quarta-feira, 30 de maio de 2007

Sem comentários... mas são 2!





















A propósito, o quadro que abre o post é "Duas Crianças Sentadas (Claude e Paloma)", óleo sobre madeira de Pablo Picasso, de 1950.

sábado, 26 de maio de 2007

COMPACTO.REC - o maior TBDC do país!


Tá vendo esse banner aí em cima? Não é esse aqui do post não, cabeção! Tô falando do banner que tá piscando e mexendo e mudando o texto aí em cima no cabeçalho do Grito. Pois é disso que eu quero falar.
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Terça feira, dia 22, teve início essa maluquice que foi gestada lá em Cuiabá e vai ser parida por um montão de páginas e sites e blogs (como esse canto perdido que você se encontra agora) para divultar material de banda boa que quer trabalhar. É o seu caso? Bão dimais! Vai lendo...
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Se você tem uma banda e tem material autoral que quer ser divulgado para o país, então a pergunta é uma só: Quer lançar um single virtual? Isso mesmo, maluco, o Compacto.rec te ajuda. Compacto.rec é uma nova oportunidade para bandas e artistas do Brasil inteiro na divulgação de seus trabalhos. Nada de concursos mirabolantes ou coisas do gênero, então você não vai precisar colecionar tampa de margarina nem pagar mico em vídeos toscos no SeuTubo. São mais de trinta páginas de vários lugares do Brasil lançando quinzenalmente (isso mesmo, cabeção, a cada 15 dias. Duas semanas!!!) um mesmo compacto virtual. O visitante de cada um desses diferentes sites terá músicas, imagens (que servirão como capas e encartes para esses singles) e informações sobre as bandas e artistas. Com isso, caem barreiras geográficas, como só a internet possibilita, e de gênero, como a internet nem sempre estimula.
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As inscrições estão abertas e podem ser feitas por e-mail. Pra saber como corre pro http://www.compactorec.blogspot.com/ e saiba mais. Lá tem os releases, os toques, os caminhos, tem tudo, caramba! Então se mexe e vai a luta porque tem muita gente na batalha por esse espaço. Se você quer mais informações, entra em contato no cuboatendimento@gmail.com e faz tuas perguntas. AGORA!!! Lá no blog do Compacto.rec tá o Edital, que você que se interessou tem que ler com muita atenção pra não fazer caca. Leia com atenção, se tiver dúvidas, não tenha vergonha e manda um email pros meninos Cubistas e esclarece logo. Anda rapá, se mexe!
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Tá curioso pra saber porque o Compacto.rec é o maior TBDC do país? Porque esse é o grande TIRA A BUNDA DA CADEIRA que já se viu!! hahahahahahahahahahahaha
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Agora cai fora dessa inFernet e vai trampar com tua banda, porque o país inteiro tá afim de ouvir seu som, mesmo que você não saiba.
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Quer saber quem são os culpados pela divulgação dessas bandas merecedoras que vão participar do projeto Compacto.rec? Confere aí abaixo, e aproveita e visita os sites e blogs para se inteirar do que anda acontecendo no mundo do rock independente. É gente do país inteiro, maluco!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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SENADOR CANEDO tem rock, sinsinhô!!

Já ouviu falar em SENADOR CANEDO? Não? Êita povo sem informação, sêo! Então presta atenção e vai lendo.
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Retirado da Wikipédia: "A origem de Senador Canedo está relacionada com a estrada de ferro da Rede Ferroviária Federal S/A. O crescimento da cidade ocorreu na trilha aberta na construção da ferrovia, e as primeiras famílias trabalhadoras eram oriundas do estado de Minas Gerais e Bahia.
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O nome da cidade é uma homenagem ao senador Antônio Amaro da Silva Canedo(esse barba bela aí da foto ao lado), primeiro representante do estado de Goiás em cenário nacional. Em 1953, o povoado foi elevado à condição de distrito de Goiânia e em 1988, a Assembléia Legislativa de Goiás aprovou a emancipação do município, cuja sua principal atividade econômica era a agropecuária.
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Destaca-se também, atualmente, o pólo petroquímico, com diversas empresas do setor situadas na proximidade da cidade, entre outras está a Petrobrás."
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Isso é a história antiga, o que foi. Agora quer saber o que vai acontecer? Continua lendo.
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Um monte de lokis se juntou em Senador Canedo (que pra quem não sabe é pertinho de GoiâniaTown) e resolveu resolver uma festa, mini-festival, show de rock por lá. É o Alternative Rock.
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Vai ser no dia 09 de junho e vai ter uns bons shows bacanas por lá. A idéia é uma festa divertida, em que o povo fique à vontade e possa curtir boa música. Além de levar os eventos rock para fora da capital e invadir o interior, também é uma boa chance de bandas novas mostrarem o trabalho, e isso sempre é bom demais.
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Então se organiza e prepara para se debulhar no dia 09.
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Serviço:
O que é? Alternative Rock, a festa.
Quando é? 09 de junho
Aonde é? Centro de Convivências do Conjunto Sabiá, em Senador Canedo
Que horas é? A partir das 20 horas
Quantos custa? Homem paga R$ 5,00 e mulher paga R$ 3,00 (barato demais, meu fi!)
Mas e quem vai tocar na bagaça?? É verdade, tava esquecendo desse big detalhe. Anota aí:
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Bandas confirmadas:
* Heyder
* Paradox
* Nem-nhum
* Hangar-18
* The cretinos
* Os Viajantes do frito Fred Policarpo
* Diego de Moraes, o bardo canedense que vem conquistando espaço e multidões.
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Mais informações na comunidade do evento no orkut, que tá nesse link aí ó: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=13926140
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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sexta-feira, 25 de maio de 2007

Voltando com PADAM na tela!


Através de uma ação inédita em uma cena musical independente, nesta sexta feira, dia 25 de maio às 22h, é lançado o projeto Made In Hell City organizado em cinco coleções pela marca cuiabana PADAM. A proposta é produzir roupas e apetrechos musicais baseando-se na movimentação independente local como temática, com baixo custo de valor de mercado. Se quiser dar uma conferida, passa lá na Casa Fora do Eixo. É hoje.
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Mas, o que é Padam?
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PADAM corresponde às ações e produções decorrentes da produtora e figurinista Bárbara Rosa em torno da cena independente de música de Cuiabá. Bárbara já vêm há dois anos trabalhando com assessoria de imagem e produção de figurino aonde se destacam produções para o mercado independente de música e para o mercado de vídeos publicitários.
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Lançada durante os dias da 5ª edição do Festival Grito Rock, a grife PADAM surgiu vestindo os músicos da banda MACACO BONG e a apresentadora do Festival especialmente para o evento, além de apresentar ao público e músicos da cena bolsas, correias de guitarras e cases de baquetas, dialogando com o espaço que ocupava. Também durante o evento a marca lançou seus famosos chaveirinhos de temáticas musicais que tiveram continuação ao serem produzidos chaveiros especiais de bandas cuiabanas lançadoras de EP's, durante os fins de semana de março nos eventos do Circuito Volume, distribuídos através de estandes e banquinhas PADAM em todos estes eventos.
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A coleção "Made in Hell City"
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A primeira edição do projeto tem os meninos do Macaco Bong como inspiração. Bárbara Rosa, a estilista por trás de PADAM, explica. "Macaco Bong é a banda referência da cena cuiabana independente hoje. Não só compõem e tocam como lutam também pela movimentação cultural fora do eixo. Não é à toa que representaram Cuiabá em 12 festivais nacionais só em 2006. Quer mais inspiração que isto?", brinca.
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A primeira coleção foi produzida em parceria com designers goianos do coletivo "Bicicleta Sem Freio" e inclui camisetas femininas e masculinas, bolsas, correias, cases e chaveiros. O próximo tema, adianta Bárbara, mora nos festivais independentes de Cuiabá e em ações como a organização de cenas nacionais em torno do Circuito Fora do Eixo.
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A intenção que move Made in Hell City é mais que estética: é também política. "A idéia é ampliar a força da cena local e abrir espaço para novos produtores de moda", afirma a estilista. Atualmente, além dos goianos do "Bicicleta Sem Freio", a PADAM conta com o apoio da Cufa/MT, do Estúdio Wayne de fotografia, do Instituto Espaço Cubo, da Próxima Cena, da Casa Fora do Eixo, da Volume - Voluntários da Música e do coletivo multi-cultural Mentira Produções.
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Serviço:
Quem: PADAM
O quê: lança a primeira edição do projeto Made in Hell City
Onde: na Casa Fora do Eixo, Rua 1 do Bairro Boa Esperança
Quando: nesta sexta (25/maio), às 22h
Quanto: R$ 3,00
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Os RUMOS em uma boa terça-feira!


Dia 08 de maio, uma terça-feira, foi um dia legal. Depois de enfrentar uma pequena emergência inesperada, saí do trabalho e foi para o SEBRAE, o templo do neoliberalismo e de termos como pró-atividade, resultados, empregabilidade, desenvolvimento e profissionalização; ou seja, eu estava indo pra casa. Já tive oportunidade de desenvolver alguns trabalhos com o Sebrae, tenho excelentes amigos que trabalham lá e foi com muita satisfação que vi o auditório até bem ocupada pelo pessoal das artes em geral.
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Isso porque nesse dia estava acontecendo o RUMOS MÚSICA do Itaú Cultural, encontro promovido pelo SEBRAE de GOIÁS, UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS e ITAÚ CULTURAL para um debate sobre produção musical.
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Como o horário do evento era ingrato – começava às 14 horas de uma terça-feira, pombas! Ninguém trabalha nesse país não? – eu perdi bastante coisa, o que sinceramente lamentei. Mas o pouco que pude participar foi bastante bom.
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Cheguei na sala e logo encontrei meu amigo Pablo Capilé, e levei um susto: que diabo de bigodinho de cafetão era aquilo?? Sugeri enfaticamente que ele fosse ao banheiro raspar, ou que tentasse arrancar com as unhas (eu até ajudaria) porque realmente um bigode já não é algo muito bonito, num cara como Capilé ficou ainda pior. Boas risadas logo de saída! Entrei no auditório no final da fala do Alemberg, que é pesquisador musical e diretor da Fundação Casa Grande, em Nova Olinda (CE). Uma figuraça! Com um sotaque cantado e mágico do sertão cearense, esse “cabra” estava relatando suas aventuras e desventuras na condução de um projeto que – por tudo que ouvi de terceiros – é fantástico. Essa Fundação Casa Grande é uma revolução na cidade de Nova Olinda, e ao ver os olhares embevecidos do público e o sorriso franco e generoso do sujeito, eu vi que tinha perdido coisa da boa. Fazer o que, não? E la nave va...
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Alemberg falou uma coisa que me chamou a atenção por demais. Esse papo de “Todo artista precisa ir aonde o povo está” já era. Isso foi parte de uma resposta a uma pergunta da cantora Cláudia Vieira, belíssima psicóloga que tenho o prazer de ter como amiga. Catita comentou que essas idéias de levar orquestra para favela, para morro, para periferia, essas idéias eram meio sectaristas, e antes de serem propostas inclusivas, elas alijavam ainda mais o povão da arte. Porque na hora que você leva uma orquestra para tocar na Associação de Bairro da Vila Papel Dezesseis, esse povão ávido por arte e cultura não vai ver a orquestra como ela é na realidade. Vai ver em condições precárias, na base do “jeito que dá”, com improviso e boa vontade. Alemberg citou ainda sua opinião de que a música é também arquitetura, luz, ambiente e tudo isso se perde em palanques eleitoreiros ou em Associações de Bairro, por melhor que seja a intenção do presidente da tal associação.
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Não temos que levar orquestra pro morro, tem que levar o povo pra dentro do teatro! O povão tem que descer do morro, sair da favela (lá da minha saudosa maloca, o Quebra-Caixote, por exemplo) e avançar pelos carpetes e sentar nas poltronas e se refrescar no ar-condicionado.
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O Teatro Exercício, grupo de teatro que tenho orgulho de participar a 20 anos, inventou lá no começo dos anos 70 uma coisa chamada “Terça Popular”. Eram espetáculos teatrais a preços módicos e irrisórios para o povão, e a divulgação era feita na periferia. Era um sucesso! O teatro lotava, o povo começava a gostar de ir ao teatro, os grupos sempre tinham um bom público, até que um político da época surtou e acabou com o projeto, porque “aquele povo suja o teatro, aquele povo não sabe se comportar, aquele povo não pode ir ao Teatro Goiânia (que era o máximo na época)” e coisa e tals. E provavelmente “aquele povo” não sabia mesmo se comportar naquele ambiente, nunca tinha ido lá! E nunca ia aprender então, porque não ia ter mais a chance de freqüentar e se ambientar com os palácios das artes que o poder público constrói para o povo (nos discursos), mas não permite seu uso pelo povo (na vida real). Levar o espetáculo para a periferia pode ser chamado de “Controle de danos” mas é também um fator de acomodação da platéia, uma forma de manter “aquele povo” lá longe, sem sujar o asfalto bonitinho e os carpetes do centro da cidade.
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Lembro que por muito tempo sofri uma crítica sofrida. Meu grupo de teatro – na época a Oficina DeMedo – foi convidado para se apresentar num evento no Centro de Convenções num evento nacional. Não iríamos receber lhufas, mas na minha inocência e empolgação achei que usaríamos o palco gigantesco e aparelhado do melhor teatro da cidade na época, o Rio Vermelho. Quando chegamos lá, ensaiados, empolgados, pontuais, vimos que íamos apresentar em um palanque (desses de comício em interior, para 30 correligionários assistirem) no extremo do Centro de Convenções, quase na rua. Nos recusamos. Nossa performance (termo muito usado pelo povo do teatro dos anos 90) precisava de recursos, de luz, de música, da intimidade de uma sala fechada, e aquele vão de 100 metros de altura com um palanquito perdido no meio não ia nos dar essa condição. Fui chamado de arrogante (uma das milhões de vezes que me chamaram disso) porque estavam me cedendo o espaço e eu estava com “luxos” e exigências. Realmente fiquei muito tempo incomodado com isso, mas sempre com a convicção de que nossa criação não caberia naquele palanque de merda. As falas do Alemberg e da Catita purgaram de vez minha angústia. Grato aos dois.
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Alemberg levava a platéia pela mão, e foi chamado mais de uma vez de “headliner” do evento, que vem percorrendo várias cidades do país.
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Depois um breve intervalo e tivemos a fala de Arthur de Faria, que é músico, jornalista e produtor no Rio Grande do Sul. Falou bastante sobre a situação de “isolamento” dos músicos do sul, que fazem carreiras vitoriosas nos estados do sul e na Argentina e no Uruguai, e muitas vezes são pouquíssimos ou nada conhecidos o Brasil. Além disso, o perfil do público Argentino que faz cursos para conhecer a música brasileira, jornalistas argentinos que fazem cursos para se preparar melhor nas análises sobre MPB e outras situações tão distantes da nossa realidade.
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Arthur ainda comentou sobre o excesso inacreditável de bandas e de músicas que existem atualmente. E por isso aconselhou que alguém só deveria se meter a ter uma banda e fazer música se não “conseguisse fazer mais nada na vida”. Mas não no sentido de ser um total inútil para outras atividades, mas sim na situação de realmente só querer fazer música e ter consciência de que mais nada na existência poderia fazer o sujeito feliz. De outra forma, desistam de música. Já existem muitas. Achei muito interessante isso, porque realmente passamos pela situação de tentar ouvir inúmeras coisas novas, e nos angustiamos pelo tanto de outras coisas que não conseguimos....er... bem, eu não sofro tanto assim, na verdade. Realmente depois de 89 eu fiquei com preguiça de ouvir coisa nova, e conheço quase nada do que foi feito no rock nos anos 90, assumo e admito. Talvez isso tenha me prevenido de um enfarte, mas talvez também eu tenha perdido muita coisa interessante. Quem saberá dizer?
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Nesse instante Pedro Reator comentou uma coisa que eu havia notado quando entrei no auditório: de um lado da sala as pessoas com camisetas pretas, do outro lado da sala as pessoas com roupas “normais”, cores claras, camisas de botão. Foi muito engraçado perceber essa divisão tão nítida entre os participantes do evento, mesmo sendo um ambiente totalmente cooperativo e cheio de boas intenções. Natural, penso eu, porque buscamos ficar perto de quem conhecemos, e o povo das camisetas pretas foi chegando e se aninhando juntos, daí a divisão. Não era nenhuma rixa ou competição ou coisa babaca parecida, eram somente bandos que conviviam praticamente pela primeira vez.
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Enfim chegou a hora de Pablo Capilé falar. O homem é eloqüente, isso é inegável, e adora falar, isso é mais inegável ainda. Além disso, ele tem o discurso muito articulado e claro, porque viveu tudo aquilo que está falando, com uma paixão e uma intensidade que é muito presente no movimento estudantil, origem do Capilé. Como não ficar magnetizado ouvindo a história do Cubo Mágico, que deu origem ao Espaço Cubo e todos os Cubos conseqüentes? Fica parecendo que tudo foi fácil e que a seqüência se deu de maneira natural e tranqüila, o que obviamente não deve corresponder à realidade.
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Montar uma estrutura como a que eles têm hoje deve (suposição minha) ter custado muito sangue, muito suor, muita briga, muita teimosia e todas essas coisas que são necessárias quando você quer e precisa fazer algo grande. Mas escutar a história nos dá a sensação errônea dos passos sendo dados na hora exata, em conseqüente encadeamento e o natural sucesso de tudo isso.
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Capilé falou do Cubo Carrrrrrd (assim com um monte de “R” mesmo. Sotaque, né? rs), o que talvez seja a melhor sacada e ainda complementou falando de um “Fora do Eixo Card” que ouriçou parte grande da platéia. Para quem não conhece o Cubo Card é um sistema de crédito gerado em Cuiabá pelo Espaço Cubo para fomentar a produção e a distribuição. Como não era uma realidade a proposta de se pagar para as bandas, já que o dinheiro é curto pra todo mundo, então criaram uma moeda própria que regulamentasse o escambo. Então a banda que tocasse num evento do Espaço Cubo recebia como pagamento uma quantidade de Cubo Cards. Como o Espaço Cubo tinha o estúdio, tantos Cubo Cards davam crédito de tantas horas no estúdio. Daí a pouco surgiu uma locadora de vídeo apoiando a idéia, e a banda podia trocar seus Cubo Cards em locações de Dvd´s. Um lavajato, uma pizzaria, um artista gráfico, e dentro de pouco tempo uma cadeia produtiva tornou-se mais azeitada e enriquecida. Claro, alguns tropeços e uma quase falência, mas a idéia se sustenta quando tem estrutura boa, e isso aconteceu.
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Quando o SANGUE SECO tocou em Cuiabá, no Calango de 2006, recebemos nossos Cubo Cards, e trocamos por Cd´s, livros, camisetas, comida (o pastel assassino de céu-da-boca) e muita cerveja. Parece que foi muito Cubo Card? Foi mesmo! Aqui em Goiânia o povo do Bicicleta Sem Freio vem agindo com iniciativa semelhante também, trocando arte, suor e talento por necessidades satisfeitas. Agora imagine uma ferramenta dessas sendo válida em todo o país, com todos os envolvidos no Circuito Fora do Eixo? É algo que pode transformar relações comerciais, visto o alcance que pode ter.
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Foi interessante conhecer alguns detalhes que eu não conhecia, como o início de tudo nas universidades de Cuiabá, como a união surgida entre grupos de instituições diferentes, como o carro que foi trocado por um estúdio de ensaio e a longevidade da Volume. A Volume (Voluntários da Música) é um dos braços de atuação do povo do rock de Cuiabá, e vem organizando uma série de eventos e shows a preços bem baixos com estrutura boa e – o melhor de tudo – o envolvimento de muitas bandas na produção desses eventos. Então eles têm músicos – gente de banda – que faz a arte da divulgação dos eventos, gente que cuida da bilheteria e portaria dos eventos, gente que cuida do palco, equipamentos e instrumentos do evento, gente que se envolve e participa ativamente. Isso é uma das grandes idéias vindas de Hell City, e eu achava que fosse recente, mas já tem um punhado de tempo.
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Até comentei com o Heitor “Funbox” sobre a possibilidade de um movimento desses em GoiâniaTown, porque temos muitas bandas novas, muita gente disposta e muita reclamação sobre espaços e condições para tocar. Então porque não cooperativar e fazer acontecer? Numa ironia, reunindo várias bandas para organizar um evento, no mínimo já temos um bom público presente.
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Mas falando sério novamente, imagine Burns Records, Distorção, Anti, juntando com o povo que faz o Capuava Rock Fest, o Xaparock e tantos outros eventos e selos que vem iniciando sua atividade, e se juntando sem a preocupação de ser um outro selo, de competir com ninguém ou de querer dominar o mundo. Mas simplesmente com o prazer etílico de fazer show de rock em que todo mundo trabalhe do mesmo tanto, e consequentemente todo mundo se divirta mais.
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Olha, você pode até não gostar da tara que o povo de Cuiabá tem por comissões (toda reunião surge a sugestão de “dividir em comissões”, meudeusdocéu!), mas não pode negar que na experiência deles isso deu – e dá – certo. Então como eles não vão propor isso toda vez, se tem a vivência de que o troço funciona? Eu ainda vejo muito dogmatismo no discurso cuiabano, o que às vezes me dá algum incômodo; mas é o mesmo tanto que vejo de discurso corporativo em uma parte goiana e discurso adolescente e tapado em outra parte pequizenta.
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São cenas diferentes, não há dúvida, mas podem ser ainda mais complementares, e aí o poder de fogo disso é inigualável. Entenda melhor, Cuiabá e os Cubos possuem uma visão mais cooperativista em que o processo é valorizado e existe uma preocupação de consolidação de uma realidade para o futuro. Se pensarmos aqui em Goiânia nos Monstros a visão é outra, porque a Monstro não é uma associação, entidade ou instituição, é uma empresa, um CNPJ clássico, e que precisa pagar seus impostos, pagar salários, sanear seu fluxo de caixa e dar lucro no final do balanço. Uma visão corporativa – e que não pareça que critico, porque todos sabem do meu apreço pela visão corporativa também – que visa outras coisas diferentes do Cubo. Então ao invés do processo (que pode ser terceirizado), existe uma maior atenção com o produto; então antes de se preocupar em fazer um trabalho voltado para a “cena”, existe uma preocupação com suas próprias finanças e a construção e colaboração com a cena são conseqüência. E conseqüências reais, porque mesmo tendo a visão corporativa – empresarial é fato que ninguém fez tanto pela consolidação da cena de Goiânia como a Monstro.
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Então mesmo partindo de pontos distintos, a conseqüência dos dois trabalhos é bastante próxima, o que justifica o contato existente e a parceira vivida. Não chegam a ser arestas essas diferenças, porque uma forma não inviabiliza a outra, mas muito antes o contrário. A riqueza existe justamente na diversidade!
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Poderíamos falar de outros pontos de vista ideológicos da cidade, mas prefiro não perder tempo com castelos em nuvens, já que estamos falando de idéias que dão resultados práticos. E essa é uma grande diferença que precisa ser ressaltada, seja em Hell City ou GoiâniaRockCity, as duas visões são pragmáticas, focadas em metas e resultados e não se baseiam em ideologizar ou tentar catequizar quem quer que seja. Até por isso os dois grupos – Cubos e Monstros – possuem seus detratores, gente que reclama e fala mal, gente que tem inveja, em suma gente que não tem a competência necessária e se ressente do sucesso de quem trabalha. E que ninguém entenda também – putz, tem que explicar tudo! – que esses dois grupos são imunes à críticas porque conseguiram alcançar algumas das suas metas. A crítica é sempre muito bem vinda e qualquer pessoa com postura profissional sabe disso, o problema reside na forma como a crítica é posta, mas já falei disso em outros textos, agora não é o momento disso.
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Então imagine o poder de destruição que essas duas cidades podem ter no momento em que se unirem de forma mais organizada. Temos hoje a Fósforo surgindo como uma terceira-via autêntica, com práticas ousadas e com trabalho sério e organizado, que pode ser uma ponte entre essas duas formas de trabalhar e pensar sua importância. Esse é o momento – e talvez o próximo Vaca Amarela seja extremamente simbólico por isso –da Fósforo encorpar, ganhar músculos e se tornar a interface entre o cooperativismo cubista e o corporativismo monstruoso, fazendo com que o melhor dos dois mundos possa gerar frutos e as divergências possam ser minoradas e bem vividas. Os “Fósquis” já mostram essa capacidade quando conseguem interagir com os dois grupos de forma harmônica e inteligente, sendo apoio para ambos e sendo linha de frente em outras inúmeras iniciativas; e grande parte da força da Fósforo reside nessa interdisciplinaridade que possuem dentro da própria equipe, que favorece o contato com os diferentes e os assemelhados. E que inclusive acaba regendo a dinâmica entre os três grupos, que alternam o protagonismo a cada necessidade surgida. Adaptação e sobrevivência, essa é uma regra da natureza.
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Enfim, a fala do Capilé deixou clara a necessidade de planejamento, organização e conseqüente controle dos resultados alcançados, e fez isso com generosidade ao embarcar na sua fala todos os outros representantes musicais presentes. A tarde corria prazerosa e Capilé já tinha estourado o tempo (como normalmente acontece) e ninguém dava mostras de querer parar de ouvir, mas a organização tinha horários a cumprir e encaminhou as conclusões e os sorteios generosos de brindes. Logo depois teríamos o lançamento do Projeto Brasil Central Music com a presença de políticos e representantes das instituições governamentais, e para isso a sala precisaria ser reorganizada.
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Estávamos ali, durante o intervalo, numa prosa agradável, gente de banda, gente de música, gente de arte, ainda digerindo tanta informação recebida (em altíssima qualidade) e eu via as oportunidades que surgiam. A cada sujeito de terno que entrava, entrava junto a possibilidade de um contato, da busca por apoio, porque em vários momentos das falas foi mostrada a importância de se valer do poder público para turbinar a iniciativa rocker.
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Não se trata em momento nenhum, como foi ingenuamente dito num orkut da vida (onde mais se lêem asneiras assim hoje em dia? Talvez em blogs como esse aqui! hahahahahaha), de buscar “favor” de políticos. Eu não peço favor nenhum a um prefeito ou governador ou vereador, eu pago impostos elevados sobre minha produção profissional, sobre minha renda, sobre meu apartamento, sobre meu carro, e por esses impostos não tenho direito a favores, tenho direito a contra-partida. Eu pago imposto, o poder público me deve, simples assim. E quem fica na ideologia de querer ser cidadão de terceira, achando que isso é charmoso, realmente perdeu o trem da história em 66, como diria o Belchior. Principalmente quem produz, e que para produzir precisa de investimento, especialmente esses precisam se organizar e ir cobrar do poder público tudo que geram de renda, de trabalho, de entretenimento sadio, de lazer para a população, porque essa contra-partida é o direito de cada um desses. Não se valer desses recursos não vai fazer os tais recursos desaparecerem, alguém vai usar. Então é melhor que seja a nossa tribo a se valer disso.
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Fingir que não se depende de políticas públicas é muita hipocrisia, é fingir que não é parte da estrutura, é querer alimentar um sonho idílico de alheamento que não tem mais lugar atualmente. Cada evento feito, cada lançamento realizado, cada idéia que voa, tudo isso é parte de uma estrutura muito maior que não me permite nem aceita o distanciamento.
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A não ser quando eu finalmente realizar meu sonho e ir para Arembepe viver na praia, mas talvez nem lá. As iniciativas mostradas no Rumos apontam para uma coisa que sempre acreditei (e não sou o dono da idéia – nem da verdade – sou apenas um entusiasta dela), que para podermos alterar e gerar alguma mudança nesse sistema, podemos e até precisamos usar as armas e ferramentas do sistema. Quando um cara porreta feito o Alemberg me fala do que foi criado no Ceará buscando o apoio da iniciativa privada, quando um loki como o Capilé me mostra o aumento gigantesco e brutal do investimento do governo na cultura graças aos esforços dos Cubos e outras entidades, quando eu vejo o frito Richard se organizando para um evento único na cidade (A Semana do Rock Independente), quando fico sabendo da besta-fera Márcio Jr. convidando Íris Rezende (prefeito de GoiâniaTown, evangélico e caretíssimo) a ir ao Bananada de camiseta preta, eu me convenço ainda mais que realmente existe muita gente que sabe trabalhar, levar a sério o que faz e valorizar cada centavo que o público deposita nas iniciativas. E isso sem perder a paixão pelo que faz e acredita; e sem deixar de se divertir. Como disse o Alemberg, “fazer esse projeto foi viver minha infância pela segunda vez”. Isso não tem preço.
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Terça-feira foi um dia legal, porque me alimentou novamente da esperança de estar junto de gente séria, dedicada e ainda assim divertida no que faz e no que vive. Foi hilária a constatação do Pedro Reator sobre o bigodinho do Capilé: “Dadinho é o caralho, meu nome é Capilé!”, porque ele tava a cara do Zé Pequeno de “Cidade de Deus”. E esse personagem cinematográfico apontou uma coisa que discutíamos – Pablo Kossa e eu – uma vez no hotel, lá em Cuiabá mesmo durante o Calango; rock é coisa de classe média, de playboy mesmo. Gente como o Fred 04 ou o Canibal do Alto José do Pinho que construíam suas próprias guitarras por não ter grana pra comprar nem uma Tonante são as exceções; a grande maioria é de condição, que come seu sucrilho com Toddynho enriquecido de vitaminas; que vai para bons colégios (eu ia dizer “estuda”, mas isso não posso garantir), e que justamente por tudo isso possuem acesso a muita informação, muita leitura, muita net (muitos não saem do orkut, nem durante expediente). Esses “playboys”, mesmo não aceitando sua condição, deveriam se valer dessa situação para gerar mudanças reais, favorecer melhores condições de acesso à arte, participar de políticas públicas de incentivo à cultura, ser enfim um sujeito que participa efetivamente, e não somente que fica distribuindo panfletos através de discursos ocos.
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E Capilé ainda mencionou meu texto na sexta edição da Decibélica, e novamente num momento de sincronicidade impressionante, porque Pedro e eu falamos isso antes: E agora? Ou seja, somos GoiâniaRockCity, temos milhões de bandas, temos selos, temos festivais, mas e qual é o próximo passo? Por problemas de personalidade eu sou extremamente paranóico, do tipo “quanto tudo está indo bem, uma facada nas costas” mesmo; e sempre fico pensando no que precisa ser feito além. Então chegamos até aqui, mas e agora para onde vamos? Essa é uma discussão que Capilé se poupou de levantar devido ao tempo limitado, mas que precisa ser pensada, porque se sentarmos nos louros da vitória, teremos a bunda espetada. Louros são folhas muito duras.
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Trabalho, esforço, diversão, risadas, apoio, ajuda, tudo isso reunido num fim de tarde de terça-feira. Fui embora antes do coquetel porque tinha ensaio (SANGUE SECO toca no Bananada na sexta-feira, dia 18, às 21:30, só para lembrar ao público leitor. rs), e também porque já estava satisfeito demais, não seria um copo de cerveja ou uma coxinha que faria minha noite ficar melhor.
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Só lamentei não encontrar Nobre e Capilé depois, como tínhamos combinado. Na hora que saí do ensaio e passei no Bar do Kuka não os vi por lá, o que foi chato porque ainda queria conversar muito com esse cuiabano doido. Ao fim e ao cabo fica para mim uma frase dita no fim da fala do Pablo: “Hoje em dia tem muita gente falando sem ter o que dizer!”.
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Puxa, como tem, irmão cuiabano, como tem. Mas o futuro é vórtex, e ainda temos muita gente com conteúdo pra expor e pra construir uma nova história. Aquela terça-feira me provou isso, novamente.
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Parabéns às organizações envolvidas pela belíssima iniciativa. Abaixo segue um trecho de divulgação do projeto Rumos, que pode servir de ajuda e caminho para muita gente que quer divulgar seu trabalho e ainda não conseguiu um canal. Os meios existem, isso é um fato.
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No Sebrae, quando prestei serviços lá, se falava muito uma frase clássica em treinamentos neoliberais: “Tem gente que vê abelha e fala: lá vai a abelha que ferroa. Tem gente que vê abelha e diz: Lá vai a abelha que produz mel. Ambos estão certos, mas um está errado.”
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Pessoal, os meios existem...
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Sobre o RUMOS ITAÚ CULTURAL MÚSICA, edição 2007- 2009
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O programa Rumos Música - que completa 10 anos de atividades - tem o objetivo de mapear novos talentos, contribuir para articulações nacionais de agentes culturais, premiar e dar visibilidade nacional aos trabalhos musicais de artistas novos ou que já tenham trabalhos consolidados e que ainda não tiveram reconhecimento nacional da sua produção.
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Os artistas e grupos contemplados pelo edital Rumos Música também farão espetáculos produzidos pelo Itaú Cultural, e as apresentações serão gravadas em áudio e vídeo digital para serem distribuídas em DVD a emissoras de televisão no Brasil e exterior, além de seus currículos e contatos serem disponibilizados em inglês, francês e espanhol no site da instituição.
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Todas as informações do edital do programa Rumos Música: inscrições, abrangência, formas de envios de trabalhos e prazo de inscrição podem ser obtidas no site www.itaucultural.org.br/rumos2007
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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terça-feira, 8 de maio de 2007

Preparem-se! GoiâniaRockNews vai fazer barulho.



Esse sujeito aí da foto, com sobrancelhas espessas e cabelo por todo lado é o Hígor Coutinho. Ele é o feliz proprietário e responsável do GoiâniaRockNews - http://goianiarocknews.blogspot.com - o blog daqui de GoiâniaTown que solta deliciosas resenhas sobre discos, shows e sempre com uma agenda atualizadíssima e incandescente.
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Pois além do conhecimento enciclopédico sobre rock e suas vertentes diversas, o jovem guapo é também amigo de inúmeras bandaças daqui da cidade (e de fora também, porque ele é Fora do Eixo) e tudo isso (blog + gosto por rock + amizade com bandas + peito pra fazer as coisas) vai resultar num barulho grande em junho.
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Então se organiza porque no dia 10 de junho tem agenda proporcionada pelo GoiâniaRockNews. Não posso falar nada muito adiantado ainda, porque a veiculação de um ato já o torna um fato, e eu procuro me controlar (especialmente depois do "BellRays fiasco". rsrs).
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Mas junta Hígor, Violins, OlhoDePeixe, Bolshoi e vai cozinhando no fogo baixo, mexendo sempre no sentido horário e sem parar, porque senão empelota; e no dia 10 de junho tem um preparado potente para sacudir seu sono.
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Fica de olho e ouvido ligado! Vai ser loki!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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sexta-feira, 4 de maio de 2007

Sem comentários. rsrs


Isso obviamente é uma montagem, tá? Antes que alguém saia dizendo que o papa se meteu numa briga e - além de tomar muita porrada - foi preso. rs
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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quinta-feira, 3 de maio de 2007

E daí que o som é comercial? Esse é o pecado? Nós não achamos...

Dias atrás soltei um post aí abaixo falando de "Patrulhamento ideológico ou guilty pleasure" e de forma muito interessante não recebi muitos comentários no post, mas recebi vários e-mails de gente comentando as porcarias que apreciam. Porcarias na avaliação dos outros, porque para esses comentantes, é tudo material de brilho raro.
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Até aconteceu na "Hora do Rock" no República, agora dia 30, de estar conversando com o João Lucas e quando eu perguntei se eu era lixo porque gostava de algumas músicas do Luxúria, ele me tranquilizou: "Você não é lixo, você gosta de lixo. É diferente!". Menino sábio. rs
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Pois hoje navegando por aí achei esse comentário do lendário Kl Jay, membro do Racionais MC´s que são famosões por serem fodões, radicais, terem "atitude" e tudo mais. Achei interessante porque mostrou realmente uma independência de pensamento e uma tranquilidade de aceitação muito rara em inúmeros rockers que eu conheço. Vejam o trecho da reportagem retirado do http://oglobo.globo.com/blogs/riofanzine/:
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Mas Kljay não critica aqueles que fazem música mais comercial, pensando em vender ou tocar em rádio. Como ele já explicou lá em cima, seu próprio grupo vende muito e toca em rádio. "Qual o problema de a música ser comercial? Se ela tiver qualidade, não vejo problema algum. Tem muita coisa boa que é considerada comercial. Mais do que qualquer imagem, o importante é a qualidade do trabalho", diz.
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Bom, né?
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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terça-feira, 1 de maio de 2007

"A Hora do Rock" - pura arte e seus personagens.


Sou do teatro. Estou em palcos desde a oitava série, e nesse tempo já tive a honra de trabalhar com grandes diretores, atores e atrizes, e uma coisa que certamente eu aprendi é que uma boa história é feita por bons personagens e boas locações (ou bons cenários). O texto em si muitas vezes pode até ser improvisado, mas se você tem um rol de bons personagens com suas complexidades, doçuras, malícias e manias, você pode conseguir um bom resultado, ou melhor ainda, você faz arte.
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Segunda-feira, dia 30 de abril eu vi novamente isso acontecer. Saí do ensaio do teatro por volta das 21 horas e fui para “A Hora do Rock” no República, um evento bacanudo e simpático que acontece em intervalos esquizóides e reúne boas bandas, cerveja gelada e um ambiente pequeno, o que o torna aconchegante por algum tempo e cheio de gente boa a maior parte do tempo.
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Cheguei e fui recepcionado pelos acordes do Bang Bang Babies. Por ser uma banda que fez bons contatos, boa música e sua boa dose de suor, conseguiu espaço, vem crescendo e tocando em muitos lugares, e por isso vem também despertando sua dose de ciúme e inveja. Muita gente já fala mal dos meninos Bang Bang, o que em algumas aldeias do mundo é sinal de distinção. Não se joga pedra em árvore que não dá fruto, lembra-se disso?
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Pedrinho Malandrinho é o primeiro personagem da noite. Falta-lhe – como em muitos outros, eu incluído – beleza física. Pedro é feio, mas possui a dose combinada de teimosia que vira determinação e o destemor dos loucos ou dos irresponsáveis. Ou ainda dos corajosos, vai saber. Ele é o frontman do Bang Bang Babies (me recuso a chamá-los de BBB. A comparação não é justa). Entro no estúdio onde rola o show e ele canta com olhos baixos, a iluminação lhe favorece pois pega de baixo pra cima em seu rosto, e suas bochechas (não tão generosas quanto às do Google Valente) fazem sombra no olhar. Ele fica demoníaco, os olhos enegrecem e a expressão sem expressão que ele usa no palco me passa desprezo e arrogância. Seu cabelo desgrenhado compõe a produção visual necessária, e sua camiseta do Desastre é um toque de humildade. Cênico, bem cênico.
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Os Bang Bangs tocam som de festa. Boa de dançar e ainda assim bastante suja, com um baixão cavernoso, e Pintinho me lembra o Hook do New Order em alguns momentos, dedilhando as melodias de forma dançante até. Vital se tornou um econômico nas notas, e cada vez mais me lembras as melodias Tarantianas da surf music distorcida. E Hélio é um portento. Um “sapequinha” como diz outro personagem, Pedro Cambaleado. Hélio está deixando o cabelo crescer, deixou de lado aquele ar de “menino criado com vó” que tinha no início dos Walla Boys e agora carrega um jeitão cool de baterista rodado. O que efetivamente se tornou. E toca muito o desgraçado. Eu conheço muito pouco as músicas dos Bang Bang Babies, mas o show foi bastante legal, principalmente porque o espaço pequeno do estúdio, logo entupido de pessoas, apresenta a banda a centímetros do meu focinho, não há para onde correr.
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Uma menina dança no show dos Bang Bang Babies. Uma das poucas que vi dançando o show inteiro. Usa uma saia de bolinhas que logo desperta meu desespero (eu odeio roupas de bolinha. Com todas as forças da minha existência. Problemas, eu tenho problemas!), e sandálias de saltinho que fogem ao ritual rocker de fantasiar-se, isso me insinua uma persona muito própria, avessa à modas e padrões. Bom isso. Depois nos encontramos ao lado da geladeira. Após conversarmos um pouco (eu fazia minhas anotações e ela ajudava a fazer o caixa da venda de cerveja) ela se apresenta “Meu nome é Daniela”, e eu retribuo “E eu sou Eduardo”. Ela diz “Eu sei”. E eu não sei o que falar em seguida. Mulheres assim afirmativas são meio ameaçadoras para homens inseguros, especialmente quando não está acontecendo nenhuma dança de sedução e nenhum dos dois mostra interesse físico ou afetivo pelo outro. Esses momentos despretensiosos são os que mais exigem preparo, e eu não tenho nenhum. Fiquei olhando para os olhos verdes dela e acabo perguntando “Você não é a Daniela que eu briguei e bati boca dia desses, né? Porque seria muito constrangedor.”.
Não era essa Daniela. É outra. E essa é uma fêmea-alfa no bando, sempre cercada por rapazes ávidos, aos quais ela entrega o mínimo de atenção necessário. O tanto certo para ser educada, e o suficiente para não deixar ninguém esperançoso. Apesar de ser cercada por toda noite por um jovem e cabeludo vocalista. Tolo...
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Uma coisa que merece destaque é o potente ar condicionado da sala do estúdio em que o show foi feito. Durante o show dos Bangs segurou a temperatura com galhardia.
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Grandes personagens viam em duplas. Didi e Dedé, Batman e Robin, Crusoé e Sexta-feira, Tom e Jerry. Aqui não foi diferente. No bar Renatinho e Douglas vendiam cerveja aos berros, parecendo feirantes e com muita disposição. Figuraças. No lado de fora Mestre Gustavo e Mestre Luiz Maldonalle são sempre um par de simpatia e bom humor. “Não me fode!!!” é o mote da vez, e cada vez que escuto isso me arrependo de ter estado tão bêbado no dia que falei isso para o Luiz. É engraçado, e alguns dos melhores momentos da noite são ao redor dessas duas duplas.
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Fumar, o povo fuma mesmo. É uma pena. E o que poderia ser um lounge delicioso ("Não é dark-room!! Se eu achar pôrra no meu carpete eu mato alguém!!" urrava o gentil ogro), que é uma segunda sala do estúdio, com ambientação negra e som diferenciado, logo começa a se encher de fumaça cancerígena. Imagino que depois tenham parado, porque o cheiro diminuiu, mas não me atrevi a entrar inteiro na sala novamente. Sigo andando com meu cantil e minha boa cachaça mineira, que ia me distraindo em momentos de pura atenção naquela fauna rica que ali estava. Muita gente que não conheço, o que é ótimo, porque os tempos em que chegávamos em um ambiente e conhecíamos todo mundo eram tempos de um clubinho fechado no rock, agora muitas outras pessoas aparecem, mulheres com produção caprichada, homens bem barbeados, muita gente perfumada, outros sem barbear, outras sem produzir, muitos sem bem cheirar, mas o ambiente se torna cada vez melhor. Diversidade! A figuração é importante num evento.
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Biula é um monstro, uma força da natureza, você nunca sabe o que esperar dele. Quando cheguei Luiz já tinha me avisado que ele estava solto, e que isso era perigoso. Pois é verdade. Biula é forte também, muito forte, e como qualquer monstro, ele não tem noção da própria força, e qualquer brincadeira é quase uma fratura. No início do show do MQN algum gênio tem a idéia brilhante de colocar Biula na porta, e ele quase cria problema, pra variar. Queria deixar entrar só as mulheres e se recusava a abrir a porta totalmente. Mas é um monstro gentil e gente boa. Foi um puta roadie durante todo o show, ajudando em momentos críticos e sempre se antecipando aos problemas. Bom!
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No lado de fora foram colocadas telhas cobrindo o que antes era um vão generoso, e isso aumenta o calor substancialmente. Às 22 horas a casa já estava lotada, o que é bastante bom, porque as coisas acontecem mais rápido e a noite pode ser esticada para outros rumos (apesar de que na segunda-feira o Kuka estava fechado, segundo me disseram). Algumas coisas ainda precisam ser melhor pensadas, como em qualquer evento, e enquanto bato um papo com Túlio, comento que faltou algo para se mastigar. O povo bebe muito, isso é um fato, e se houvesse ali uma folha de alface que fosse, o povo certamente ia consumir fartamente. Pode ser outra alternativa de renda, quem sabe uma parceria com algum fornecedor. Quem sabe COM A TIA DO ACARAJÉ!?!?!?!??! Ia ser o céu!!
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Romildo vendia Cd´s. Era um cara conhecido num sebo grande que tem na avenida Goiás. Romildo saiu de lá e acredita que está quebrado. Pesquisadores americanos dizem que grandes empreendedores normalmente quebram até três vezes antes de encontrar sua verdadeira fonte de fortuna e satisfação. Romildo não quebrou nenhuma vez ainda, apesar de achar que sim. Antes vendia Cds, agora passa discos de vinil para Cds, e tem freguesia boa, porque conhece muito de música e tem as manhas e os equipamentos certos para fazer isso. E também é da equipe Monstro agora. Romildo é um cara bom de papo e divertido, e seus imensos olhos verdes, junto com sua altura exagerada o fazem um ser diferente, além de sempre estar com um sorrisão na cara. Romildo está num momento cheio de oportunidades, apesar de achar que está com poucas. Um personagem trágico sempre tem seu charme no palco. Ainda vamos ouvir muito sobre esse sujeito.
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MQN começa a tocar. Colocar uma banda como essa em espaço confinado é sempre um risco, qualquer um que já se meteu numa briga com muita gente sabe que você precisa de espaço aberto, e confinar uma usina como o MQN naquela sala se mostrava meio temerário. Uma porradaria enorme, como sempre. O povo pulando adoidado, como sempre. Uma festa de rock, como sempre. Putz, é até tedioso comentar algumas coisas, mas o script é seguido à risca, a banda entra, devasta, diverte e some. Fico pensando se a simplicidade dos acordes da guitarra são típicos do tal Stoner Rock, porque não entendo de rótulos nem de notas, e como tão poucas notas podem ser tão abrangentes e preencher tão bem as músicas, é algo que sempre me espanta. Mestre Gustavo é competência técnica, talento e visual, um pacote que qualquer banda gostaria de ter. O povo chama o doce vocalista de “Gordinho filhadaputa”, “Gordinho viado” e deve ser bom ser tão amado assim. Alguém pede “Toca Ramones” num ar de provocação, e o relógio da parede da sala mostra que muito tempo já se passou, apesar de parecer que começou ainda agora. Quando a gente está se divertindo o tempo “avoa” realmente. Na hora que tocam “Heart of Stone” a proximidade se torna perigosa e explosiva, as pessoas tomam os microfones e caem pelas caixas dando risada. “Buzz in my head” é minha favorita, e fica fantástica assim de perto. “Hard Times” é o limite do ar condicionado e a temperatura definitivamente se torna intensa, e todo mundo compreende o que acontece no Martim Cererê quando o teatro incendeia. Quente, cada vez mais e aí surge meu último personagem.
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Marlos é um sujeito bom. Completamente insano, totalmente desregrado, mas um sujeito bom. O alerta veio a semana inteira, “vou fazer feiúra”, e alguns fingiam não entender o que era isso. Pois o japonês doido invade o show do MQN, abraça Fabrício e derrama várias cervejas na cabeça dos dois. Uma chuva dourada de desperdício e sujeira. Sabe quando você está visitando alguém e a casa é nova, e os móveis são brancos, e você tenta ser o máximo cuidadoso o tempo inteiro para não fazer merda? Aí o dono da casa entra todo imundo porque estava jogando bola com o cachorro e senta no sofá e mete o pezão sujo de barro no couro branquinho? Isso foi Marlos dentro do estúdio. Todo mundo se comportando direitinho (na medida do possível pra alguns. hehe) e vem o dono da casa e derrama cerveja pra todo lado. Quando o cara mete o pé de toddy no sofá você fica a vontade, não precisa se policiar o tempo inteiro. Marlos derramou cerveja e virou uma chuva de cerveja dentro do estúdio, gente rodando latinha e fazendo a folia. Marlos é maluco! Fez feiúra como prometeu mesmo.
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Revistas Decibélicas sendo vendidas e entregues, entrevistas sendo gravadas, negociações de colunistas para novos portais e sites, muita coisa acontecendo nesse novo evento da noite rock de GoiâniaTown. Ao final, conversando com a doce Larissa, comentando os modos shrekianos do seu querido japonês, damos risada e comentamos sobre pessoas, sobre palavras e sobre o tanto que a noite foi muito. Muito cheia, muito divertida, muito boa. Uma boa prosa pra finalizar e eu estava pronto pra ir embora.
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Bons personagens, boa música e bom cenário. A propósito, o cenário!! No República, o estúdio simpático que fica ali na Alameda Botafogo com a Rua 3, no centro, bem perto de onde um dia foi a Transa, o puteiro mais famoso de Goiânia. Bem perto da Paranaíba, onde hoje é o puteiro a céu aberto da cidade. Pensando bem, o lugar é perfeito para a putaria mesmo, com uma vizinhança e história como essas, e além de ser um evento muito loki, é um estúdio fantástico, elogiado e reconhecido pelas duas bandas que tocaram. Então fica atento, porque “A Hora do Rock” é arte em seu estado mais natural, composto pela direção precisa de um suado e afobado Túlio, a co-direção insana e criativa de um ogro gentil como o Marlos, música tema sempre conduzida por grandes bandas e a presença de muitos personagens fantásticos. Arte, meu amigo, pura arte!!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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