quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Organização no rock independente - um exemplo? um caminho?


O Imprensa de Zine - http://www.imprensadezine.blogger.com.br/ - é um dos braços armados do Espaço Cubo e é responsável pela comunicação de forma geral e pela atuação cultural e artística em escolas, de forma específica.
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No dia 24 de dezembro foi postado no blog deles (esse endereço aí de cima, ôu!!) a Ata da 1ª reunião da Volume - Voluntários da Música, matéria feita pela Talyta Singer, menina legal da Imprensa EC (da qual me sinto honorário participante, graças ao convite feito pelo Capilé).
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Enfim, novamente os cuiabanos estão mostrando uma capacidade de organização quase militar, com metas, objetivos, planos e ações práticas, focadas e pragmáticas. Pode parecer, pelo uso do termo "militar", que vai aqui uma crítica à forma como são conduzidas as conversas em Cuiabá, mas não é isso.
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É antes a constatação de que em Cuiabá existe um trabalho sistemático, por isso o termo "militar". Sistemático, organizado, dedicado e - sempre que necessário - burocrático. Por isso a referência militar, por reconhecer que as atividades são conduzidas de forma a atingir algum lugar, de se chegar em algum ponto melhor, e podemos criticar o militarismo o quanto quisermos, mas não é possível negar a objetividade da prática. Por isso afirmo sem medo de ser mal interpretado que o Espaço Cubo é uma força tática de ocupação muito poderosa.
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Como toda força de ocupação, enfrenta resistências. Muitas são as pendengas existentes entre os diferentes players da cena cuiabana, como por exemplo entre o Espaço Cubo e o Espaço das Tribus, e todas essas litigâncias são expostas em blogs por todos os lados. Muito se diz sobre o trabalho do Cubo ser totalizante e opressivo, sobre Capilé ser - na verdade - o Cérebro, aquele ratinho branco que todo dia vai "tentar dominar o mundo", sobre os outros participantes do Cubo terem sido submetidos à lavagens cerebrais e outras sandices parecidas. Pelo que vejo daqui do lado de cá do cerrado, o Espaço Cubo incomoda muito por ser organizado e por ocupar espaços que estão em aberto, soltos, largados e passíveis de uso positivo.
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Sim, Capilé é um trator na sua forma de fazer, isso pode ser dito. É um sujeito que possui uma determinação que beira - e reforço o "beira" - o fanatismo em suas crenças, mas me digam quem não é assim quando defende um ideal de vida? E obviamente isso incomoda muita gente, em resumo todos aqueles que não compactuam da mesma visão ou que se sentem alijados do processo produtivo que o rock independente vem gerando. Mas estar dentro ou fora é uma opção.
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Enfim, pela leitura da ata mencionada lá em cima desse texto, o que podemos ver é uma nova sistematização de ordem para condução da cena rock da região, com comissões e plenárias, com responsáveis e responsabilidades, com datas e prazos, e aí surge a pergunta do título: é esse o melhor caminho?
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Em Goiânia a cena se desenvolveu sem uma força que buscasse a unidade como o Cubo faz por lá. Temos selos e produtores e bandas que cresceram e apareceram, mas que nunca buscaram realizar esse trabalho de união que vemos em Cuiabá. E por isso a minha dúvida; será que esse é o melhor caminho? De forma preguiçosa podemos responder que "o tempo vai nos dizer quem estava mais certo", mas infelizmente o tempo é um pai cruel, porque devora seus filhos, e eu não quero esperar. Não quero também discutir a cena cuiabana, porque não moro lá, não conheço as dificuldades deles à fundo, não sofro nem ganho pelo que lá acontece, e seria no mínimo leviano da minha parte ficar dando pitaco na vida dos outros. Quero discutir Goiânia.
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Será esse o caminho? A organização de uma unidade política estruturada que possa representar o meio rocker e proporcionar conquistas e visibilidade para a cena? Tenho por princípio não ser muito otimista, isso é verdade, e por isso já antecipo que muitos na cidade das mulheres bonitas não iam querer participar de nada que soasse "organizado" ou "político", por crenças pessoais que não me interessam. Outros talvez se decidissem pelo sim ou pelo não de acordo com as pessoas que encabeçassem a iniciativa, por exemplo sei de gente que nunca se aproximaria disso se eu fosse um dos responsáveis, simplesmente por me achar desprezível, reacionário, marketeiro do demônio e filhadaputa. Só por isso!
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Ainda acredito piamente que os caminhos são milhões e que são plenos de frutos para todos. O caminho underground, o mainstream, o independente, o alternativo, todos oferecem gratificação a quem acredita neles, e um necessariamente não neutraliza o outro. Mas ainda assim as reações esperadas são sempre exageradas, porque temperadas com paixão e um "quê" de adolescência.
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Fica então a pergunta aos goianos (e quem quiser palpitar, sinta-se à vontade, de qualquer lugar) sobre essa organização. Não seria isso o que falta para termos uma cena mais coesa e com resultados mais visíveis? Já antecipo também gente me empulhando perguntando "mas o que você quer dizer com resultados mais visíveis?" e respondo que os resultados vísiveis - na minha opinião - são basicamente o retorno sobre o investimento. Então quem dedicar tempo, que tenha algum retorno sobre isso, seja financeiro, seja satisfação, seja reconhecimento, enfim cada um sabe de si.
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Se ao menos uma discussão surgisse, poderia ser o começo de um caminho. Cuiabá e Goiânia possuem cenas diferentes, com especificidades e particularidades próprias, mas a iniciativa do VOLUME é uma luz muito forte para fingir não ver. Se é a saída de um túnel ou um trem na contramão, isso nossos esforços vão traduzir.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro amigo inimigo! Eu acredito sim na união para uma cena melhor! Mas como sempre os problemas vão existir, e um deles é q nem sempre duas cabeças pensam melhor do que uma. Po routro lado como dira Marx (não sou socialista hein) "Trabalhadores uni-vos", e não é porque é rock independente que deixa de ser trabalhador num é não!? A união do independente com o político só depende das pessoas envolvidas, caso sejam boas pessoas como o nosso querido Véi, dedicadas e batalhadores, isso tem tudo pra dar certo. Já se forem pessoas que não estão nem aí, isso só vai piorar, porque preguiça, falta de vontade, aliados com burocracia, podem dar um mistura explosiva!!!


Abraços

Saboya

Anônimo disse...

Não gosto do termo militar, apesar de saber que uma das origens da administração em si e do planejamento venha dos milicos... Mas o planeamento quando feito de forma correta e executado de forma correta (fase muito mais importante) faz com os resultados apareçam, e espaços sejam ocupados de forma mais eficaz... Gostem ou não o sucesso vem desta transpiração... Talvez esta seja a diferença principal de uma cena e outra... Outro ponto importante é sem dúvida a união, porque separados não é possivel fazer muito... Mesmo que se consiga um êxito aqui ou acolá...