segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Nem Deus afunda o Circuito Decibélica!!

- É esse fim de semana! É esse fim de semana!!!
- Quieta com essa gritaria! Tá maluco??
- É que tá chegando a hora, aquele gordo miserável vai pagar!!
- Pedro, tu tá muito empolgado com essa vingançazinha porquêra que nós vamos fazer. Não é pra destruir o cara, só dar uma lição nele.
- E vamos mesmo, Senhor, dar uma lição. Dessa vez ele vai ver!
- É, dessa vez. Porque não adiantou nada tudo que já fizemos até agora. Ele continua desafiando e falando mal da gente.
- Mas o que já foi feito, Senhor?
- Putz, Pedro, tu deve ter comido peixe de menos na terra. Que memória ruim do cacete! Primeiro ele nasceu feio daquele tanto.
- É verdade. É feio.
- E ainda tiramos um pouco do juízo dele, o que fez com que ele quisesse ser ainda mais feio. Já viu o tanto de piercings que ele tem?
- Não passa em porta de banco de jeito nenhum. O homem é uma vitrine de ferragista.
- Hum.... rsrs. Vitrine de ferragista foi massa, Pedroca. Tu não é de todo perdido.
- Ôu, valeu, Senhor. Estamos aí!
- Pois bem, daí nós fizemos o cara ser gordo, mas muuuito gordo.
- Isso também não adiantou nada.
- Adiantar? Pôrra nenhuma, e o sacana ainda curtiu com isso. Passou a usar o apelido de “Porcão”. Miserável!
- Porcão é o que ele é mesmo, Senhor. Um porco grande.
- Putz, Pedro, essa foi triste. Quieta um pouco. Depois ferramos com o trabalho do cara, acabamos com a mamata.
- É... também não adiantou lhufas. Ele montou loja.
- Loja, bar, estúdio, casa de shows, uma coisa eu reconheço, o desgraçado é duro na queda.
- Ainda bem, com aquele tamanho, se caísse! Já pensou, Senhor?? Hahahahahaha
- Pedro, te controla. Dessa vez vai dar certo, ele juntou com uma cambada de gente... nem te conto.
- E quando vai rolar?
- Já começou. Aguarde os acontecimentos.
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Três dias depois. A Segunda Edição do Circuito Decibélica tinha rolado em Palmas. Porcão, Gustavo e Beto Decibélica à frente de tudo, muita correria, muito imprevisto, muito quase... mas o festival foi um sucesso. Doações aos montes, gente pulando, shows inesquecíveis, momentos marcantes nas memórias.
Na eternidade os dois maiorais se encontram novamente.
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- E aí? Deu certo?
- Nada. O tal Porcão continuou falando mal da igreja, usando desenhos profanos, cruzes invertidas, urrando aquilo que ele chama de música, xingando meus papas todos, o cara é um possesso. Acho que vou mandar um dilúvio naquela terra.
- Mas nada deu certo? O que o Senhor fez?
- Lasquei uma dengue em um dos tais “organizadores”. Cagava e deitava o dia inteiro. Achei que o gordinho não ia conseguir olhar pra fora do hotel.
- E ele conseguiu?
- Conseguiu? Ele foi pro show!! O maldito levantou e foi pro show!! Ainda ficou recolhendo assinaturas naquela revista dele, conversando com Eu e todo mundo. Não consegui derrubar o sujeito!
- Mas se foi só isso que o Senhor fez...
- Tá maluco, Pedro?? Tá maluco!!?? Que pôrra de só isso, rapá!? Arrumei um monte de confusão pra um baterista que ia tocar lá.
- E ele conseguiu ir, Senhor?
- Não.
- Aleluia! Então foi um sucesso!
- Foi merda! Arrumaram um outro doido batedor de tambor pra ir no lugar. Fiquei tranqüilo, porque como eles iam conseguir tocar juntos se nunca tinham ensaiado.
- Então o show foi um desastre?
- Desastre é outra banda. Mas o show foi um sucesso, e o tal espancador de tambor ainda foi elogiado por todo mundo. Pensa!
- Que coisa!
- E quem arrumou o batedor de bumbo foi o pulha que devia estar de cama ou de vaso, com dengue.
- Mesmo!?? Como ele fez??
- Adora telefone, esse descontrolado. Deve ter deitado com o telefone, porque ligou pra três bandas, mas no fim conseguiu resolver.
- E os caras foram pro show numa boa, sem problemas?
- Que nada! Detonei dois ônibus dos caras, fiz eles trocarem de condução três vezes, arrumei desconforto de todo jeito, até cheiro de queimado dentro do ônibus eu providenciei. Isso parou os malucos? Que nada! Ainda ligaram pro dengoso pra dizer que não iam, e o doido conseguiu convencer os caras a irem. Putaquipariu!!!
- Senhor!!
- Ah, não fode. Os caras são osso duro.
- É, depois disso eu também desistia.
- E quem desistiu, filisteu?? Tá maluco!? Pedro, eu ainda te racho a cara! Eu arrumei uma vereadora pra tentar fechar o boteco do tal Porcudo, mas a mulher virou motivo de chacota e de piada. E o tal do Porco ainda fez gracinha com o nome dela no show. Disse que o outro nome dela é “Vaca”. Todo mundo se acabou de rir.
- Mesmo?
- Até eu ri nessa hora, tenho que admitir. O sacana é engraçado mesmo, com aquela maquiagem ridícula na cara e falando de vilão de desenho animado.
- Mas Senhor...
- Tá, tá, já passou. Depois eu ia pegar uns outros de outra banda que já me desafiaram. Uma tal de SangueSuga, SempreSeco, sei lá esses nomes estranhos. Esses também me desafiaram.
- Como?
- Fizeram uma música boca suja falando de minhas partes íntimas, só porque não concordam com o que outras pessoas falaram que eu era. Nem tentaram me conhecer e já vieram esculhambando. Mas um deles não deixou isso acontecer mais, felizmente.
- Então não provocam mais.
- Não provocam?? O tal de vocalista, um sujeitinho feio, mal feito, metido a besta me desafiou num show deles dias desses. Tá no YouTube Pedro, ele me dizendo “Vai Deus, manda seu melhor golpe”. Êita que eu quase desci um raio na testa dele, e olha que não dava pra errar porque a testa do sujeito é gigantesca, mas me controlei. Babaquinha!
- E mandou uma dengue nele?
- Nah, tentei bagunçar com a garganta, mas o cabeludo com cara de assassino serial da banda descobriu uma pastilha que ajudou o porcaria. Isso porque eu tentei bagunçar o intestino do baixista Corumbá, mas ele também se recuperou.
- É, aí eu também desistia.

PAF!!!

- Ai, Senhor! Que foi?
- Pra parar de falar merda. Eu ia desistir, Pedro? EU IA DESISTIR?? Nunca!
- Mas...
- Ferrei o ônibus deles também.
- Então eles não conseguiram chegar.
- Humpf... conseguiram. Atrasaram uma hora mas nem ligaram. Estavam tão eufóricos com o show, que nem notaram atraso.
- Caraca.
- Depois eu atrasei o vôo de uma outra banda. Danifiquei os pratos do baterista fumante deles, um tiozinho gente boa. Mas nada adiantava, os caras parece que gostam muito desse tal de rock. E ainda falam que rock é coisa do diabo. Eu devo ter inventando essa trôlha e não me lembro, todo mundo adora!
- E aí?
- Hein?
- E aí, o que mais rolou?
- Ah, é verdade. Mandei mormaço abafado.
- Quiseram desistir?
- Nada, parece que lá é normal. Nem olhei o guia também. Mandei chuva.
- Aí eles pararam.
- Pararam merda. Até acharam bom, porque refrescou o clima. E lá veio o tal do Porcão xingar igreja, papa e o diabo.
- O diabo também?
- Não, figura de linguagem. Ninguém nem lembrou de diabo.
- Nem lembrou?
- Bão, teve uma banda lá com uma bandeira dum bodão meio diabólico, mas não entendi nada que eles falaram. Então nem sei...
- Ninguém lembrou do diabo?
- Não. Já falei que não, eles não falam de diabo. O tal feio que tá no YouTube fala de política, fala de assassinos, mortes, mas não fala de diabo. Tinha uns tiozinhos incansáveis também, do baterista fumante, Cólera, Raiva, um troço assim. Esses que não faziam lembrar do diabo mesmo, só falavam de reflexão, de melhorar o mundo, de salvar o verde, de...
- Senhor, tá percebendo alguma coisa?
- Ih, pior.
- Quanto custou pra entrar nesse show, Senhor?
- Leite. Três litros de leite.
- E esse povo bebe leite?
- Nada. Era pra doar para um Hospital de Câncer que tem... êita ferro!
- É...
- Os caras tavam fazendo um negócio do bem, Pedrão! E eu atrapalhando. Que latada!
- Pior, dessa vez a pisada quase foi feia. Ainda bem que os caras são meio teimosos, né?
- Teimosos? Putz, bota teimosia nisso. Pra organizar show de rock deve ter que ser muito teimoso mesmo, né Pedro?
- Não entendo muito, mas se for sempre assim. A gente implicando e eles indo em frente.
- Mermão, deixa esse Porco xingar a igreja, tem uns loucos lá mesmo. Ele deve até estar certo. Putz, quase que eu estrago um troço bom desses. Hospital do Câncer então, hein? Fiu...
- (Pedro vai saindo) Eu falo que ele faz merda também, mas acha que é infalível. Dá nisso.
- Pedro, eu estou te ouvindo, anta!

A Segunda Edição do Circuito Decibélica teve que enfrentar céus e terras, intempéries e imprevistos, problemas e doenças, e fui um festival ducaralho! Porcão falando mal da igreja daquele tanto ia acabar chamando atenção de alguém grande, mas agora tá tudo resolvido. O rock é do bem!
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Parabéns aos organizadores do evento! Às bandas que tocaram, especialmente o Cólera que deu aula do que é um show destruidor e furiozzo, com mensagens positivas e muita energia. Nós, do SANGUE SECO, já colocamos esse como um dos melhores shows da nossa curta existência. Inesquecível!
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Há braços para o povo de Palmas que fez a festa ficar ainda mais linda!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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