis libras um ingrediente chamado "kanesh-bosem" que foi identificado por respeitados etimologistas, lingüístas, antropólogos e botânicos como um extrato de cannabis.
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O "kanesh-bosem" era misturado com óleo de oliva e outras ervas aromáticas. Também o incenso queimado nas cerimônias religiosas tinha cannabis em sua composição. O professor de mitologia clássica da Boston University que há 30 anos investiga a história das substâncias psicoativas nas religiões, Carl P. Ruck, também acredita na hipótese: "Não há motivo para questionar o uso da maconha no judaísmo primitivo. Há evidências de uma longa tradição de consumo da cannabis entre os judeus primitivos e não há por que duvidar que a substância tenha sido usada também pelos cristãos na elaboração de ungüentos medicinais. O vinho consagrado dos sacerdotes era especialmente "aditivado" com ingredientes como o ópio e a mandrágora."
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continua no post abaixo...
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Continuando...


Chris Bennett sugere que os ungüentos oleosos tão citados em trechos da Bíblia possuíam altas dosagens de THC - o tetraidrocanabinol, princípio ativo da maconha. Os efeitos, hoje produzidos pela queima dos cigarros ou "baseados" ou ainda por ingestão, no passado foram obtidos pela absorção através da pele, proporcionada pelos ungüentos.
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No tempo do Cristo Jesus, doenças como epilepsia eram consideradas como "possessão demoníaca" e a cura, quando era obtida, devia-se ao uso de ervas medicinais ou era, simplesmente, vista como um milagre. Hoje, testes de laboratório mostraram que a cannabis é eficaz no tratamento de várias moléstias além da epilepsia, como doenças da pele, dos olhos e distúrbios menstruais (fluxos de sangue, como é dito na Bíblia). Os tratamentos judaicos e de outros povos antigos para estes males sempre incluíram os ungüentos ou a "sagrada unção".
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As conclusões de Bennett não são exatamente uma novidade; os textos bíblicos apenas reforçam aquilo que as descobertas arqueológicas há tempos vêm indicando: a maconha foi usada com fins medicinais em toda a área do Oriente Médio muito antes do começo da era Cristã. Além de remédio, maconha e outros alucinógenos proporcionavam os estados de consciência alterada experienciados no "batismo" dos Iniciados em Magia, não somente entre judeus, mas entre os muitos povos do norte da África e também da Ásia em nações de cultura milenar como Índia e China.
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E antes que alguém pense em heresia ou em exageros típicos de cientistas ávidos por convencerem os outros, lembrem que Freud usou cocaína no início de sua prática médica, o que na época não era nenhum problema, já que a cocaína era uma substância em pesquisa e que apresentava resultados palpáveis em certas situações terápicas. Ou ainda se lembrarmos nossos pais pulando carnaval e se entupindo de lança-perfume, com autorização legal. Até que Jânio proibisse o uso do "cheirinho da Loló", essa era uma prática normal de boas e tradicionais famílias brazucas.
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Ou seja, cada vez mais me lembra a música do Finis Africae, saudosa e finada banda brasiliense dos anos 80, que dizia em uma de suas músicas:
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"A vida apodrece
Em cada boca e em cada beijo
O que hoje me dá nojo
Ontem foi o meu desejo"
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O tempo passa e os costumes mudam, e então antes que fundamentalismos nos façam desacreditar da pesquisa, bom lembrar que é uma pesquisa, um estudo, e que se realmente JC usou maconha, isso foi num outro tempo e sob outra ótica.
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Marijuana na Magia e na Religião: o livro de Chris Bennet, co-autoria com Lynn e Judy Osburn, ainda sem tradução em português
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FONTES:
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Há braços! Césio, valeu pelo texto!!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Organização no rock independente - um exemplo? um caminho?


O Imprensa de Zine - http://www.imprensadezine.blogger.com.br/ - é um dos braços armados do Espaço Cubo e é responsável pela comunicação de forma geral e pela atuação cultural e artística em escolas, de forma específica.
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No dia 24 de dezembro foi postado no blog deles (esse endereço aí de cima, ôu!!) a Ata da 1ª reunião da Volume - Voluntários da Música, matéria feita pela Talyta Singer, menina legal da Imprensa EC (da qual me sinto honorário participante, graças ao convite feito pelo Capilé).
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Enfim, novamente os cuiabanos estão mostrando uma capacidade de organização quase militar, com metas, objetivos, planos e ações práticas, focadas e pragmáticas. Pode parecer, pelo uso do termo "militar", que vai aqui uma crítica à forma como são conduzidas as conversas em Cuiabá, mas não é isso.
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É antes a constatação de que em Cuiabá existe um trabalho sistemático, por isso o termo "militar". Sistemático, organizado, dedicado e - sempre que necessário - burocrático. Por isso a referência militar, por reconhecer que as atividades são conduzidas de forma a atingir algum lugar, de se chegar em algum ponto melhor, e podemos criticar o militarismo o quanto quisermos, mas não é possível negar a objetividade da prática. Por isso afirmo sem medo de ser mal interpretado que o Espaço Cubo é uma força tática de ocupação muito poderosa.
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Como toda força de ocupação, enfrenta resistências. Muitas são as pendengas existentes entre os diferentes players da cena cuiabana, como por exemplo entre o Espaço Cubo e o Espaço das Tribus, e todas essas litigâncias são expostas em blogs por todos os lados. Muito se diz sobre o trabalho do Cubo ser totalizante e opressivo, sobre Capilé ser - na verdade - o Cérebro, aquele ratinho branco que todo dia vai "tentar dominar o mundo", sobre os outros participantes do Cubo terem sido submetidos à lavagens cerebrais e outras sandices parecidas. Pelo que vejo daqui do lado de cá do cerrado, o Espaço Cubo incomoda muito por ser organizado e por ocupar espaços que estão em aberto, soltos, largados e passíveis de uso positivo.
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Sim, Capilé é um trator na sua forma de fazer, isso pode ser dito. É um sujeito que possui uma determinação que beira - e reforço o "beira" - o fanatismo em suas crenças, mas me digam quem não é assim quando defende um ideal de vida? E obviamente isso incomoda muita gente, em resumo todos aqueles que não compactuam da mesma visão ou que se sentem alijados do processo produtivo que o rock independente vem gerando. Mas estar dentro ou fora é uma opção.
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Enfim, pela leitura da ata mencionada lá em cima desse texto, o que podemos ver é uma nova sistematização de ordem para condução da cena rock da região, com comissões e plenárias, com responsáveis e responsabilidades, com datas e prazos, e aí surge a pergunta do título: é esse o melhor caminho?
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Em Goiânia a cena se desenvolveu sem uma força que buscasse a unidade como o Cubo faz por lá. Temos selos e produtores e bandas que cresceram e apareceram, mas que nunca buscaram realizar esse trabalho de união que vemos em Cuiabá. E por isso a minha dúvida; será que esse é o melhor caminho? De forma preguiçosa podemos responder que "o tempo vai nos dizer quem estava mais certo", mas infelizmente o tempo é um pai cruel, porque devora seus filhos, e eu não quero esperar. Não quero também discutir a cena cuiabana, porque não moro lá, não conheço as dificuldades deles à fundo, não sofro nem ganho pelo que lá acontece, e seria no mínimo leviano da minha parte ficar dando pitaco na vida dos outros. Quero discutir Goiânia.
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Será esse o caminho? A organização de uma unidade política estruturada que possa representar o meio rocker e proporcionar conquistas e visibilidade para a cena? Tenho por princípio não ser muito otimista, isso é verdade, e por isso já antecipo que muitos na cidade das mulheres bonitas não iam querer participar de nada que soasse "organizado" ou "político", por crenças pessoais que não me interessam. Outros talvez se decidissem pelo sim ou pelo não de acordo com as pessoas que encabeçassem a iniciativa, por exemplo sei de gente que nunca se aproximaria disso se eu fosse um dos responsáveis, simplesmente por me achar desprezível, reacionário, marketeiro do demônio e filhadaputa. Só por isso!
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Ainda acredito piamente que os caminhos são milhões e que são plenos de frutos para todos. O caminho underground, o mainstream, o independente, o alternativo, todos oferecem gratificação a quem acredita neles, e um necessariamente não neutraliza o outro. Mas ainda assim as reações esperadas são sempre exageradas, porque temperadas com paixão e um "quê" de adolescência.
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Fica então a pergunta aos goianos (e quem quiser palpitar, sinta-se à vontade, de qualquer lugar) sobre essa organização. Não seria isso o que falta para termos uma cena mais coesa e com resultados mais visíveis? Já antecipo também gente me empulhando perguntando "mas o que você quer dizer com resultados mais visíveis?" e respondo que os resultados vísiveis - na minha opinião - são basicamente o retorno sobre o investimento. Então quem dedicar tempo, que tenha algum retorno sobre isso, seja financeiro, seja satisfação, seja reconhecimento, enfim cada um sabe de si.
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Se ao menos uma discussão surgisse, poderia ser o começo de um caminho. Cuiabá e Goiânia possuem cenas diferentes, com especificidades e particularidades próprias, mas a iniciativa do VOLUME é uma luz muito forte para fingir não ver. Se é a saída de um túnel ou um trem na contramão, isso nossos esforços vão traduzir.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Jack Daniel's na ROCKLIFE



"OURO LÍQUIDO COM SABOR DE ROCK'N ROLL - Sua cor dourada, intensa, é inconfundível. Seu sabor encorpado e redondo é inesquecível. E sua companhia é par perfeito para uma session de muito som rolando nas caixas."

Assim começa o belo texto do Jotta Santana na atual edição da Rocklife. Já foi uma surpresa deliciosa encontrar essa revista - que eu confesso que desconhecia - e ainda mais com uma generosa versão on line, que apresenta até mesmo os anúncios da revista!!
A sensação é de realmente estar virando as páginas da publicação, e isso é muito legal, já que em tempos de grana curta, a distribuição de uma revista é uma arte arriscada, perdida e nem sempre de retorno.

Pois então, a Rocklife traz essa matéria com toda a história dessa preciosidade engarrafada que é o bourbon favorito de "nove entre dez roqueiros" (ALARME ANTI-CLICHÊ dispara!!). Vale a visita pela matéria, um texto encorpado e saboroso, mas pelo resto de toda a revista também. Matéria com os meus amigaços do Madame Saatan, Demosul, 20 anos sem Cliff Burton (e se você não sabe quem é ele, volte agora aos estudos rock'n rollísticos, moleque!), Thin Lizzy e muita coisa nova também, como Dead Fish e Revolucionnários.

O endereço é direto pra matéria do Jack é o http://www.rocklife.com.br/reivstadigital/24.htm e o restante da revista está ao lado da tela. Divirta-se, porque o material é de primeira.

Bom demais ver gente fazendo trabalhos tão bons! Parabéns equipe Rocklife!

Há braços!


Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Soninha "Fora do Eixo"?


Pois é. Sim, é isso mesmo! Essa sorridente jovem-senhora aí da foto, ex-Vj da Mtv, parlamentar eleita, atualmente comentarista esportiva foi mais uma a se valer do termo e do conceito por trás do "Fora do Eixo".
Isso é bom?
Claro que sim! Na hora que o termo "Fora do Eixo" passa a designar situações que fogem ao eixo central, rico, bem nutrido, poderozzo, então é sinal de que o conceito é realmente forte. E como diz meu amigo Rodolfo, "o conceito é tudo!".
"Fora do Eixo" passa a ser então um "Bombril" ou uma "Gilette", um conceito tão forte que expressa toda uma idéia em um só termo.
Isso é fantástico! Reforça ainda mais o acerto de nossas iniciativas, a certeza de nossas futuras conquistas e a solidez das atuais.
Em seu blog, que está no http://blogdasoninha.folha.blog.uol.com.br/, Soninha escreveu sobre a conquista do Internacional no Japão. E pespegou o rótulo, entre aspas - o que aumenta a consistência, na minha opinião - de "fora do eixo" ao Inter. Eis o trecho:
Grande Internacional, que conseguiu impedir o Barça de conquistar um título inédito... Grandes Abel, Fernandão, Pato, Ceará, Iarley, Luis Adriano, Índio, Fabiano Eller, Adriano, Clemer e todos os demais... (Até o Rubens Cardoso, finalmente, foi bem-afortunado: é campeão do mundo!) Que bom para o futebol do Brasil ter um time “fora do eixo” fazendo esse bonito papel. Um time que se planejou a curto e médio prazo; que não fez da derrota no estadual, por exemplo, o motivo para um desmantelamento; que procura tratar a torcida como se deve. Isso é que é vitória merecida.

Muito bom! Eu gostei muito! E você? Diz aí o que achou!

Há braços!

Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Diferença Diferente





Realmente eu não sei por quê. Mas aos seis anos de idade minha mãe me fez essa tatuagem. Bem, fez não, mandou fazer. Me levou ao tatuador, me sedou e quando eu acordei tinha o braço direito todo tatuado. Lembro que doeu muito nos dias seguintes, e eu não podia passar a mão e nem sequer tomar banho direito. Ficou muito inchado, por muito tempo. E quer saber? Eu nunca tive muita certeza sobre quem era mais maluco, se minha mãe ou o tatuador. Porque fazer um tatoo num guri de seis anos é maluquice. Não é?

Na escola foi difícil demais, todos os moleques queriam ver, perguntar, entender. Como? Nem eu entendia. Me sentia excluído, porque eu era muito diferente. Qual outro guri de seis anos de idade que você conhece com o braço direito todo tatuado?

Tive que mudar de colégio várias vezes, porque os professores estranhavam, os funcionários estranhavam, os pais estranhavam e normalmente nesse momento eu estava causando muita movimentação, e logo minha transferência estava pronta.

Com o tempo eu aprendi a esconder minhas tatoos, e deixá-las à mostra só quando me interessava. Usava mangas compridas, máscaras de queimadura, usava o braço numa tipóia dentro da camisa. O mais doido foi que eu comecei a gostar de ser diferente, acho que eu percebi que não tinha escolha e aí foi fácil ficar inventando formas criativas de esconder meu braço pintado.

Eu passava dias bolando novas idéias de como não mostrar o braço, e isso me divertia montes. Quando eu queria ser respeitado, mostrava o braço e logo tinha um par de olhos esbugalhados em mim. Se eu queria impressionar de verdade, aí eu tirava a camisa.

Eu gostava muito de ir aos shows de rock que havia na minha cidade. Naquele tempo, minha cidade era conhecida por ser um centro mundial de rock, coisa de lugar grande, sem ser lugar grande. Legal isso, né? E nos shows, quando eu tirava a camisa, isso causava um auê danado. Claro que isso era mais chocante porque nessa época, eu só tinha dez anos. E um moleque de dez anos com o braço direito todo tatuado era algo que não se via muito mesmo.

Com o tempo e o meu crescimento, as tatuagens começaram a borrar, a ficar esticadas, como um fax que você puxa antes da hora. E eu pensei em fazer os contornos, ficar tipo uma obra de arte moderna, mas minha mãe não deixou. Isso foi bom, porque hoje eu tenho nojo desse troço que chamam de arte contemporânea. E eu fui vendo elas se esticarem lentamente.

Por causa das tatoos, eu acabei convivendo sempre com gente mais velha, e aí eu sempre era o caçula dos grupos que eu me metia. Gente da minha idade, normalmente tinha medo de mim.

O que eram? Tribais, todas. Como os maoris, sabe? Coisa de guerreiro mesmo. Cobrindo todo meu braço direito. É bem verdade que as originais, que foram feitas aos seis anos de idade, essas quase não são visíveis mais, porque esticaram tanto que perderam a cor, e depois dos dezoito anos, minha mãe me deixou fazer novas tatoos. Eu tenho fotos das originais, e quando eu mostro as fotos todo mundo arrepia: “Úia o braço do moleque!!! Carai!!”

Por que ela não me deixou fazer outras tatoo antes dos dezoito? Sei não. Mas eu não reclamava, porque minha mãe, mesmo sendo meio maluca, era uma grande mãe. Trabalhadora, esforçada e muito carinhosa. Não me lembro de momentos com ela que não foram legais e divertidos, e naquele tempo tudo que me fazia falta era carinho. Eu era sempre o diferente, então as pessoas não se permitem muita proximidade de um diferente, mas minha mãe me supria de carinho, ternura, calor, essas coisas que realmente te fazem sentir gente, sem ter que se explicar ou justificar nada. Só ser o que você é. Minha mãe me permitia isso, ser eu mesmo. Não era um monte de tatoos, era uma pessoa amada.

Não, meu pai eu nunca conheci, não sei quem é ou quem foi. Deixa pra lá!

Depois que eu cresci, talvez as tatuagens não fizessem muita diferença, numa cidade estranha, mas na nossa cidade todo mundo sabia que eu era o “guri tatuado”. Me tornei tal como um personagem típico da cidade.

As tatoos nunca me impediram de nada, eu estudei, namorei, dancei, fiz sexo, acho até que fiz muito mais sexo por causa das tatoos.

Eu era respeitado por elas.

É bem verdade que as tatuagens maori eram feitas principalmente no rosto, mas as que foram feitas no meu braço seguiam as mesmas linhas. E quando eu descobri que essas tatuagens eram feitas somente em grandes guerreiros ou membros da nobreza maori, aí eu realmente me senti um privilegiado. Isso fez um bem danado para minha auto-estima, porque eu simbolizava um guerreiro, e qual guria não queria andar com um poderoso guerreiro nobre?

Lembro que eu nem me metia em brigas na escola, porque as pessoas sabiam que eu tinha atravessado horas de tatuagem aos seis anos, o que eu não podia agüentar depois disso? Corajoso ou louco, eu não era alguém para ser provocado.

Meu acidente? Que acidente? Ah, não! Isso é de nascença, eu nasci sem o olho e a orelha direita. Nunca senti falta, acho que até meus cinco, seis anos de idade, antes das tatoos; alguns moleques pegavam no meu pé, mas depois de eu ter surgido coberto de tribais no braço direito, ninguém ligava de eu ter somente um olho e uma orelha.

É verdade.... agora me lembrando eu vejo que pararam de encher minha paciência pela questão do olho e da orelha depois que fiz minhas tatoos.

Mas, realmente, até hoje não sei por que minha mãe mandou me tatuar...

Vai entender.
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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quarta-feira, 13 de dezembro de 2006



Retirado do www.cartamaior.com.br, site da Agência Carta Maior.

Concordo e assino.

Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

eduardoinimigo@gmail.com

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Morre o canalha Pinochet. E que dia!!!


Trata-se realmente de uma grande ironia, daquelas cínicas e safadas que só nos apronta a história, essa velha insana que junta retalhos e joga fora agendas cheias.
Pois vejam que no dia que finalmente morre um dos piores espécimes da raça, essa avacalhação chamada Pinochet, a história - ou o destino, dirão alguns - nos apronta mais uma.
A morte, afinal, do monstro chileno Augusto Pinochet - que morreu livre e milionário com dinheiro sujo e corrupto - no dia internacional dos Direitos Humanos beira o deboche.

Durma-se com um bagulho desses.


Registrar também o falecimento no sábado, vítima de leucemia, do grande Marcão, proprietário de casas famosas e tradicionais em Goiânia como Honky Tonky e Oroboros. Cara, o céu deve estar numa farra louca uma hora dessas. Vai na paz, Marcão!

Há braços!

Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

DEAD ROCKS barbariza no Jô!!


THE DEAD ROCKS NO PROGRAMA DO JÔ
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Você pode detestar o Jô Soares e sua mania de falar mais que os entrevistados, ou achar aquele bongô dele uma tremenda empulhação, mas nessa sexta você tem um puta bom motivo pra assistir o programa do farto-horizontalmente (porque "gordo" é politicamente incorreto!): DEAD ROCKS!!
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Sim, é isso mesmo! Os alucinados da melhor banda de surf music do mundo (na minha opinião, e como o blog é meu, então é LEI! hahahaha)!!! DEAD ROCKS, que além de serem entrevistados pelo vasto-lateralmente (e O Inimigo do rei entrevistou o Dead Rocks antes!!! hahahahahaha Furei o olho do balofo!!! Pronto falei!), vão também tocar "Beach´s Bitch". Precisa traduzir? hehehe
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Vai passar na Rede Lobo, nessa sexta, dia 08 de dezembro, naquele horário que você já sabe. Todo mundo sabe.
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Divirtam-se, afastem os móveis e deixem Marky, Jonhy e meu chapa Billie te entortarem a espinha!!Boa festa!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Dança, desgraçada!

Sim, é isso mesmo, escassos leitores, a Câmara dos Deputados serviu ao país, na noite desta quarta, a derradeira fatia da pizza do mensalão. Os deputados livraram da guilhotina José “4,1 milhões” Janene (PP-PR). Era o último mensaleiro que ainda aguardava na fila da guilhotina.
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Ficamos assim: eram 19 os congressistas pilhados com a boca na botija valeriana. Só três deputados tiveram os mandatos passados na lâmina: Roberto Jefferson (PTB-RJ), José Dirceu (PT-SP) e Pedro Corrêa (PP-PE). Outros quadro driblaram a guilhotina pela via da renúncia. E doze foram absolvidos pelo corporativismo da Câmara.
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Essa imagem dançarina da Ângela "Macarena" Guadagnin é tudo que nos resta na memória e na pouca vergonha na cara que temos. Um povo que toma tanta pancanda, que é ridicularizado dessa forma, que se espreme em aeroportos graças à inépcia dos governantes, e se limita a colocar um singelo nariz de palhaço ao invés de tocar o terror... realmente merece dançarinas desse quilate.
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Me lembro de uma greve na Universidade Católica, em que as negociações não avançavam e a reitoria estava visivelmente ridicularizando nossas demandas, um maluco da arquitetura se levantou no meio da assembléia e urrou "Isso acontece porque somos uns bundões. Se fosse na Coréia, o mais frouxo daqui já tinha se banhado em gasolina e tocado fogo no corpo, na porta da reitoria!". Todo mundo aplaudiu, ele se sentou e ninguém tocou fogo em nada. Não, me enganei, acho que ele acendeu um cigarro.
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Povo bunda!
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A imagem dançarina e a primeira parte do texto foram retirados do Blog do Josias, no http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

GAROTOS PODRES em quadrinhos



Por Marcus Ramone (01/12/06)

A clássica banda de punk rock Garotos Podres é a grande atração da nova edição da Quadrinhópole.
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O especial natalino da revista curitibana traz, além de um histórico do grupo, a quadrinização de Papai Noel Filho da Puta, uma das mais viscerais músicas dos roqueiros paulistas, e cujo adjetivo de baixo calão foi sutilmente mudado para "velho batuta" no disco de estréia, graças à malfadada censura que reinou no Brasil até meados dos anos 1980.
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A versão em quadrinhos foi roteirizada por Leonardo Melo e desenhada por Joelson Souza. Os Garotos Podres promoverão a Quadrinhópole em um show a ser realizado em Curitiba no próximo dia 16 de dezembro, durante um festival de rock. As primeiras 300 pessoas que comprarem ingressos ganharão um exemplar da revista.
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Completam a edição mais três histórias em quadrinhos: Undeadman: Maldição Perpétua (Parte 1 de 4), de Leonardo Melo e André Caliman; Inversão, por Abs Moraes (roteiro) e Jean Okada (arte); e Insanidade (Parte 1 de 4), com textos de Leonardo Melo e desenhos de Isaac Santos. A capa é assinada por Antônio Éder.
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Quadrinhópole #2 tem 32 páginas em preto-e-branco e papel couché, ao preço de R$ 3,00.
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Acesse o site oficial da publicação para mais informações sobre como adquirir a revista, ler o preview da edição e saber detalhes sobre o show dos Garotos Podres.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Receita infalível de planejamento familiar


Essa placa é do SESI de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Realmente a objetividade das instituições de apoio à população chegou a um patamar de clareza quase brutal.
Vai entender...

Há braços!

Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

O tsunami passou. Agora é construir um horizonte novo!



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Hoje em dia todo mundo sabe o que é um tsunami, assim fica mais fácil fazer uma alegoria. O negócio é uma onda grande demais e que faz um monte de estragos quando invade a terra, arrastando tudo que passa e derrubando tudo que encosta. A primeira reação (imagino) de quem enfrenta uma tromba d’água dessas é o desespero de ver aquele monturo de água chegando desembestado. Depois que passa e detona tudo, a sensação que vem é de alívio: “Ufa! Já passou!”. Mas isso é uma latada, porque nem toda a água que invade os territórios planos fica por lá, um monte de água retorna para o oceano, e guardadas as proporções é como se fosse uma ressaca do tsunami. Água que foi, água que volta. Simples assim.
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Pois hoje podemos olhar pra trás e ver que o tsunami passou. Começou com a antecipação da porrada, e aí foram tempos e tempos de preparação, negociações, verificações, agendas, horários, planos, credenciais, favores pedidos, favores atendidos, favores negados, tudo pra chegar na sexta feira e descer lenha. Aí então foram três dias de rock intenso, muita gente de fora, correria, muita gente trabalhando feito doido, expectativa nas alturas, stress, tensão, cansaço (ô rampa maldita!!), cachaça, sono e a expectativa de sobreviver a tudo isso.
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Sobrevivemos. Olhamos pra trás e vemos que a terra devastada nem estragou tanto assim, as pessoas começam a mostrar a cabeça pra fora das tocas, o sol brilha tímido e surge aquele jeitão de que tudo vai voltar ao normal. E aí reside a impossibilidade. Nunca mais vai voltar a ser o que um dia foi, o que era.
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O 12º Goiânia Noise Festival cindiu os tempos do rock independente, goiano ou não. Sim, foi um divisor de águas, pela ousadia, pelo atrevimento, pela concepção e pela competência. Agora que passou o turbilhão, as coisas precisam ser realinhadas, e tendo esse referencial de ação feita, tendo esse referencial de festival grande.
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Essa é a primeira coisa que não pode voltar a ser como era: o Noise assumiu-se grande. Como bem analisou meu amigo André Alemão, o Noise rompeu de vez com o underground, e antes que pareça que eu digo isso com mágoa ou revolta, ou até mesmo alguma ponta de crítica ou cinismo, não faço julgamento de valores aqui, mas apenas uma constatação. O Noise vai continuar vinculado ao rock independente, claro, isso não se questiona. Mas que ninguém imagine novamente ver o Noise associado ao termo underground, porque ele não é. Acredito eu que já a algum tempo não queria mais essa associação, mas não conseguia decolar por motivos os mais variados e diversos possíveis, que nem me cabe apontar.
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Dessa vez ele decolou, em grande estilo e elegância, e o que é melhor; com sustentabilidade. Não acredito no Noise menor no ano que vem. No 13º festival, com seu número místico, o festival vai, no mínimo, se manter nessa estatura. Isso porque as parcerias feitas foram muito valorizadas em todos os momentos, mesmo incomodando puristas, idealistas ou clientes de outras lojas de eletros, o nome da empresa patrocinadora foi valorizadíssimo por todo o evento, fosse nas projeções em todas as paredes possíveis (dentro e fora do teatro), fosse nas apresentações das bandas antes dos shows, fosse em todo o material de mídia do evento.
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A proximidade com o poder público foi feita com cuidado e sutileza, revelando uma cara do rock que o poder público não conhecia. As bandas e produtores de fora exaltavam a todo instante a qualidade técnica do evento e o cuidado humanizado com que todos foram tratados. Tudo prova de que agora só se anda pra frente, no contínuo que foi feito nesses doze anos de eventos, o Noise agora deu outro salto e não consegue voltar mais. E alguém acha que isso tudo é alguma surpresa?
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Os Monstros já mostraram tino comercial e vontade de fazer esse negócio render, e por isso já tomaram pedradas aos montes, algumas até muito coerentes é preciso que se registre. Mas o 12º (esse número ainda vai virar símbolo!) mostrou o tamanho do profissionalismo de quatro caras, conduzindo um evento dessa magnitude com perfeição. Falhas houveram, claro, e algumas falhas bem bobinhas e que não precisavam acontecer, mas no geral o festival foi um sucesso.
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Esse foi o tsunami que passou. Respiramos aliviados porque novamente sentimos o pé no chão, voltamos à Matrix normal dos nossos cotidianos burocráticos e agora a pergunta já surgiu no orkut: o que acontece agora depois do Noise?
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De imediato, nada vai se perceber de diferente. O impacto ainda é recente. Mas no médio prazo as mudanças vão surgir. Isso porque o Noise criou uma categoria em GoiâniaTown que não existia, a do Festival Grande. Bananada, Marmelada, Vaca Amarela, para não falar em outros mais novos, agora todos foram colocados na categoria de Festivais Médios. Festivais que acontecem no Martim Cererê, por exemplo, e que são importantes demais para a cena rock, que são fundamentais para a cidade continuar parindo bandas e formando público.
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E além disso, essa segmentação finalmente realizada dá nova força aos Festivais pequenos ou shows regulares e constantes que existem na cidade. Não são todos os festivais que conseguem ser grandes como o Noise, e o melhor disso tudo, não são todos os festivais que querem ser grandes como o Noise. Muitos festivais querem continuar menores, toscos ou não, seja por ideologia, seja por querer se diferenciar dos Monstros, seja para manter a autonomia independente de não precisar de um patrocinador ou o poder público.
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Eu já bati muito na tecla da profissionalização dos eventos, mas agora com essa segmentação definida, tudo fica claro. Os festivais que se quiserem grandes tem um parâmetro de comparação agora, e que persigam esse nível de excelência, se possível para superá-lo. Os festivais médios já possuem seu know-how estabelecido, e tendem a seguir suas vocações, com alguns preferindo optar pela espontaneidade e liberdade criativa naturalmente associadas à falta de parceiros grandes. E outros festivais médios vão buscar se organizar melhor, ser uma vitrine mais iluminada para aquelas bandas que procuram essa visualização. Então teremos a diferenciação entre um Vaca Amarela e um festival no DCE. Tranqüilo, porque possuem públicos os dois e porque podem seguir seus caminhos sem preocupações de comparações indevidas.
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E que maravilha que existam, e sempre vão existir, os eventos menores (em tamanho, não menores em importância!) como o Capim Pub, a Ambiente, a Horda, o Porão, os shows no República porque também para estes eventos o público existe aos montes na cidade, quiçá na região. E novamente cada um vai poder seguir sua vocação.
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O 12º Goiânia Noise mostrou que os festivais e eventos podem ser distintos, sem ser separados. Podem ter orientações e opções estéticas e políticas antagônicas, mas ressaltando que antagônicos são os projetos e não quem os projeta. Nunca tivemos tão próximos da real união da cena, agora que sabemos que os diferentes poderão ser tratados com suas diferenças, de forma diferente.
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Posso estar soando idealista e sonhador novamente, e isso pode até ser efeito do fim de semana imerso em rock e gente legal, mas acredito firmemente que agora temos o parâmetro necessário para cada um trabalhar em paz. Do jeito que quiser, porque todo mundo agora sabe o que é o tamanho grande, o médio e o pequeno, e todo mundo sabe que eles são alternadamente base/sustentação e também adereço/cobertura de uma cena que se constrói de forma esquizofrênica, mas forte.
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Agora finalmente chegou a hora de sonhar com outra categoria de evento que se faz necessária. Agora Goiânia pode sonhar com um verdadeiro festival de rock, numa fazenda afastada, em que as pessoas possam acampar e passar o fim de semana inteiro em união com outros lokis semelhantes e o rock. Um festival que traga saudosas lembranças de tudo que ouvimos de um evento que mudou o mundo. Um festival – que torço para que alguém realize, porque eu não sou produtor – que possa mostrar para todos que a tradição rural de Goiânia pode abrigar o rock independente em seu pasto, debaixo de suas árvores, revirando bosta de vaca depois da chuva, tomando banho de chuva ou nadando no “córgo”.
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Entramos na quinta série. Agora tudo vai ser diferente, gostem ou não, “duella a quien duella”, como diria o bufão alagoano.
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O tsunami passou, e nas terras encharcadas veremos nascer muitos jardins.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Banda paulista é finalista de concurso mundial da BBC

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da BBC Brasil
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A banda Sweet Cherry Furry, de Santos (SP), foi selecionada como uma das sete finalistas do concurso Generation Next, promovido pelo Serviço Mundial da BBC.
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O grupo é formado pela vocalista Marcella Marinelli, os guitarristas Guilherme Santos Peres e Marina Ginde, a baixista Mariana Serafim, a baterista Mariana Salomão e a tecladista Isabela Corrêa Ferro. Eles inscreveram a canção Cold Blonde Body.
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"O grupo vem tocando regularmente no Estado de São Paulo desde 2004", diz Guilherme. "Nós valorizamos a diversão despretensiosa. Somos influenciados por bandas como Sahara Hotnights e New Order", continua.
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Em Londres
A competição tem o objetivo de revelar novos talentos da música e contou com a participação de mais de mil bandas e artistas de vários países. Além do grupo brasileiro, as outras seis bandas escolhidas para a etapa final da competição são MLK (EUA), Stefan (Grã-Bretanha), Serpatin (Sibéria, Rússia), Mishkini (Gana), Skagz (Grã-Bretanha) e NIC (Malaui). As únicas regras estabelecidas pela organização eram que os integrantes deveriam ter 18 anos ou menos e entrar na competição com músicas originais.
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Entre os 22 jurados, estão três brasileiros --o cantor Ed Motta, o mutante Sérgio Dias e o editor da revista Bizz, Ricardo Alexandre.
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Eles vão escolher três bandas que receberão como prêmio uma viagem a Londres no início de dezembro para gravar suas músicas ao vivo em um estúdio da BBC.O programa deve ser transmitido pelo Serviço Mundial da BBC entre os dias nove e dez de dezembro.
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Bateristas fazem megaencontro no ABC em busca do recorde mundial


da Folha Online
No dia 3 de dezembro, acontece mais uma edição do Bateras 100% Brasil, evento que busca o recorde de bateristas tocando juntos. O megaencontro acontecerá no Paço Municipal de Santo André, às 12h30, e terá participação dos guitarristas Wander Taffo e Luis Carlini.
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O evento teve sua primeira edição no festival Porão do Rock de 2000, em Brasília, com 64 músicos. A meta é aumentar gradativamente o número de participantes até chegar ao Guinness, o livro dos recordes. A reunião brasileira já detém o recorde sul-americano, conquistado em 2002 em Brasília, com 88 bateristas.
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A marca mundial é de 264 bateristas, que se reuniram no aeroporto de Washington (EUA) sob o comando do maestro da Orquestra Sinfônica de Seattle. O recorde foi obtido em 3 de março de 2003.
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Idealizado e coordenado pelo baterista Dino Verdade, o projeto está recebendo inscrições de interessados. Para participar, o baterista deve se inscrever nas lojas Reference de Santo André (0/xx/11 4992-5243) e de São Bernardo do Campo (0/xx/11 4337-2112) e no Instituto Bateria Beat, em São Paulo (r. João Moura, 993, tel. 0/xx/11 3898-1949). A taxa de inscrição é de R$ 15.
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No dia da apresentação, cada participante deverá levar sua bateria (equipamento completo sem ton-ton, um prato e tapete). Serão executados trechos de composições, entre elas "We Will Rock You", do Queen. Haverá dois ensaios, no parque central de Santo André (dia 25 de novembro, às 15h) e no local da apresentação (dia 2 de dezembro, às 15h).
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Cada baterista ganhará um prato splash, um par de baquetas, uma camiseta em um certificado de participação.
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No evento será sorteada uma bateria e dois pares de tênis.
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segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Fim de semana de excessos

Esse fim de semana fui para fazenda. Ali, na cidade de Anicuns, residência de pessoas de muita importância e generosidade hospitaleira. Fim de semana em fazenda possui fatos típicos e corriqueiros nessa situação, como por exemplo, comer demais.
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Como se come em fazenda, não? Não sei se todo mundo come do mesmo tanto ou somente os urbanóides que se perdem no ambiente rural e estranham tanto silêncio nas noites, tanto céu nos dias e tanto oxigênio limpo o tempo inteiro. E isso dá uma fome dos diabos.
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No sábado me dirigi para lá (uns cento e poucos kilômetros) por volta das onze horas da manhã. Dia quente, acordei tarde graças ao silêncio incomum da minha vizinha do andar debaixo (ela adora ouvir seus hinos numa altura que soa quase indecente para aquele tipo de música) e resolvi não comer nada, deixaria para comer somente na fazenda. Peguei estrada, fui com calma, trânsito tranqüilo, cheguei lá por volta de depois das doze um pouco. Fome, muita fome.
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E para minha satisfação e júbilo o almoço seria rabada. Cabe explicar que eu gosto muito de comer, é um dos maiores e melhores prazeres que possuo na vida, agora rabada e feijoada são prazeres quase cósmicos, cármicos, telúricos e todos os adjetivos trissílabos que você quiser escolher. Eu adoro essas comidas, e logo na seqüência um bom Caruru, uma moqueca chegada na pimenta ou uma churrascada brutal. Me atraquei com a rabada, divinamente preparada, e devorei algumas dezenas de lascas de rabo de boi. Uma atitude quase suicida, reconheço, porque ao final eu me sentia uma jibóia que engolira um circo inteiro. Lembrando que a rabada desceu saborosa e macia porque fartamente acompanhada de gelada cerveja.
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No domingo outro presente: arroz com suã. Para os que não conhecem, a suã é a espinha do porco, com toda a carne pregada no osso e o tutano que dali mina forte que você puder imaginar. O arroz fica com aquela cor morena que estimula o desejo e algumas pimentas bode semeadas displicentemente fazem esse prato ser uma experiência marcante. E para piorar meu estado glutão, ainda foram assados fartos pedaços de picanha e uma centena e meia de asinhas de frango bem temperadas. Comi asas de frango como se desejasse que a raça nunca mais saísse do chão. A pilha de ossos crescendo na minha frente, e cadê de eu me saciar?
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Mas o mais marcante e vibrante de todo o fim de semana não foi comível, mas sim bebível. O dono dessa fazenda generosa é proprietário de uma garrafa da famosíssima cachaça Anísio Santiago. Tem gente que não a conhece, e eu explico. Uma garrafa dessa cachaça, garrafa normal do tamanho de uma garrafa de cerveja, custa por volta de US $ 300,00. Isso mesmo que você leu, trezentos dólares! É artigo de finíssimo trato, tida e havida como a melhor cachaça do mundo, feita com canas da época do Brasil Império, armazenadas com os maiores requintes de cuidado, enfim... o sujeito generosamente resolve abrir a tal garrafa e me saudar com goles da cachaça dourada.
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Cabe comentar; eu gosto de cachaça. Aprecio o paladar forte, agressivo, o cheiro doce e a lembrança quente no arroto que sobe ao final de uma talagada certeira. Gosto e coleciono. Comecei uma – ainda – tímida, porém sincera, coleção de cachaça, trazida dos mais variados locais e origens. E não sou colecionador de manter guardadas minhas belezas, eu as consumo, principalmente quando alguém também apreciador de boa pinga se encontra por perto. Posso dizer então, que entendo um pouco de cachaça.
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Mas nada poderia ter me preparado para aquilo. E o clichê é o mais honesto possível. A cachaça era um beijo de deus, um sopro de fadas ardentes, um troço de outro planeta. Além de generosamente abrir a cachaça e brindar meu aniversário (dia 08 de novembro), ainda resolveu que iríamos consumir toda a garrafa naquela noite. E teríamos consumido certamente, porque em menos de alguns minutos já “meiávamos” a garrafa sem piedade nem acanhamento. Mas resolvi parar.
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Depois dos quartos ou quintos goles, a cachaça já não era mais saboreada como merecia, e eu resolvi que deveríamos fechar aquela deusa e nos dedicarmos a alguma outra mais modesta. Possuidor de excelente coleção também, foi fácil repor uma outra garrafa na mesa, e aí nos entregamos como devassos para a pinga.
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O dia seguinte foi suave e tranqüilo. Sem ressaca, sem amargor na boca ou na lembrança, sem arrependimento de nenhuma sorte. Foi inesquecível.
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Anísio Santiago, trezentos dólares que valem cada gota sorvida. Eu recomendo.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita
eduardoinimigo@gmail.com
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quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Mitocôndria Produtora de Idéias lança o GUIA GOIÂNIA ROCK CITY!


Por Geórgia Cynara
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A Mitocôndria Produtora de Idéias lança, dentro do 12ª Goiânia Noise Festival, o Guia Goiânia Rock City, um mapa contendo informações sobre os principais lugares ligados ao rock em Goiânia. Com pesquisa de Geórgia Cynara e Homero Henry, design de Orlando Lemos e colaboração de Eduardo Mesquita e Leonardo Santana, o guia vai informar aos públicos local e nacional os principais elos do circuito alternativo da capital goiana, enumerando empresas prestadoras de serviços e locais de entretenimento que se destacam nesse meio. O Guia Goiânia Rock City é uma realização da Mitocôndria Produtora de Idéias, com patrocínio da Monstro Discos, Inside, Studio K, Jump Alternative Club & Cyber, Redrum Underground Wear, Atitude Musical, Musik Hall, Estúdio Casa Velha, Hocus Pocus, Mute Cds e DVDs, Loop Estúdio, Fósforo Records, Alvo Discos, Studio Melody, Distorção Discos, Psicodelic, Vai Tomá no Kuka Bar, Harmonia Musical, Jander Tattoo, Revista Decibélica, Orlando e Gráfica Papillon, e apoio da Maquinária Produtora de Sons, Woodstock Bar, Studio INX e Anti Records.
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Vendido a um preço simbólico de 5 reais, o Guia Goiânia Rock City vai colaborar na valorização talentos e serviços locais diante de outros estados brasileiros e da própria capital goiana, criando oportunidades de profissionalização para artistas e prestadores de serviço; para o resgate e divulgação dos espaços esquecidos ou desconhecidos de Goiânia e a promoção da democratização da cultura goiana, mostrando facetas pouco conhecidas ou não divulgadas pela mídia local.
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Cadeia produtiva
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A Mitocôndria decidiu encarar o desafio e realizar esse mapeamento em razão da atual efervescência cultural alternativa observada em nossa capital. “Entendemos o rock não apenas como sendo um estilo musical, mas como uma vertente cultural marcada pela criatividade e pela ruptura com o tradicional; um movimento intenso e caótico em sua complexidade, responsável pela criação de novos estilos de pensar, se vestir, se divertir, se alimentar”, reflete Geórgia Cynara. “Queremos mostrar à nossa cidade, nosso estado e aos demais estados brasileiros a cadeia produtiva que envolve esse processo cultural em Goiânia – cadeia esta formada tanto por iniciativas já consagradas quanto por aquelas que caminham em busca da profissionalização”, completa.
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O Guia Goiânia Rock City contém a localização de espaços culturais, selos e produtoras, estúdios de ensaio e gravação, equipes de som, lojas de instrumentos musicais, bares, restaurantes, bistrôs, cinemas, sebos, livrarias, lojas de discos, estúdios de tatuagem, lojas de roupas, parques e museus, além de uma lista de telefones úteis a quem mora ou visita a cidade.
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Com o guia, a Mitocôndria Produtora de Idéias quer dar visibilidade a cada parte constituinte dessa cadeia, para que se inicie então um processo constante de melhoria da qualidade dos serviços e conservação do patrimônio e do espaço urbano de nossa capital. “Nesta primeira edição do guia trazemos informações de locais importantes para o rock na atualidade. Mas não vamos parar por aqui. Geórgia e eu já começamos uma pesquisa para a elaboração do segundo guia, que deve ser lançado em 2007”, anuncia Homero Henry.
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Serviço
Lançamento do Guia Goiânia Rock City
Data: 24, 25 e 26 de novembro – 12º Goiânia Noise Festival
Local: Centro Cultural Oscar Niemeyer
Preço: R$ 5,00
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Mais info: www.e-mitocondria.com.br / Geórgia Cynara: 62 9112-3393
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Agora é real!!! Parabéns à Mitocôndria pelo arrojo! Prazer estar perto de vocês!
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Há braços!
Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Nem Deus afunda o Circuito Decibélica!!

- É esse fim de semana! É esse fim de semana!!!
- Quieta com essa gritaria! Tá maluco??
- É que tá chegando a hora, aquele gordo miserável vai pagar!!
- Pedro, tu tá muito empolgado com essa vingançazinha porquêra que nós vamos fazer. Não é pra destruir o cara, só dar uma lição nele.
- E vamos mesmo, Senhor, dar uma lição. Dessa vez ele vai ver!
- É, dessa vez. Porque não adiantou nada tudo que já fizemos até agora. Ele continua desafiando e falando mal da gente.
- Mas o que já foi feito, Senhor?
- Putz, Pedro, tu deve ter comido peixe de menos na terra. Que memória ruim do cacete! Primeiro ele nasceu feio daquele tanto.
- É verdade. É feio.
- E ainda tiramos um pouco do juízo dele, o que fez com que ele quisesse ser ainda mais feio. Já viu o tanto de piercings que ele tem?
- Não passa em porta de banco de jeito nenhum. O homem é uma vitrine de ferragista.
- Hum.... rsrs. Vitrine de ferragista foi massa, Pedroca. Tu não é de todo perdido.
- Ôu, valeu, Senhor. Estamos aí!
- Pois bem, daí nós fizemos o cara ser gordo, mas muuuito gordo.
- Isso também não adiantou nada.
- Adiantar? Pôrra nenhuma, e o sacana ainda curtiu com isso. Passou a usar o apelido de “Porcão”. Miserável!
- Porcão é o que ele é mesmo, Senhor. Um porco grande.
- Putz, Pedro, essa foi triste. Quieta um pouco. Depois ferramos com o trabalho do cara, acabamos com a mamata.
- É... também não adiantou lhufas. Ele montou loja.
- Loja, bar, estúdio, casa de shows, uma coisa eu reconheço, o desgraçado é duro na queda.
- Ainda bem, com aquele tamanho, se caísse! Já pensou, Senhor?? Hahahahahaha
- Pedro, te controla. Dessa vez vai dar certo, ele juntou com uma cambada de gente... nem te conto.
- E quando vai rolar?
- Já começou. Aguarde os acontecimentos.
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Três dias depois. A Segunda Edição do Circuito Decibélica tinha rolado em Palmas. Porcão, Gustavo e Beto Decibélica à frente de tudo, muita correria, muito imprevisto, muito quase... mas o festival foi um sucesso. Doações aos montes, gente pulando, shows inesquecíveis, momentos marcantes nas memórias.
Na eternidade os dois maiorais se encontram novamente.
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- E aí? Deu certo?
- Nada. O tal Porcão continuou falando mal da igreja, usando desenhos profanos, cruzes invertidas, urrando aquilo que ele chama de música, xingando meus papas todos, o cara é um possesso. Acho que vou mandar um dilúvio naquela terra.
- Mas nada deu certo? O que o Senhor fez?
- Lasquei uma dengue em um dos tais “organizadores”. Cagava e deitava o dia inteiro. Achei que o gordinho não ia conseguir olhar pra fora do hotel.
- E ele conseguiu?
- Conseguiu? Ele foi pro show!! O maldito levantou e foi pro show!! Ainda ficou recolhendo assinaturas naquela revista dele, conversando com Eu e todo mundo. Não consegui derrubar o sujeito!
- Mas se foi só isso que o Senhor fez...
- Tá maluco, Pedro?? Tá maluco!!?? Que pôrra de só isso, rapá!? Arrumei um monte de confusão pra um baterista que ia tocar lá.
- E ele conseguiu ir, Senhor?
- Não.
- Aleluia! Então foi um sucesso!
- Foi merda! Arrumaram um outro doido batedor de tambor pra ir no lugar. Fiquei tranqüilo, porque como eles iam conseguir tocar juntos se nunca tinham ensaiado.
- Então o show foi um desastre?
- Desastre é outra banda. Mas o show foi um sucesso, e o tal espancador de tambor ainda foi elogiado por todo mundo. Pensa!
- Que coisa!
- E quem arrumou o batedor de bumbo foi o pulha que devia estar de cama ou de vaso, com dengue.
- Mesmo!?? Como ele fez??
- Adora telefone, esse descontrolado. Deve ter deitado com o telefone, porque ligou pra três bandas, mas no fim conseguiu resolver.
- E os caras foram pro show numa boa, sem problemas?
- Que nada! Detonei dois ônibus dos caras, fiz eles trocarem de condução três vezes, arrumei desconforto de todo jeito, até cheiro de queimado dentro do ônibus eu providenciei. Isso parou os malucos? Que nada! Ainda ligaram pro dengoso pra dizer que não iam, e o doido conseguiu convencer os caras a irem. Putaquipariu!!!
- Senhor!!
- Ah, não fode. Os caras são osso duro.
- É, depois disso eu também desistia.
- E quem desistiu, filisteu?? Tá maluco!? Pedro, eu ainda te racho a cara! Eu arrumei uma vereadora pra tentar fechar o boteco do tal Porcudo, mas a mulher virou motivo de chacota e de piada. E o tal do Porco ainda fez gracinha com o nome dela no show. Disse que o outro nome dela é “Vaca”. Todo mundo se acabou de rir.
- Mesmo?
- Até eu ri nessa hora, tenho que admitir. O sacana é engraçado mesmo, com aquela maquiagem ridícula na cara e falando de vilão de desenho animado.
- Mas Senhor...
- Tá, tá, já passou. Depois eu ia pegar uns outros de outra banda que já me desafiaram. Uma tal de SangueSuga, SempreSeco, sei lá esses nomes estranhos. Esses também me desafiaram.
- Como?
- Fizeram uma música boca suja falando de minhas partes íntimas, só porque não concordam com o que outras pessoas falaram que eu era. Nem tentaram me conhecer e já vieram esculhambando. Mas um deles não deixou isso acontecer mais, felizmente.
- Então não provocam mais.
- Não provocam?? O tal de vocalista, um sujeitinho feio, mal feito, metido a besta me desafiou num show deles dias desses. Tá no YouTube Pedro, ele me dizendo “Vai Deus, manda seu melhor golpe”. Êita que eu quase desci um raio na testa dele, e olha que não dava pra errar porque a testa do sujeito é gigantesca, mas me controlei. Babaquinha!
- E mandou uma dengue nele?
- Nah, tentei bagunçar com a garganta, mas o cabeludo com cara de assassino serial da banda descobriu uma pastilha que ajudou o porcaria. Isso porque eu tentei bagunçar o intestino do baixista Corumbá, mas ele também se recuperou.
- É, aí eu também desistia.

PAF!!!

- Ai, Senhor! Que foi?
- Pra parar de falar merda. Eu ia desistir, Pedro? EU IA DESISTIR?? Nunca!
- Mas...
- Ferrei o ônibus deles também.
- Então eles não conseguiram chegar.
- Humpf... conseguiram. Atrasaram uma hora mas nem ligaram. Estavam tão eufóricos com o show, que nem notaram atraso.
- Caraca.
- Depois eu atrasei o vôo de uma outra banda. Danifiquei os pratos do baterista fumante deles, um tiozinho gente boa. Mas nada adiantava, os caras parece que gostam muito desse tal de rock. E ainda falam que rock é coisa do diabo. Eu devo ter inventando essa trôlha e não me lembro, todo mundo adora!
- E aí?
- Hein?
- E aí, o que mais rolou?
- Ah, é verdade. Mandei mormaço abafado.
- Quiseram desistir?
- Nada, parece que lá é normal. Nem olhei o guia também. Mandei chuva.
- Aí eles pararam.
- Pararam merda. Até acharam bom, porque refrescou o clima. E lá veio o tal do Porcão xingar igreja, papa e o diabo.
- O diabo também?
- Não, figura de linguagem. Ninguém nem lembrou de diabo.
- Nem lembrou?
- Bão, teve uma banda lá com uma bandeira dum bodão meio diabólico, mas não entendi nada que eles falaram. Então nem sei...
- Ninguém lembrou do diabo?
- Não. Já falei que não, eles não falam de diabo. O tal feio que tá no YouTube fala de política, fala de assassinos, mortes, mas não fala de diabo. Tinha uns tiozinhos incansáveis também, do baterista fumante, Cólera, Raiva, um troço assim. Esses que não faziam lembrar do diabo mesmo, só falavam de reflexão, de melhorar o mundo, de salvar o verde, de...
- Senhor, tá percebendo alguma coisa?
- Ih, pior.
- Quanto custou pra entrar nesse show, Senhor?
- Leite. Três litros de leite.
- E esse povo bebe leite?
- Nada. Era pra doar para um Hospital de Câncer que tem... êita ferro!
- É...
- Os caras tavam fazendo um negócio do bem, Pedrão! E eu atrapalhando. Que latada!
- Pior, dessa vez a pisada quase foi feia. Ainda bem que os caras são meio teimosos, né?
- Teimosos? Putz, bota teimosia nisso. Pra organizar show de rock deve ter que ser muito teimoso mesmo, né Pedro?
- Não entendo muito, mas se for sempre assim. A gente implicando e eles indo em frente.
- Mermão, deixa esse Porco xingar a igreja, tem uns loucos lá mesmo. Ele deve até estar certo. Putz, quase que eu estrago um troço bom desses. Hospital do Câncer então, hein? Fiu...
- (Pedro vai saindo) Eu falo que ele faz merda também, mas acha que é infalível. Dá nisso.
- Pedro, eu estou te ouvindo, anta!

A Segunda Edição do Circuito Decibélica teve que enfrentar céus e terras, intempéries e imprevistos, problemas e doenças, e fui um festival ducaralho! Porcão falando mal da igreja daquele tanto ia acabar chamando atenção de alguém grande, mas agora tá tudo resolvido. O rock é do bem!
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Parabéns aos organizadores do evento! Às bandas que tocaram, especialmente o Cólera que deu aula do que é um show destruidor e furiozzo, com mensagens positivas e muita energia. Nós, do SANGUE SECO, já colocamos esse como um dos melhores shows da nossa curta existência. Inesquecível!
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Há braços para o povo de Palmas que fez a festa ficar ainda mais linda!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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sábado, 11 de novembro de 2006

Já realizou um sonho?

Fala sério, já realizou algum sonho? Tipo coisa que você pensa quando é guri e depois de adulto consegue fazer. Já?

Vai ser amanhã. Eu vou abrir o show para o Cólera. O SANGUE SECO vai abrir o show para o Cólera.

Como eu disse uns posts abaixo, eu conheci Cólera num aniversário, e vi que aquilo era o que eu queria ouvir o resto da vida. E agora eu estou numa banda e vou tocar com o Cólera. Vai ser amanhã.

Estou contando os minutos.

Depois eu conto como foi.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Novo CD do Carbona encartado na OutraCoisa

Deu na Dynamite On Line - www.dynamite.com.br - 09/11/2006 horário: 00:08:45

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A banda carioca Carbona acaba de lançar seu novo álbum, intitulado “Apuros em Cingapura”.
O disco está encartado na nova edição da revista Outracoisa. Já lançaram discos dessa mesma maneira nomes como Cachorro Grande, Cascadura, Arnaldo Baptista, Plebe Rude, Rogério Skylab e Lobão.
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Agora é correr pra banca, comprar a revista e preparar para o show do Carbona no Goiânia Noise! Iêba!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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Rock vira curso superior em universidade gaúcha .

Essa saiu na Folha de São Paulo. Notícias boas vindas dos pampas! É Frank Jorge fazendo história. De novo.
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10/11/2006 - 05h30
DIÓGENES MUNIZ
RICARDO PIERI da Folha Online
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Em um filme de 2003, o ator norte-americano Jack Black ministrou aulas de rock'n'roll a uma turma primária. A idéia meio absurda que levou Richard Linklater a filmar "Escola do Rock" (School of Rock) ganhou contornos na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), no Rio Grande do Sul.
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Em março de 2007, uma sala com cerca de 40 alunos inaugura o ano letivo de Formação de Músicos e Produtores de Rock. Dois anos e seis meses depois estará graduada a primeira turma de roqueiros por formação acadêmica do Brasil. As inscrições para o vestibular da Unisinos estão abertas até 29 de novembro e podem ser feitas apenas pela internet. O site da universidade diz que "as provas vão rolar no dia 2 de dezembro".
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Para o idealizador e futuro coordenador do curso, o roqueiro gaúcho Frank Jorge, 40, (ex-Cascavelletes, ex-Graforréia Xilarmônica, ex-Cowboys Espirituais) a proposta não é enquadrar o rock, nem banalizar a academia. "Acho que não tem possibilidade do curso parecer careta. Não queremos enquadrar o rock", diz. Formado em Letras, ele também pretende dar aula de História do Rock.A graduação, que não possui registro no MEC, será dividida em quatro módulos: "Construção de referências musicais", "Identidade musical e elaboração de repertório", "Produção musical" e "Preparação da carreira". Os alunos terão aulas como Direito autoral, Desenvolvimento da carreira musical e Laboratório de rock --este último em parceria com estúdios. O curso ainda vai compartilhar 20% de seu currículo com outras salas da Unisinos, como de Antropologia e Ética.
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O incentivo para Jorge pensar na graduação veio em maio deste ano, de uma provocação do poeta Fabricio Carpinejar, coordenador de Formação de Escritores e Agentes Literários na Unisinos. "Ele lembrou que a universidade não tinha curso de música", diz. O roqueiro gaúcho pensou então em uma graduação que gostaria de ter feito há 20 anos atrás, quando começava sua trajetória musical. "No início, pareceu um negócio meio maluco. Mas não estou preocupado em formar grandes expoentes do rock nacional, mas pessoas que vão adquirir conteúdo. O cara vai ter que entender, por exemplo, da tropicália e seu rompimento de barreiras."
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Segundo Jorge, é preconceituoso apontar que o curso reforça a espetacularização da academia. "Já me disseram que rock se aprende na Pompéia, não na universidade, mas chega a ser preconceituoso alguém imaginar que ele não possa ser estudo seriamente, com profundidade. Também não há porque aliar a idéia de academia com algo chato."Outra questão que intriga é a da disciplina. Afinal, na escola do rock "há de ser tudo da lei"? Para quem pensa em alunos embriagados, fumando na sala de aula e professores quebrando instrumentos em cima da mesa, Jorge dá um alerta. "Quem se inscreveu no vestibular vai se dedicar, vai ter que estudar. Nisso, não difere de outro curso."
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http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u65940.shtml
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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terça-feira, 7 de novembro de 2006

Blogger sucks!

Por algum motivo que não entendo (e se alguém entender, sinta-se livre para me ensinar), não consigo mais colocar imagens nos posts. Mas como se isso fosse pouco, o Blogger apagou um post inteiro, o penúltimo que se chamava "Não pergunte ao peixe" e que gerou essa resposta aí abaixo do Capilé.
Vou repostar o texto hoje à noite, por enquanto ficam as minhas desculpas por esse serviço mal feito.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Pergunta pro peixe sim! O esquilo não sabe nada.

Cara, a melhor coisa do mundo é levantar uma discussão e ter debatedores de nível e de conhecimento, porque a coisa anda e cresce, mesmo que com contradições aparentes, mesmo que nem sempre haja concordância, mas o conceito permanece forte e as argumentações alimentam as discussões e não os egos.
O último post gerou essa resposta abaixo do nobilíssimo Pablo Capilé, do Espaço Cubo, de Cuiabá. Grande contribuição. Quiçá surjam outras, de outros foras do eixo, gritando aqui. O blog está aberto para gritos de todo mundo, então trata de participar, bota a cara na janela e entra na conversa. Agora quem fala é Dom Pablito, meu compadre cuiabano. Diga Pablo, pode gritar!!
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Caro eduardo, muito bacana o seu texto, dando continuidade ao debate estabelecido no post anterior, e levantando algumas questões que provocam as mais diferente leituras ou seja, não existiram incompreensões e sim pontos0 de vistas distintos que podem vir a ser complementares caso os emissores e os receptores estiverem realmente dispostos que isso aconteça, ao invés de propagar pseudo-milindres baseados nas diferenças. Já de começo discordo da metáfora do peixe. Não é para o esquilo que eu vou perguntar sobre a água, e sim para o peixe. O peixe sabe muito mais de água que o esquilo.
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O peixe conhece os detalhes da água, a qualidade da água, e fala da água com a propriedade de quem nasceu, cresceu, e se desenvolveu dentro dela. Mas dento da água existe o bagre e existe a peraputanga. O bagre vive la embaixo, submerso como você disse, alimentando-se das sobras e das ervas(na maioria das vezes daninhas), e é tão preguiçoso que não se da ao luxo nem de olhar pra cima um pouquinho e observar os procedimentos da peraputanga. Já a tal peraputanga, é o que podemos chamar de "peixe-correria", atravessa o rio de um lado pro outro, desce para ajudar o bagre, salta para visualizar o melhor caminho, e ajuda a direcionar os "pacus", "Piavas", "Dourados" que nunca sabem se descem pra fazer companhia ao bagre ou se correm junto com a "peraputanga". Pra você ter uma idéia.
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O bagre é direcionado pela sobra da comida da "peraputanga" e mesmo assim prefere levantar duvidas a respeito da correria dela ao invés de olhar pra cima e observa-la. A peraputanga, ciente dessa preguicite do bagre, não foge da responsabilidade de ser refém do esclarecimento, e da rasantes bem próximos do bagre, tentando estimula-lo pelo menos levantar o bigode. E além de tudo isso o bagre é aquele que prefere seguir sozinho criticando a peraputanga, do alto de sua sabedoria bagral ao invés de auxiliar a peraputanga a explicar a todos os peixes como potencializar ainda mais o riO valorizando os afluentes. O bagre, prefere se afastar do coletivo pois sonha em viver nas águas dos garimpos, onde somente peixes cascudos e oportunistas sobrevivem. E la é que esta o ouroJ!
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E acho que é sobre isso que você esta falando né, sobre a luta incessante da peraputanga em mostrar aos outros peixes que a preguiça só atrapalha na CORREDEIRA do rio, deixando claro que a idéia não é que todos virem peraputangas e sim que os outros peixes corram bastante como elas estão correndo e não se esquivem de suas responsabilidades. O rio é de todos, e para todos, mas sabemos que muitos querem domina-lo, querem privatiza-lo, querem patentear todas as suas riquezas, e é contra isso que lutamos. Contra o sonho do "bagre que virou Sereia". A sereia é só a fantasia criada pelos que querem transformar a Peraputanga em Estrela do Mar! Nada mais belo que a pororoca para apadrinhar esse debate.
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Há-nadadeiras!

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

O Circuito Fora do Eixo pode perder o eixo?

Me chamaram uma vez de "marqueteiro demoníaco", por eu trazer termos e conceitos do marketing e das ciências comerciais para o rock independente. Confesso que até hoje eu ainda deliro quando me lembro desse momento, e acrescento que eu adoro o termo, repitam comigo: "Marqueteiro demoníaco". Hummm.... é saboroso! Parece até nome de super-herói. E hoje vou acrescentar mais um motivo para me chamarem assim, porque novamente vou tratar do rock pensando no mercado, e que se danem os patrulheiros ideológicos, porque eu tenho pouco tempo de vida e muita coisa pra dizer.
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No marketing existe um conceito chamado "Ciclo de vida do produto" com sinônimos os mais variados, mas que objetivamente diz que um produto nasce, cresce, aparece e fenece. Ou seja, tem tempo de vida e se ninguém faz nada, ele acaba naturalmente e sem deixar saudades (ao menos na maioria do público alvo, né?). Para contrariar esse movimento natural, os marqueteiros – demoníacos ou não – criam situações de renovar e revitalizar produtos, para acrescentar nova etapa de crescimento antes que surja a decadência. Quer um exemplo? O Gol da Volkswagen é o melhor exemplo. Líder em vendas há décadas, já passou por quatro "gerações", sendo que algumas delas foram apenas uma maquiagem, um "lifting" na cara do carro para parecer que algo de novo existia. Continua sendo o mesmo velho Gol de sempre, confiável, econômico, manutenção barata, bonitinho (bem "inho" mesmo), com o seguro caro bragarai e de volante deslocado pro lado. Ou você nunca viu que o volante do Gol não é certinho na frente do motorista, ele é mais chegado pro lado, o que gera uma posição não muito natural, mas ninguém liga, afinal de contas é o Gol, e melhor ainda se for um de uma nova geração.
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Digo isso porque começo a me questionar sobre os rumos do Circuito Fora do Eixo. Motivos ainda não existem, mas "se eu sou muito paranóico, é porque sei que você quer me matar". Então mesmo que ainda não existam motivos reais e palpáveis, já começam a apontar tendências, sinais de fumaça, indicações tênues de que o produto pode estar chegando ao seu momento de revitalização. Semana passada fui entrevistado pelo programa "Independência ou Morte!" da Rádio Faap – www.radiofaap.com.br – e ao me perguntarem quais os problemas eu via no Circuito Fora do Eixo, realmente me questionei pela primeira vez e falei com convicção e certeza no coração de que não via nenhum problema.
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Imagino que nessa hora muita gente torceu o bico e acha que eu surtei. É verdade, não acho que o Circuito Fora do Eixo tenha algum problema estrutural até agora, posso estar desinformado, posso estar acompanhando os eventos de forma marginal, mas a verdade é que vejo que Circulação, Distribuição e Produção de Conteúdo caminham de vento em popa. Talvez não na velocidade que poderiam, mas numa velocidade que "nunca na história desse país" houve, com produtores e bandas fazendo barulho em todos os cantos do país, circulando, cruzando as distâncias, intercambiando, conhecendo gente e conhecendo gente como jamais foi feito com tamanha intensidade.
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Dessa forma o Circuito não tem problema nenhum, atende a tudo que se propõe e supera em várias facetas. Mas não existe almoço de graça, nem perfeição, as trincas e fendas surgem subterrâneas e minúsculas, diminutas parecendo ecos falsos no radar, mas se não previstas podem se transformar em desastres irrecuperáveis. Poderia bancar a Cassandra e sair prevendo miséria, mas não quero chamar atenção com gritaria, mas sim com ponderações, fatos, observações e comentários os mais sensatos possíveis.
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Por isso acho que o questionamento ao Circuito não é de todo ameaçador, tampouco de todo inofensivo. Porque senão vejamos, algumas bandas estão se destacando e circulando com bastante freqüência, alguns produtores estão potencializando suas iniciativas e alguns canais de comunicação estão saindo à frente com novas abordagens e mídias. Qual o destino disso tudo? O Fora do Eixo quer virar o Eixo?
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Não demora surgir o patrulhamento ideológico cobrando que as bandas estão aparecendo na Rede Blob, por exemplo, e que assim estão traindo a essência do Fora do Eixo. Não demora surgir dedo apontado para aqueles que fizerem seus eventos com estruturas mega e com atrações de peso e porte, ainda que surgidos fora do eixo. Não demora alguém cobrar atitude (o que é isso, pelamordedeus?) sem que isso nunca tenha sido discutido.
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A velha querela entre underground e mainstream é a base dessa preocupação, porque muitos ainda acreditam ser o pecado original da raça humana se uma banda quer ganhar tubos de dinheiro com sua arte. Muitos ainda consideram que a humanidade inteira deveria seguir os caminhos da arte pura e sem corrupção dos circos mambembes e dos artistas desconhecidos. Muita gente ainda acha crime misturar a palavra "dinheiro" e "rock" na mesma frase, então surgem essas atitudes de querer que o mundo inteiro se comporte de acordo com o livro vermelho de Mao ou coisa parecida.
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O ponto é o seguinte, quando uma banda como o Vanguart aparecer no Faustão, tocar na principal rádio da cidade, vender centenas de milhares de CD´s, ou qualquer outro símbolo de sucesso comercial merecidíssimo que seja; como o Fora do Eixo vai lidar com isso? É essa a busca do Circuito? Favorecer a divulgação, circulação e produção de conteúdo visa "bombar" alguma banda, algum selo ou algum articulista e com isso produzir um produto vendável e de sucesso?
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Levanto essa lebre porque antes que alguém acuse gente de sucesso (e de muito trabalho) como cínicos – porque usaram o Fora do Eixo para aparecer – ou como traidores – porque não mantiveram a pureza do ideal rebelde – eu penso que é muito importante deixar isso bastante claro. E talvez eu também esteja tendo uma visão errada da coisa, vai que acontece, né?
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O Fora do Eixo tem um risco potencial maior que é de se tornar outra forma de segregação, criando um Movimento dos Fora do Fora do Eixo. Isso porque à medida que as bandas, que atualmente estão sendo trabalhadas, começarem a gerar resultados, vão também exigir mais trabalho e dedicação. E aí quem vai cuidar das novatas que estão chegando? Os produtores envolvidos com essas bandas que já conseguiram destaque vão precisar concentrar esforços nas atividades relacionadas a elas, até mesmo pelo retorno e rentabilidade proporcionados; e aí quem vai guiar, orientar ou acompanhar as que chegarem por último na festa?
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Imagino que a prática vai mudar e as novas bandas não precisarão de tanto apoio, já que a cena estará mais consolidada, os canais estarão mais ágeis e tudo estará melhor e até mesmo mais fácil. Mas isso é uma forma de se ver e eu posso – novamente repito – estar redondamente errado.
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Não é uma provocação nem um chamado às armas, mas somente uma dúvida que eu levanto, afinal de contas a maturidade do processo exige novos comportamentos e novas atitudes. Não vai ser discurso politizado que vai sustentar para sempre uma união nacional desse porte, até porque as práticas vão se alterar naturalmente no processo. Vaidades surgirão (se já não surgiram) e poderão inviabilizar parcerias. Questionamentos sobre interesses são naturais.
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E aí, em algum momento, inevitavelmente vamos ter que nos preocupar se o Fora do Eixo saiu do eixo.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Pela paz em todo o mundo!



A imagem certa é essa. Esse é o disco que marcou um início. Não conhece ainda? Te mexe e vai atrás, é um disco clássico!

Cólera, houve um começo.


Eu ia fazer 18 anos de idade. Dava aulas de inglês numa escola de idiomas do centro da cidade, na rua 9, aqui em Goiânia. Já se aproximava a hora de terminar minhas aulas, de ir pra casa, e era meu aniversário.
Surgiram no corredor meus melhores amigos, naquele momento, e me levaram para aproveitar o dia, afinal de contas era meu aniversário. E fomos ao shopping.
Chegando lá me disseram pra escolher um disco, qualquer disco, que eles iam comprar pra mim de presente. E eu fui logo para o lado dos discos da Baratos Afins, Ataque Frontal e outros selos pequenos, que tinham seus discos com preços maiores. Normalmente meu salário de professor não dava pra comprar esses discos, então eu ia aproveitar meu aniversário e ganhar um disco mais caro, e que eu estivesse mais interessado em ter. Escolhi "PELA PAZ EM TODO O MUNDO".
Impressionante!
Agressivo, consciente, rápido, impiedoso com quem merece porrada. Eu descobri ali que era o tipo de som que eu ia querer ouvir pro resto da vida.
Cresci, envelheci, encaneci e continuei ouvindo punk rock. Junto com uns amigos montei uma banda de punk rock - SANGUE SECO - muito inspirado no som feito por Redson e seus hermanos.

Dia 12 de novembro eu subo ao palco em Palmas, capital do Tocantins para abrir o show para o Cólera. Parece que volto a ter 18 anos. Parece que as coisas se encontram, e nem sempre no infinito.
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Houve um começo... o que vamos fazer agora é história.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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terça-feira, 17 de outubro de 2006

Tudo é vaidade!


- Tudo é vaidade!

Assim uma pessoa muito bacana me ensinou um axioma bíblico que eu nunca pensei que pudesse relacionar com o rock independente. Mas é triste e decepcionante perceber que o primeiro pecado capital apresentado por Tomás de Aquino – também chamado “arrogância” em algumas obras – é quase uma redundância no ambiente tido como liberal, igualitário e engajado do rock independente.

Digo isso porque já vivi muito, e nos tempos antigos o mundo era diferente. Não tínhamos celular para sermos localizados nas madrugadas pelos cantos da cidade, não tínhamos também orkut para ficar trocando obviedades e expondo nossa burrice, não tínhamos TramaVirtual ou Loaded ou MySpace para conhecer bandas de todos os lados do mundo, e não tínhamos a aceitação do rock. Isso porque nessa época o rock ainda era uma transgressão, e ser chamado de “rockeiro” no colégio não te dava moral com as meninas, mas suspensões repetidas e asco generalizado da comunidade acadêmica. O Willian “El Louco” fala no blog dele, no http://louco.my1blog.com/ sobre meninas que gostam de caras de banda, pois nos tempos antigos – quando virgem não era somente um signo zodiacal – as meninas tinham medo dos rockeiros, e talvez por essa repulsa generalizada, os rockeiros eram unidos.

Quer motivo maior para se unir do que sobrevivência? Assim funciona na natureza, e assim funcionava com quem se envolvia com rock. Isso porque se não se unissem, desapareciam, e logo estariam usando “calça tergal e cabelo lau-lau”, engajados em alguma carreira bancária para alegria da mamãe e desespero dos velhos comparsas.

O que se via nas bandas e nos envolvidos do movimento (porque na época não se dizia “cena”. Cena era de teatro) era uma proximidade e coleguismo muito maior. E vejam que não falei “amizade” porque isso seria esperar muito da raça humana, esse erro natural; mas falei coleguismo. Amizade é confiar a vida a uma pessoa, amar essa pessoa independente das situações, mas coleguismo tem interesse ou conveniência envolvido, gosta-se porque se quer algo ou porque é mais fácil. E mesmo parecendo que isso é canalha, é muito melhor que a selva canibal que virou o meio rock independente, alternativo ou underground, escolha o rótulo quem lê.

Rótulos são, talvez, um dos motivos de tanta separação e fogueira de vaidades desse ambiente. Punks, heavies, indies, HCs e tantas outras derivações que o rock gerou, terminaram por atender à necessidade primeira do “Sistema”: separar e enfraquecer a única tribo “que muda”, como diz o Fall. Ao invés de procurarem cada vez fazer melhor em suas opções políticas, ideológicas e estilísticas, a preocupação é fazer melhor “que o outro”, como se a competição fosse a única regra para convivência. E então além dos rótulos vemos que a pequenez de muitos que se envolvem no movimento é outro ingrediente poderoso dessa equação; gentinha fazendo coisa de gentalha.

Já fui chamado de “marketeiro demoníaco” e “neoliberal” por querer pensar o rock e as bandas como produtos de consumo, visão que em algumas situações eu ainda mantenho, mas trago minhas cicatrizes e sei que o rock é muito mais que um produto de consumo, é muito mais que algo a se vender; é algo a se acreditar. Mas como acreditar em algo tão fragmentado, tão dividido, tão fraco?

Esse é o sintoma final do mal da vaidade no rock, a fraqueza de algo que poderia realmente destruir as amarras, mudar as cores, fazer algo acontecer de bom e positivo. Mas o que vemos são pessoas que se preocupam mais em estar com a razão do que em estar discutindo. Que são grossas e estúpidas nos argumentos, mas acham desculpa para isso. Pessoas que são donas da verdade, absolutas, escondendo seus esqueletos e canalhices e tramóias e burrices em pose e arrogância, arrotando sabedoria de fundo de copo como se fossem os últimos evangelistas da causa perdida do rock.

“Ó príncipes meus irmãos” eu volto a dizer! Tão certos do que fazem que esquecem dos próprios pés de barro. A cada vez que eu escuto (ou leio) algum apóstolo com essa prosa de “eu sei, é assim que funciona” tenho vontade de arrancar os olhos das órbitas, mas me contenho graças ao equilíbrio emocional que a idade proporciona.

Não vêem que alimentando essa disputa babaca, vazia e sem sentido só fortalecem quem queríamos destruir? Não percebem o tanto que já se tornaram ridículos em seus planos de dominação com seus discursos monótonos e repetitivos? Sempre a mesma lenga-lenga chata, que todo mundo já sabe de cor, e que de forma caricatural acaba reforçando todos os comportamentos que criticamos em outras turmas que não sejam a nossa.

Vaidosos em suas máscaras, detentores da verdade universal, certos do caminho em suas naus vazadas, acabam por criar discípulos e seguidores aos montes, tão covardes quanto eles próprios; porque é muito mais fácil seguir um mito do que uma criatura que se questiona e se duvida e se arrepende a todo instante. É muito mais fácil acompanhar os passos de quem nunca erra, de quem sabe a verdade, de quem não quer ser Deus, porque já sabe que é. Porque seguir quem aprende tentando e quebrando a cara implica em quebrar a cara também, e então dói menos simplesmente se apegar às velhas teses que a história já derrubou, mas que contam com defensores que se dizem “de respeito” e que se valem de tempo de casa achando que isso prova competência.
Tudo é vaidade. A cena rock apodrece por dentro por causa das guerras santas entre as igrejinhas toscas de pregadores venenosos e canalhas que se alimentam da comodidade e da bundice dos seus fiéis.

Foi isso que nos trouxe a modernidade? Não é a toa, portanto, que a saudade é tão doce.
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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