segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Fim de semana de excessos

Esse fim de semana fui para fazenda. Ali, na cidade de Anicuns, residência de pessoas de muita importância e generosidade hospitaleira. Fim de semana em fazenda possui fatos típicos e corriqueiros nessa situação, como por exemplo, comer demais.
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Como se come em fazenda, não? Não sei se todo mundo come do mesmo tanto ou somente os urbanóides que se perdem no ambiente rural e estranham tanto silêncio nas noites, tanto céu nos dias e tanto oxigênio limpo o tempo inteiro. E isso dá uma fome dos diabos.
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No sábado me dirigi para lá (uns cento e poucos kilômetros) por volta das onze horas da manhã. Dia quente, acordei tarde graças ao silêncio incomum da minha vizinha do andar debaixo (ela adora ouvir seus hinos numa altura que soa quase indecente para aquele tipo de música) e resolvi não comer nada, deixaria para comer somente na fazenda. Peguei estrada, fui com calma, trânsito tranqüilo, cheguei lá por volta de depois das doze um pouco. Fome, muita fome.
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E para minha satisfação e júbilo o almoço seria rabada. Cabe explicar que eu gosto muito de comer, é um dos maiores e melhores prazeres que possuo na vida, agora rabada e feijoada são prazeres quase cósmicos, cármicos, telúricos e todos os adjetivos trissílabos que você quiser escolher. Eu adoro essas comidas, e logo na seqüência um bom Caruru, uma moqueca chegada na pimenta ou uma churrascada brutal. Me atraquei com a rabada, divinamente preparada, e devorei algumas dezenas de lascas de rabo de boi. Uma atitude quase suicida, reconheço, porque ao final eu me sentia uma jibóia que engolira um circo inteiro. Lembrando que a rabada desceu saborosa e macia porque fartamente acompanhada de gelada cerveja.
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No domingo outro presente: arroz com suã. Para os que não conhecem, a suã é a espinha do porco, com toda a carne pregada no osso e o tutano que dali mina forte que você puder imaginar. O arroz fica com aquela cor morena que estimula o desejo e algumas pimentas bode semeadas displicentemente fazem esse prato ser uma experiência marcante. E para piorar meu estado glutão, ainda foram assados fartos pedaços de picanha e uma centena e meia de asinhas de frango bem temperadas. Comi asas de frango como se desejasse que a raça nunca mais saísse do chão. A pilha de ossos crescendo na minha frente, e cadê de eu me saciar?
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Mas o mais marcante e vibrante de todo o fim de semana não foi comível, mas sim bebível. O dono dessa fazenda generosa é proprietário de uma garrafa da famosíssima cachaça Anísio Santiago. Tem gente que não a conhece, e eu explico. Uma garrafa dessa cachaça, garrafa normal do tamanho de uma garrafa de cerveja, custa por volta de US $ 300,00. Isso mesmo que você leu, trezentos dólares! É artigo de finíssimo trato, tida e havida como a melhor cachaça do mundo, feita com canas da época do Brasil Império, armazenadas com os maiores requintes de cuidado, enfim... o sujeito generosamente resolve abrir a tal garrafa e me saudar com goles da cachaça dourada.
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Cabe comentar; eu gosto de cachaça. Aprecio o paladar forte, agressivo, o cheiro doce e a lembrança quente no arroto que sobe ao final de uma talagada certeira. Gosto e coleciono. Comecei uma – ainda – tímida, porém sincera, coleção de cachaça, trazida dos mais variados locais e origens. E não sou colecionador de manter guardadas minhas belezas, eu as consumo, principalmente quando alguém também apreciador de boa pinga se encontra por perto. Posso dizer então, que entendo um pouco de cachaça.
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Mas nada poderia ter me preparado para aquilo. E o clichê é o mais honesto possível. A cachaça era um beijo de deus, um sopro de fadas ardentes, um troço de outro planeta. Além de generosamente abrir a cachaça e brindar meu aniversário (dia 08 de novembro), ainda resolveu que iríamos consumir toda a garrafa naquela noite. E teríamos consumido certamente, porque em menos de alguns minutos já “meiávamos” a garrafa sem piedade nem acanhamento. Mas resolvi parar.
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Depois dos quartos ou quintos goles, a cachaça já não era mais saboreada como merecia, e eu resolvi que deveríamos fechar aquela deusa e nos dedicarmos a alguma outra mais modesta. Possuidor de excelente coleção também, foi fácil repor uma outra garrafa na mesa, e aí nos entregamos como devassos para a pinga.
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O dia seguinte foi suave e tranqüilo. Sem ressaca, sem amargor na boca ou na lembrança, sem arrependimento de nenhuma sorte. Foi inesquecível.
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Anísio Santiago, trezentos dólares que valem cada gota sorvida. Eu recomendo.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita
eduardoinimigo@gmail.com
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Um comentário:

Hígor Coutinho disse...

Êta porre caro hein?