quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Esse é só de sacanagem.


HUAHUAHUAHUAUHAUHAUHAUHAUHUAHUAHAHUAUHAUHA

Cover é brega? Quando é do Kiss, SIM!


Já viu isso? Bandas cover existem aos montes, alimentando a ilusão de um sucesso construído com o suor de outros (tá, e um pouquinho do suor dos próprios, mas bem pouquinho se compararmos com autorais), ou como diria o filósofo Richard Anti-Records: "gozando com o pau dos outros."
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Inclusive o Pablo Capilé colocou um texto no Buszine (http://buszine.blogspot.com/2007/01/banda-cover-e-cadeia-produtiva.html) com o nome de "A banda cover e a cadeia produtiva", apontando para o monte de inconveniências que ele vê numa cena que alimenta esse comportamento cover. Ao que parece, Cuiabá vive o eterno dilema das bandas que começam sua vida já criando material próprio, e das bandas que começam com covers para depois "digi-evoluírem" para material autoral. Sem falar em bandas que permanecem a vida toda fazendo material cover para tocar em bares, festas e sobreviver de sua "arte".
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Particularmente eu vejo que são situações bem diferentes. Uma coisa é o sujeito querer ter uma banda de baile, que toca somente música de outras pessoas, já consagradas e que assim se anula enquanto criador e se legitima como intérprete. Não vejo problemas nisso, até porque ainda existe muita festa de quinze anos e muito baile de formatura, e esses lugares precisam ser animados ao som de "Vital e sua moto" e "Inútil", que seriam muito melhor aproveitadas se tocadas pelos autênticos Paralamas e Ultrajes, mas que devido à escassez orçamentária ou mesmo preguiça total de tentar fazer uma coisa maior, buscam os intérpretes. Vejo valor neles, sem dúvida. Mas com essa distinção, são intérpretes da obra de outra pessoa, não são criadores o que os tornaria muito mais belos aos meus olhos. Não que meus olhos mudem a vida de ninguém, mas...
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Agora bandas que vão participar de festivais e ocupam o palco somente com covers realmente não fazem a minha predileção. Fui em um festival uma vez com um monte de bandas legais, se esforçando, algumas horrorosas, desafinadas, errando tempo, com músicas tristes e medonhas, mas se esforçando e botando a cara "à tapa". E no meio disso tudo me surgiu uma banda com uma menina até bonita no vocal, cantando bem, mas somente músicas dos outros. Pôxa, para ouvir Bruce Dickinson eu escuto em casa, muito melhor do que ela jamais vai conseguir fazer. Para ouvir Evanescence... bom, eu não escuto isso, mas se quisesse era só ligar alguma rádio FM e eu teria a menina Lee cantando do jeitinho que está no Cd. Pra que vou a um festival ouvir cover? Não faz sentido.
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Claro que um evento como o do já citado Richard, que as bandas SÓ tocam covers, como homenagens à grandes bandas, isso é diferente. É como uma festa entre amigos, em que cada um toca aquela banda que influenciou, mas ir a um festival cheio de bandas que estão tentando achar seu caminho, sua sonoridade, seu jeitão no palco, e ter que engolir um show inteirinho de covers é de amargar. Para isso existem os bares, o Cosy, o Samaúma e outros assim.
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Enfim, comecei essa prosa por causa de outra coisa. Já viu como cover do Kiss sempre é meio brega? Quer dizer, brega bragarai?? O excesso de teatralidade e pompa e cena do Kiss nunca são bem mimetizados, resultado nessas coisas patéticas que estão aí nas imagens. Porque as pessoas não percebem o ridículo da situação e desistem disso, eu não sei, mas é sempre bom dar risada dessas situações. E sei que tem gente que vai reclamar, porque se tem maluco fantasiado assim é porque tem maluco que paga pra ver isso.
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Vai entender...
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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O Império KISS vai dominar o mundo!





30/01/2007 - 18h45
Banda Kiss cria empresa de quadrinhos e conta sua história em HQs

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da Folha Online
com Reuters, em Los Angeles
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O grupo musical Kiss juntou-se ao Platinum Studios para criar uma nova empresa de histórias em quadrinhos chamada Kiss Comics Group. No mercado editorial, não é a primeira vez que membros de uma banda aparecem nos quadrinhos, mas a produção dos personagens pela própria banda é fato inédito. A marca Kiss Catalog LTd., dirigida pelos membros fundadores Gene Simmons e Paul Stanley, produzirá seus próprios personagens.
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A parceria pretende expandir a imagem de seus personagens em plataformas multimídias com o lançamento de produtos licenciados --roupas, videogames, quadrinhos para celulares, revistas e conteúdo na internet, cinema e televisão.
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O primeiro lançamento da KCG será Kiss 4k; uma história sobre a transformação de Simmons, Stanley e outros membros da banda de estrelas do rock em "espíritos guerreiros de proteção do mundo". A Kiss 4k será lançada com o preço de US$ 50, prometendo ser a maior revista em quadrinhos já publicada.
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A Platinum, dona de projetos como "Cowboys e Aliens", que será lançado pela Sony Pictures, espera turbinar as vendas com a base de fãs internacionais e de várias gerações da banda marcando presença também nos 4.000 sites de fãs ao redor do mundo. A HQ será lançada simultaneamente nos Estados Unidos, França, Alemanha, Itália e Espanha.
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Os membros da banda disseram que estarão envolvidos em todas as decisões cotidianas da empresa. "Os quadrinhos do Kiss do passado eram licenças, não eram parte da mitologia", afirmou o chairman da Platinum, Scott Mitchell Rosenberg. "Todos nós estamos trabalhando juntos, eles [Simmons e Stanley] importam-se com cada quadro da revista assim como as imagens de camisetas".

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Há braços!

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terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Orelhas vendidas separadamente


Essa veio do Chá das Cinco, no http://rodrigodelemos.apostos.com/. Muito loki!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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Trânsito - local de animais (feras e bestas)




Leia essa:

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Aqui, como em Londres

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As estradas que levam para fora do Rio nos fins de semana deste verão estão mostrando que o carioca é o mais novo londrino residente no Brasil. Não pela cortesia, pelos gestos discretos ou pelo vocabulário gentil, mas pela tranqüilidade com que a grande maioria bota o carro do lado esquerdo da pista e dane-se quem vem atrás.

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Não há sinal de luz, buzina ou seta capaz de lembrá-la que aqui, como em toda a América e na maior parte dos países, trafega-se pela direita da pista e ultrapassagens são feitas pela esquerda. No Rio, enfileiram-se 15, 20 veículos atrás de um idiota que trafega pela esquerda, não raro abaixo do limite de velocidade estabelecido para o trecho.
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Às vezes, por extrema bondade, dá lugar à passagem de uma ambulância e logo volta à esquerda da pista. Trata-se de um tipo especial de cretino que faz par com os que trafegam pelos acostamentos das estradas, para ganhar um minuto de vantagem nos engarrafamentos. Nada que um pouco de educação não resolva.
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Esse texto foi postado pelo Xico Vargas, no http://ponteaerearj.nominimo.com.br/ do NoMínimo e fala das agonias no Rio de Janeiro, mas parece que está falando de Goiânia. Como o trânsito dessa terra é recheado por imbecis e palermas, gente que acha que o lado esquerdo da avenida é via de passeio ou de descanso para sua leseira. Seguem a avenida inteira pelo lado esquerdo, atrapalhando o trânsito e ainda fazem cara feia quando alguém buzina ou dá sinal de luz.

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Goiânia é muito famosa pelo rock independente, pelas mulheres bonitas, mas uma das coisas mais características daqui é o trânsito cheio de gente burra. Uma vez, na época que eu trabalhava com publicidade, acompanhei o Alexandre Garcia do hotel ao Centro de Convenções aqui na cidade. Um traslado de dez minutos, no máximo, indo com bastante calma. Ao chegarmos ao Centro de Convenções ele comentou: "Eu já fui ao Líbano, já fui ao Irã, já cobri guerras e acidentes naturais, mas nunca tive tanto medo como no trânsito de Goiânia." Loki?

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Há braços!

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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei


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sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Documentos formais não precisam ser formais

Sabes o que é um “rider”? Não é aquela sandália que dava férias pros pés, esquece isso. Um “rider” é um documento que acompanha o contrato quando você contrata um artista, seja uma banda, um músico, um ator ou alguém que saiu do BigBrother.
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O “rider” explica tudo que o contrato não deixou claro, e muitas vezes até assume o papel de documento de contratação. Nele surgem explicações sobre o transporte dos artistas, a alimentação, o palco, equipamentos e o que vai estar disposto no camarim para a criatura que vai fazer o show.
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Ou seja, é um papel e papel aceita tudo, então o artista faz as exigências e coloca seus pedidos, o produtor de eventos negocia e chegam todos a um meio termo justo e racional.
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Existem modelos e formas de se fazer isso, mas tem gente que leva isso ao estado de arte. Iggy Pop por exemplo. Vejam abaixo – em tradução livre e irresponsável – trechos retirados de um rider enviado pela produção do iguana que contempla em DEZOITO páginas todos os detalhes à respeito da produção do show. É hilário! Aparentemente escrito pelo roadie da banda, o frito Jos Grain.
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“Aparentemente estaremos na sua área, tocando em um concerto, e você vai proporcionar os equipamentos básicos. Bão demais! Está sentado confortavelmente? Então vou começar...”
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“3 Amplificadores Marshall JCM 800 100 watts – que tenham sido testados recentemente. E quando eu digo “recentemente”, eu não quero dizer “em algum momento nas três semanas que antecederam a ocasião em que caíram 5 metros do topo do galpão em que estávamos pendurando-o, depois que ele veio daquele evento da Xavasca Palhaça Inane onde eles tiveram a Competição de Mijar no Amplificador Marshall (se ele fez fumaça e faíscas saíram, e você ainda está vivo depois disso, nós te daremos uma garrafa de cerveja. E um passeio no skate da banda. E alguma maquiagem de palhaço). E o som que ele fez ao bater no concreto!! Bad-oi-oi-oi-oing!! Como nós rimos!!”
Não! Eu quero dizer recentemente. Dentro do período de uma memória. Preferencialmente a memória de um peixe dourado.”
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“1 kit de peles de bateria com pedaços de fita adesiva amarela pregados, e a palavra “FRENTE” em caneta marca-texto em um lado. Vamos chamar este de lado da frente. Ah não, eu me confundi todo.”
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“Nós precisaremos de um homem no monitor que fale bom inglês e que não tenha medo de morrer. (Só brincando... será?)”
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E aí depois de uma longa história sobre um show em Santiago de Compostela, ele explica sobre a necessidade do homem do monitor.:
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“Enfim, onde eu estava? Ah sim... nós não temos o nosso próprio homem do monitor, porque no futuro os robôs trabalharão para nós e farão do mundo um lugar melhor.”
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“Nas próximas páginas você encontrará o mapa de palco e uma lista. Não é excitante?? Eu aposto que agora você está super feliz de ter escolhido essa carreira no mercado de produção musical...”
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“Nós tínhamos um designer para a luz uma vez, mas ele enlouqueceu então atiramos nele. Foi a coisa mais linda. Agora ele é uma forma diferente de luz, um dos pequenos gobos de Deus no Dimmer do Paraíso.”
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E então ele reclama como um fanático do uso desmedido e exagerado das luzes. Sobre fumaça, eis o comentário:
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“Sobre a fumaça, se você puder guardá-la para mandar mensagens para povos das tribos indígenas norte-americanas, eu, Grande Chefe Detonador de Bateria, serei muito feliz.”
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E novamente reclamando do uso exagerado das luzes, principalmente nos olhos do cantor – Iggy:
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“Algumas vezes fazemos shows em que o designer de luz (operador pra nós) tenta sutilmente ligar os spots no meio do show. Infelizmente, se isso acontecer, será minha incumbência achar o operador depois do show e devorar a família dele toda.”
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E sobre câmera-men invadindo o palco com seus “cabo-men”, a explicação é clara:
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“Ninguém vai ganhar um Oscar para cameramen. Não é necessário e é horrível. Ah sim, e Iggy ADORA quebrar câmeras, então realmente o melhor é não chegar muito perto dele. Claro, eu estarei próximo para tentar evitar que ele destrua seu equipamento, infelizmente, só existe uma pessoa que eu possa me lembrar que gosta mais de quebrar câmeras que ele, e SOU EU.”
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No camarim:
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“Um pacote de cartas de baralho para pôquer. Para mim. No caso de eu querer fazer alguns truques com cartas. Ou no caso de alguma das namoradas dos caras da banda curtir um joguinho rápido de strip pôquer enquanto a banda toca.”
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“Um pouco de gengibre, mel, limões e uma faca afiada, para que possamos fazer chá de gengibre, mel e limões. Deus sabe porque. E um pouco de pólvora chinesa. Para que possamos explodir o camarim. Isso é uma piada, a propósito. Que bom que isso não é um aeroporto...”
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“Um jornal de língua inglesa como o New York Times, o Miami Herald. Ou o Guardian (o meu favorito). Ou uma cópia do USA Today que tenha alguma história sobre pessoas morbidamente obesas. Muito divertido!”
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“1 caixa de garrafas de boa cerveja Premium. Você decide qual. Mas lembre-se, eu posso lhe pedir para experimentar uma garrafa, então compre algo que presta!! Aqui uma dica – a marca provavelmente não vai começar com a letra “B” e terminar com “udweiser”.”
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“6 garrafas de cerveja sem álcool. O saxofonista gosta de misturar isso com o whisky dele. E com vodka. E com outra cerveja, provavelmente. Isso caracteriza um problema de bebida?”
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“Couve flor e brócolis. Corte em pedaços pequenos e jogue imediatamente no lixo!! Eu odeio aquela merda!”
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“10 pacotes de cigarro Espírito Americano. Atualmente eu sei que a não ser que você viva nos EUA você não vai encontrar desses. Mas eles são fantásticos! São feitos de puro tabaco orgânico sem nenhum aditivo. Isso é brilhante, não é mesmo? Eles devem ser muito bons para você. De fato, que se foda, eu vou voltar a fumar de novo. Pela minha saúde.”
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“E eu acho que é só isso. Aah, não, esperai. Uma moto BMW K1200 RS SE. Azul e prateada é a mais linda. Bem, não custa tentar, né?”
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E ao final do rider, do suposto documento, o maluco que assina com o nome de Jos Grain oferece uma “receita” de reality show, em que apreciadores de cachorro teriam que comer cachorros – da sua marca favorita – para poder ganhar o show. Completamente doido! E isso num documento formal – ou qualquer coisa perto disso – usado para concluir uma negociação de show. Bom viver em um mundo onde seriedade não precisa ser idêntica a falta de bom humor.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Em tempos de Oscar...

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Desculpas


Para todos que vieram aqui nos últimos dias e não viram nenhuma mudança, acharam que o blog tinha morrido, me perdoem. Tive problemas com o Blogger, mas estou de volta (eu acho) e o blog vai voltar à vibrar.
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Mortos serão os espaços e os vazios que ficaram por aqui esse tempo, porque a natureza detesta o vazio.
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Obrigado pela atenção e visitas constantes!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Ainda falando de religião...



http://www.malvados.com.br/

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Aí você encontra mais tirinhas desse fritíssimo André Dahmer. Adoro Os Malvados, e recomendo.

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Esse André e o maluco do Galvão são dois dos melhores nessa área hoje no país, disparado. Tirinhas do Galvão você encontra regularmente na coluna do Luciano "Carioca", na Dynamite On Line, www.dynamite.com.br na coluna vizinha à minha.

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Há braços!

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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Misógino, homófobo, racista, infanticida, genocida, pestilento... esse é Deus? - parte 1

Zanzando por aí, aparentemente o tema religião e religiosidade estão na pauta desse dia, e coincidência ou não, hoje lendo a coluna do Hélio Schwartsman encontrei um texto que me impactou. Está no http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult510u276.shtml e eu trouxe o texto inteiro, na íntegra porque ele é muito bom e eu não seria calhorda ao ponto de refazer os escritos do cara fingindo que estava tendo uma idéia original. Calhorda sim, mas tudo tem limite.
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Enfim, eis o texto, e fala de um livro lançado recentemente que coloca os adjetivos do título do post em Deus. Um Deus genocida, pestilento, infanticida, homófobo, misógeno e mais um monte de outras coisas sem dúvida chama atenção, mas porque será dito tudo isso?
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Concordar ou não é a provocação primária, mas somente isso não é o suficiente, ao final do texto ele coloca umas perguntas que sempre me incomodaram realmente e que finalmente alguém colocou em palavras de forma organizada.
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Enfim, eis o texto. Divirta-se e reflita.

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Santa ilusão
Ao contrário de 97,3% do mundo --incluindo vários ateus--, achei delicioso o último libelo do biólogo britânico Richard Dawkins contra Deus. Falo do livro "The God Delusion" (a ilusão ou o delírio de Deus; a obra ainda não foi traduzida para o português), que recebeu críticas acerbas mesmo de racionalistas militantes, como Marcelo Gleiser no caderno Mais!.
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É fácil entender a revolta principalmente de religiosos com o texto de Dawkins. Os qualificativos que ele encontrou para aplicar a Altíssimo incluem: "misógino", "homófobo", "racista", "infanticida", "genocida", "filicida", "pestilento", "megalomaníaco", "sado-masoquista" e "valentão caprichosamente malévolo". O autor de fato não se vale de meias palavras para defender sua tese de que a religião é um grande engodo, um mal que deveria ser extirpado da face da terra. Só que Dawkins não se limita a afirmar essas coisas. Ele também pretende provar, com argumentos, que Deus é uma hipótese altamente improvável e totalmente desnecessária.
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Há momentos em que se sai muito bem, outros, menos. Dawkins é por exemplo magistral ao demolir a tese do "design inteligente" (ID), segundo a qual determinadas características dos seres vivos são complexas demais para ser explicadas "apenas" pela seleção natural, exigindo uma espécie de deus-projetista. Ele demonstra, por A + B, que a teoria darwiniana é plenamente satisfatória e que o ID é muito mais uma combinação de religiosidade com preguiça intelectual do que uma objeção científica séria.
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Menos convincentes são suas refutações a argumentos teológicos, como as cinco "provas" de santo Tomás de Aquino e a ontológica, de santo Anselmo. Aqui, o autor ignora séculos e séculos de sutis discussões dos doutores da igreja. Desconfio de que o fez de propósito, muito provavelmente por considerar que tudo não passa de verborragia vazia. Como ateu exemplar, também acho que essas "provas" não vão muito além da retórica, mas sou capaz de apreciar a beleza com que tais jogos de linguagem foram forjados. Não é porque não acredito em Deus que não admiro os oratórios de Händel, os afescos da Capela Sistina ou a arquitetira da catedral de Notre-Dame.
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Outro ponto que parece ter despertado a fúria dos críticos é o fato de Dawkins colocar no mesmo saco sutilezas metafísicas e argumentos divinamente tolos, como: "Ele (Deus) o ama tanto, como você pode rejeitá-Lo?". Entendo, porém, as razões que levaram o autor a proceder desta forma. Ele reuniu sem selecionar muito todos os raciocínios que já ouviu em seus longos anos de militância atéia e procurou rejeitá-los "en bloc". É por isso que se perde nessa e em outras questões bizarras que com alguma filtragem não valeriam a tinta em que são impressas, como tentar determinar se Hitler e Stálin eram de fato ateus e se isso em algum grau contribuiu para seus crimes.
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O livro melhora bastante quando Dawkins volta a seu campo de atividade biológico e sugere explicações para a universalidade da religião entre humanos. Sua hipótese é a de que a fé em deuses/Deus é uma espécie de efeito colateral adverso de mecanismos cerebrais adaptativos. Teríamos uma propensão à credulidade cujo valor pode estar em fazer com que crianças obedeçam a seus pais sem levar em conta se o que eles dizem faz ou não sentido. Essa confiança incondicional pouparia os jovens rebentos de atirar-se em rios infestados de crocodilos, caminhar na encosta de precipícios e evitar outras ameaças que poderiam custar-lhes a vida caso insistissem em aprender por conta própria.
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Outro ponto alto é quando ele relata experimentos psicológicos, notadamente os de Marc Hauser, que sugerem que o imperativo categórico kantiano está inscrito dentro de nós. Padrões de moralidade semelhantes aos descritos pelo filósofo prussiano --notadamente a idéia de que não devemos usar outros seres humanos apenas como meio para atingir objetivos-- fariam parte de nossa programação cerebral. Se isso é verdade, e tudo indica que é, cai por terra o argumento utilitarista de que a religião é a fonte da moralidade e é importante para manter a paz social. As pessoas não deixam de cometer crimes por temer ir para o inferno, mas porque têm um impulso biológico para acatar normas que julgam justas, em que pese a existência de certos indivíduos que sempre tenderão a burlar as regras.A mais feroz das críticas a Dawkins, porém, não é de conteúdo ou argumentação. Censuram-lhe o próprio projeto do livro, que é o de convencer o maior número de pessoas a abraçar o ateísmo e os já ateus a "sair do armário". Viram aí uma "intolerância" em tudo igual à das religiões.
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Talvez, mas acho que os críticos perdem de vista o profundo senso de humor com que "The God Delusion" foi escrito. O livro todo é uma grande provocação, mas uma provocação "à propos". Por que os textos usados nas escolas dominicais podem ter caráter doutrinário e uma defesa do ateísmo não? Por que, pergunta-se o autor, devemos aceitar a convenção social segundo as quais idéias religiosas devem ser respeitadas? Uma idéia idiota é sempre uma idéia idiota, não importando o campo semântico em que seja proferida. Por que podemos afirmar sem nenhum problema que determinada tese científica, econômica, ou jurídica é imbecil, mas, se ousamos dizer o mesmo em relação a uma "verdade religiosa", somos tachados de intolerantes e quem sabe até processados?Se alguém nos dissesse acreditar que brotou de uma árvore e que sempre que segura sua caneta ela se transforma num coelho voador, teríamos boas razões para duvidar da sanidade desta pessoa. Por que então não tratamos como louco o católico que afirma que Jesus nasceu sem pai biológico, de uma mãe virgem e que, toda vez que se celebra uma missa, o vinho se torna sangue e um tipo esquisito de biscoito se converte no corpo do homem?Para colocar questões mais republicanas, por que um ministro religioso, apenas por ser religioso, fica livre do serviço militar, enquanto pessoas que apenas deplorem a violência correm o risco de ter de servir ao Exército? Por que igrejas não pagam impostos e eu, que também tenho um sistema de crenças e uma ética (na minha opinião muito melhores), não faço jus à mesma regalia?
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O fato de eu compreender os propósitos políticos de Dawkins não significa que eu concorde inteiramente com eles. Acho que seu projeto é inexeqüível por razões que ele próprio aponta: a religião é um universal humano. Talvez em fins do século 19, para um observador incorrigivelmente otimista, tenha sido possível acreditar que a ciência sepultaria as crendices. Os mais de cem anos que se seguiram, entretanto, indicam o contrário. As religiões seguem firmes, fortes, separando as pessoas e provocando incompreensões e guerras. Oferecem, também, é preciso dizê-lo, conforto psicológico aos que nelas acreditam. Por índole e seguindo minha programação kantiana, acho que devemos deixar a cada um o direito de escolher o que deseja ser. Podemos e devemos mostrar nossos argumentos contrários a um Deus sobrenatural, mas sem jamais transpor a linha que separa a exposição da imposição. Não creio, entretanto, que Dawkins a tenha atravessado. Ao contrário de igrejas, ele jamais ameaçou mandar os crentes para a fogueira ou explodi-los.
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é punição, penitência, castigo... esse é Deus? - parte 2



Dizer o que do texto do Schwartsman (post acima)? É brilhante. Simplesmente brilhante, principalmente porque levanta dúvidas que eu sempre tive, coisas que sempre me irritaram profundamente, mas que nem sei se tinha clareza ou discernimento pra entender.
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Então minhas verdades agnósticas não são tão dignas quanto as verdades religiosas de outra pessoa? Porque é tão crível os fatos relatados biblicamente, que olhados de forma desinteressada beiram a ficção científica ou delírios? Então a religião é um fato imprescindível ou não?
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Já conversei sobre religião com uma mulher que é muito importante pra mim e nem sempre concordei com suas opiniões, mas sempre aceitei suas posições. Pensando igual ou diferente, é sempre interessante perceber como a mesma religião significa coisas distintas para pessoas distintas, e nisso não existe nenhuma grande descoberta, mas digo isso porque o Deus que me “venderam” quando criança era punitivo, era vingativo, era cruel e vigilante. Como eu poderia respeitar essa criatura? Eu só conseguia ter medo, quando me lembrava dele, como por exemplo na época da primeira comunhão, eu que eu teria que me confessar.
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A idéia de ter que contar para um padre todas as maluquices que eu aprontava já me desesperava, mas mais desesperado ainda eu ficava ao pensar que não adiantava não contar ao padre, porque DEUS JÁ SABIA! Ele estava de olho em mim o tempo inteiro!
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Religião deveria ser uma coisa para libertar, para mostrar caminhos, para amparar, e não para punir e limitar a vida do indivíduo. Se a sua religião te proíbe de fazer coisas que o seu bom senso autoriza, a lei permite (hehe) e te dá prazer, então muda de religião, abandona isso agora. Não te faz bem.
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Além disso tudo nunca concordei com a postura punitiva desse Deus que me apresentaram, quando – por exemplo – ele matou o rapaz que tentou equilibrar a Arca da Aliança na carruagem/carroça que a transportava. Ela ia cair, porfavor!! Mas o rapaz tenta ser gentil e atencioso, proteger a Arca e cai fulminado porque somente os sacerdotes poderiam tocar na Arca. Ou seja, as leis e regras eram mais importantes que a vida de um dedicado cidadão.
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Alguém pode me dizer que essa foi a transcrição do Velho Testamento e que afinal de contas a Bíblia foi escrita por homens. Não me abala razão, ainda posso ser chamado seguramente de cético por somente confiar e acreditar em coisas que compreendo e – maravilha quando isso ocorre – toco!
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Esse Deus punição, esse Deus medo, esse Deus castigo, sentado em seu trono imperial talvez tenha sido o primeiro rei de quem eu me tornei O INIMIGO.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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ou apoio... esse é Deus? - parte 3 e final



Esse é o seu Deus, você que chegou até aqui? Apoio, força, carinho e respeito? Se for, então eu também o respeito, continuo não acreditando, mas respeito. Pois que sirva para isso e a fé é valiosa, de outra forma viveríamos melhor sem ela.

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Há braços!

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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

eduardoinimigo@gmail.com

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Fé demais não cheira bem! Parte Segunda



O juiz da 1ª Vara Criminal de São Paulo, Paulo Antonio Rossi, deve encaminhar pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo de extradição para o Brasil dos fundadores da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Sônia Haddad Moraes Hernandes e Estevam Hernandes Filho. Os dois foram detidos ontem em Miami (Estados Unidos) por declararem falsamente à alfândega norte-americana que não carregavam mais de US$ 10 mil. O casal portava, entretanto, US$ 56 mil em espécie.

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Essa é parte da notícia sobre a prisão dos donos, master franqueadores da Igreja Renascer, e deve estar em um monte de jornais do país inteiro. Esse trecho eu retirei do http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u88515.shtml só para ilustrar.

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Você também acha um absurdo e se sente enojado de ver gente se valer da boa-fé e da crença de outras pessoas para ganhar dinheiro de forma fraudulenta e desonesta. Nessas horas até eu - agnóstico convicto - quero acreditar em inferno, porque gente assim precisa ir pro inferno.

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Mas se te parece uma coisa de grande canalhas e bandidos, que conseguem montar uma igreja e ganhar dinheiro, dá uma olhada nisso:

Faça você também: reúna um mínimo de oito amigos ou desconhecidos, tanto faz, lavre uma ata desta reunião, bole um nome chamativo, escreva um estatuto com as regras de funcionamento e os preceitos da igreja, siga até o cartório mais próximo e registre os documentos. Pronto, você nem precisa ter uma sede própria, pode começar pregando na Praça da Sé ou ali na frente do Teatro Municipal, dois redutos dos neopentecostais mais apocalípticos. De posse do registro, vem o mais interessante: inscreva-se para obter um cartão especial do CNPJ, o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, e boa sorte, amigo, segura na mão de Deus e vai. A inscrição pode ser feita até aqui pela Internet, fácil, fácil.

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Esse trecho foi retirado do artigo do Xico Sá no http://ponteaereasp.nominimo.com.br/ e mostra o tanto que é fácil montar uma igreja e sair ganhando dinheiro de gente crédula. Parece brincadeira, mas ele e o Cazé (da MTv) chegaram a fundar uma igreja para um piloto de um programa tempos atrás, e fizeram isso com extrema facilidade. Para vocês terem idéia do absurdo que isso pode chegar, você pode abrir uma igreja e usar essa igreja como laranja de qualquer pilantra, porque a igreja tem isenção fiscal e um monte de benefícios legais. E aí surgem maluquices de todos os jeitos.

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Você achou que a Bola de Neve Church era uma idéia de doidos, com um nome engraçado? Então o que você acha de "Igreja Evangélica Pentecosental Cuspe de Cristo". Não acredita? É igreja registrada com templo e tudo em São paulo. Ou ainda a "Assembléia de Deus Batista A Cobrinha de Moisés A que Engole as Outras"? Parece piada, eu sei, mas é real. Tem ainda a "Igreja Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno" e a do "Papagaio que Ora a Bíblia", juro. Existe um site chamado Igrejologia, de um rapaz evangélico do Rio, que vive só de juntar batismos exóticos de igrejas e também de terreiros. Tudo isso foi encontrado no texto do Xico Sá, então dá uma ida lá no NoMínimo e se divirta um monte. Visita o site do sujeito aí citado, você não acredita nas barbaridades.

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Realmente, nessas horas só dá pra dizer DEUS NOS LIVRE!

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Há braços!

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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

eduardoinimigo@gmail.com

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segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Fé demais não cheira bem!

Uma geração de guris cresceu nos anos 90 ouvindo Raimundos e achando o máximo aquele tanto de palavrões com a porrada sonora da banda. Até hoje temos "viúvas" dos Raimundos, que tentam convencer a humanidade que essa era a melhor banda de todos os tempos.
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Enfim, isso é opinião, cada um tem a sua, e nos cabe somente lamentar a dos outros, certos? Bão, o ponto é que o vocalista Rodolfo saiu da banda e encerrou as atividades dela por ter aceito um chamado de fé. "Encontrou Jesus" se fôssemos usar um jargão muito usual e rotineiro nessas situações. Eu particularmente não professo nenhuma religião, me reconheço agnóstico e não sinto falta ou necessidade espiritual, como muitos dizem. Também passei da fase de criticar ou detonar qualquer opção religiosa, já não tenho idade pra isso e conheço muita gente de muitas religiões que não correspondem em nada aos estereótipos vendidos nas bancas e que muitas vezes me surpreendem com suas atitudes e posturas. Conheço muitos evangélicos bem mais críticos e coerentes que outros que se dizem ateus, se formos nos basear nos estereótipos mais comuns.
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Rodolfo foi pra Sara Nossa Terra e agora está na Bola de Neve Church. Aquela igreja que tem uma prancha de surf como altar, tá lembrado? A opção religiosa é uma escolha dele, mas achei uma entrevista que mostra que ele não fez uma opção religiosa; ele ficou doido.
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Doido, maluco, lélé da cuca, pirado, frito da idéia. Não tem outra palavra pra definir um sujeito que fala as "abróbras" que ele fala, e que parece acreditar no que diz. Selecionei duas perguntas de uma entrevista feita com ele e dispus aí abaixo para deleite de você que está aqui comigo. São pérolas de insanidade e despirocança, mas isso na minha opinião. Não quero ser o dono da verdade, até porque ainda estou pagando as prestações, mas "Bush é tremendo" realmente é um tapão no pé da oreia de muito moleque que era fã desse lunático. Ou não, isso foi em outro tempo; nos saudosos anos 90. rs
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Divirtam-se!
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AcheiUSA – Qual solução para conter a violência no Brasil?
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Rodolfo – O Brasil precisa de Jesus. Uma nação que se volte para Deus que peça perdão pelos seus pecados, pela idolatria, sexualidade, podridão, que quebre esses pactos com os demônios que têm contaminado a população, o Senado, Congresso etc.
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AcheiUSA – O que pensa sobre o presidente dos Estados Unidos?
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Rodolfo – O Bush é um cara tremendo! Muitas vezes ele enfrenta o mundo inteiro por ter valores cristãos. Admiro isso nele. Ontem mesmo, estava vendo-o negar verba para as pesquisas de células-tronco alegando que agride valores do ser humano. Ele estava falando de Bíblia, que é ilegal para Deus destruir uma vida para salvar outras. Assim como ele é radical contra o aborto ou casamento homossexual. Ele não volta atrás mesmo que seja para conseguir votos.
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Quem quiser ver a entrevista inteira, o link é esse aqui ó: http://www.acheiusa.com/acheiusa/arquivo/0139/achei-colunistas-nmartinez1.asp lá tem um vídeo (ou áudio, sei lá não tive paciência) dele e uma entrevista com a esposa dele. A mulher dele explica que não compõe as músicas com ele, mas fica ao lado orando enquanto ele compõe. Será que não atrapalha a concentração? Enfim...
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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sábado, 6 de janeiro de 2007

Quem está certo é o Homero. Eu sou um idiota. Ainda sobre política.


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Sabe aquilo que eu falei aqui no blog, uns dias atrás, sobre representação política da cena rock independente? Em que eu falei da necessidade de buscarmos eleger algum dos nossos para as esferas políticas existentes, criando um vereador ou deputado Fora do Eixo ou "do rock". Sabe qual é essa prosa? Pois então, sobre esse assunto quem tá certo é o Homero. Eu sou um idiota mesmo.
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Sou um idiota por postar um troço desses no orkut e no blog. E lá no orkut, na comunidade GoiâniaRockCity (pra variar, rsrs) eu tomei as pancadas usuais, ouvi os argumentos padrão, surgiram as ironias e brincadeiras bem humoradas, outras nem tanto, mas quer saber a verdade? Eu já esperava as pedradas e as críticas de sempre, normal. E antes que alguém entenda errado, Homero é uma figura gentilíssima, que tenho a honra de chamar de amigo e que me deu essa bordoada doce "Eduardo, você é um idiota, por colocar um post desses no orkut!". Tá certo o Homero, sou um idiota, um rematado idiota. Não aprendo! rsrs
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Se não está se lembrando ou não viu o texto, dá antes uma lida nesse texto http://ogritodoinimigo.blogspot.com/2007/01/precisamos-de-novas-bandeiras-agora.html que está logo abaixo aí no Blog Inimigo.
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O importante e fundamental – na minha visão – é a discussão, essa é imprescindível, e mesmo tendo os “rebeldes de orkut” se pronunciado enfaticamente (porque não fazem isso no blog? É uma questão eterna!), muita coisa boa foi colocada dos que pensam o contrário.
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Alguns que concordaram com a hipótese eu já esperava, sei de suas convicções, outros me surpreenderam, mas os do-contra não me surpreenderam porque sei quem são. E vamos aqui distinguir aqueles que não apóiam essa idéia daqueles outros que não apóiam idéia nenhuma, são dois grupos distintos com posturas diferentes, frise-se isso. Os primeiros possuem opiniões firmadas, convicções politizadas e apolíticas, e não concordam com a vinculação com o “sistema”; mas os últimos citados são de comportamento adolescido que gostam de ser do contra. De tudo. Aos primeiros o convite ao diálogo, aos últimos... nhé!
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Para não incorrer na injustiça total (porque me reservo o direito de ser um pouco injusto) devo reconhecer que o argumento do Segundo para discordar foi novo, original e isso eu respeito. As mesmas pedradas de sempre são realmente chatas, mas pedradas novas são boas porque alimentam a discussão e nos fazem pensar. Se vêm com a mesma lenga-lenga de sempre, respondemos do mesmo modo automático, aí alguém aparece dizendo “eles são assim, nós somos de outro jeito”, logo depois vem um para dizer ”isso não vai dar em nada” e a prosa morre. Mas um argumento original é brilhante em seu ineditismo, e isso eu louvo e valorizo.
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Enfim, Segundo é contrário à idéia de representação política do povo do rock, isso é sabido por todo mundo, principalmente depois do Bananada 2006 em que ele se posicionou de forma clara durante um debate realizado no evento. Mas dessa vez ele usou um outro argumento, um que eu ainda não tinha escutado e esse me fez pensar. Segundo Segundo (o Word ficou doido achando que eu tinha repetido a palavra) existem coisas muito mais sérias que o rock para se preocupar, e da forma como ele colocou senti até que seria uma forma de egoísmo se tentássemos eleger um vereador simpático aos nossos prazeres e gostares. Pronto, um bom argumento.
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E quer saber mais? Concordo plenamente com o Segundo. Sim, é isso mesmo, ele está certo. Realmente existem coisas mais importantes para nos preocupar nesse país do que o cenário independente de um segmento da cultura. Existem coisas mais sérias, mas aí eu pergunto: E daí?
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E daí que existam coisas mais sérias no país para nos preocupar, isso inviabiliza o projeto de representação política de um segmento que se organiza na sociedade? Existem milhões de coisas sérias no país, como crianças com fome, segurança pública, saneamento básico, saúde pública, educação, asfalto em bairros afastados, doação de terrenos públicos para igrejas ao invés de serem criados espaços públicos de lazer, e a lista ia durar duas semanas se eu continuasse a teclar, então deixe-me repetir em alto e bom som (leia em voz alta essa parte, prezado leitor) para não sobrar sombra de dúvida da minha concordância: SIM, EXISTEM COISAS MAIS SÉRIAS.
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Mas quem falou que um representante político eleito pelo público rock independente vai cuidar somente de fazer festival, ajudar banda a viajar Fora do Eixo ou encaminhar projetos de incentivo cultural? Quem falou isso? Burro de quem acha que buscar um representante para um segmento é limitar a atuação desse representante a esse segmento.
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Opções políticas não precisam ser limitadas
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Temos em Goiânia um exemplo disso, que é o Tokarski. Fábio Tokarski, hoje deputado estadual, é um antigo vizinho meu lá do meu tempo de infância (a adolescência dele, portanto) na rua 3 da Vila Bandeirantes. Um sujeito brutalmente inteligente, como seus irmãos também, e um dos políticos mais coerentes e corretos que eu tenho o prazer de conhecer (sim, eu conheço alguns outros políticos coerentes e corretos), que tem sua base de votos e de apoio, mas que não se limita a isso. Ele é engenheiro, mas não se limita a brigar por causas que envolvam o CREA, pelamordedeus! Ele se envolve em brigas de direitos humanos, se posiciona sobre a resistência em Oaxaca, já se envolveu nas questões do transporte público, ou seja, o fato dele pertencer a uma categoria profissional ou militar em um espectro político não o deixa preso a convicções ou dogmas. Tokarski não falou “essa não é minha profissão” quando o Conselho de Psicologia brigou contra o Ato Médico ou pela Luta Anti-Manicomial (nada a ver com o Mestre Gustavo, viu?), pelo contrário, se engajou até o pescoço e foi importante nas discussões geradas.
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Ter um representante do rock independente é tão importante e factível quanto ter um representante do teatro (minha outra praia), ou do rádio (que tem aos montes) ou de qualquer outra forma de arte. Mas é que agora eu estou mais envolvido no rock, naturalmente penso nessa hipótese política para essa frente de atividade de agora, e também por ver que existe uma organização nascente e borbulhante no rock independente. Quer melhor oportunidade para fortalecer essa organização?
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Existe um fato: vivemos num sistema de democracia representativa. Você pode gostar disso ou não, pode concordar com o nome ou não, isso não muda a realidade. Vivemos nessa trôlha. Existe outro fato: nesse sistema sempre alguns serão eleitos para “representar” o povo. Você votando ou não, votando nulo ou em branco, não indo votar (opção bem mais corajosa de quem discorda do voto), o que quer que seja, alguém vai ser eleito porque o sistema se baseia na maioria simples. Se três pessoas votarem, duas vão decidir o pleito.
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Peço desculpas a quem vive no mundo da lua ou da mesada do pai, quem prefere pensar que vai ter menos de vinte anos o resto da vida, mas esse é o mundo real. Mesmo você estando dentro do seu quarto baixando MP3, existe uma coisa chamada Câmara de Vereadores, uma outra chamada Assembléia Legislativa, e tem um monte de caras lá dentro desses prédios com nomes engraçados. Eu prefiro que alguns desses caras lá dentro sejam amigos meus. Eu prefiro que alguns desses caras lá pensem de forma parecida com a minha e realmente me representem.
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Essa é a forma de revolução que gera mudança, interferir no sistema por dentro dele, de forma pragmática, objetiva e focada. Sem delírios de grandeza ou de pureza, porque isso são somente delírios realmente.
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Quantos somos?
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Se formos calcular a quantidade de pessoas que participam e freqüentam a cena rock aqui em Goiânia, por exemplo, teremos uma idéia da quantidade de votos que um candidato com nossas cores poderia ter. Imagine um Márcio Jr. ou Carlos Brandão candidatos? Sei que o Véio Brandas vai me xingar até a quinta geração pela sugestão apresentada, mas o povo do teatro ia votar nele, o povo da dança, da música, de todas as artes, porque é alguém engajado com nossas necessidades, que sabe o que vivemos, que pensa parecido, alguém NOSSO.
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Isso seria plausível, se não fosse a extrema facilidade que existe para muitos de criticar e negar o que nem foi tentado, com o velho argumento roto de “não gosto de política” ou coisa parecida. Entenda uma coisa, você que me acompanha até aqui, ninguém te pede para gostar de política ou entrar em um partido ou coisa parecida. Eu não pedi isso. Não pedi nada ainda, cabe comentar. O que está sendo levantado para discussão é que se você “mexeu esse rabo” (copyleft by F. Nobre) para ir votar em alguém no último pleito, então seria muito melhor que você estivesse votando em um cara que você vai encontrar no próximo Goiânia Noise ou Vaca Amarela. Muito melhor que votar em um cara que vai defender os evangélicos é votar num cara que você sabe que gosta de ouvir Slayer na casa dele.
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Mais alguns fatos, pontos de realidade.
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Mas que ninguém espere que ao conseguirmos eleger um vereador – por exemplo – a cena rock independente vai virar um oásis de maravilhas em que nos deliciaremos com colheradas de arco-íris. Nada disso. Não quero criar uma expectativa desse tamanho para quem quer que seja que surja nesse propósito, e não quero também que essa discussão alimente nenhuma ilusão de “salvador da pátria” no distinto público das cadeiras numeradas. Quando (porque não trabalho com “se”) conseguirmos colocar alguém lá dentro de algum dos prédios com nomes engraçados, ele será alguém próximo da nossa realidade, mas não será exclusivo dos nossos sonhos e nem terá poderes ilimitados para resolver tudo. Antes que surja, vamos abater a tiros qualquer esperança sebastianista que possa residir em nossos olhos adolescidos, porque isso já se mostrou desastroso para o país em montes de vezes, não seria diferente agora.
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Esse sujeito nosso eleito é um grão de areia, um tijolo na parede, um par de braços a mais na trincheira. Só. Mas já vai ser demais!
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Para que serve o rock? Só lazer, prazer ou sobreviver?
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Muitos disseram que sentem saudade do tempo que o rock era só diversão. Para quem quiser vai continuar sendo. Não vejo todo mundo que freqüenta o rock buscando alternativas de renda ou ocupação nos eventos de rock, não vejo todo mundo buscando montar blog ou selo ou produtora, não vejo todo mundo ensaiando com sua banda religiosamente toda terça-feira. Se tem uma coisa que alguns teimam em não aceitar é que os caminhos que surgem não são caminhos para todo mundo seguir junto, quem quer participar de trabalho voluntário engajado pode catar lata no Noise (como fez o Rafael), quem quiser produzir bandas pode montar um selo (como o João Lucas e o Pedro fizeram uma vez), quem quiser criar eventos ousados e originais que crie uma usina de idéias (como fizeram a Géo e o HxHx). Tá claro? Quem quiser continuar no rock forfun vai ter isso a vida inteira, quem quiser ralar sem se render ao que o sistema oferece vai ter isso a vida inteira, quem quiser ser mainstream vai ter isso também. Tem espaço pra todo mundo e ninguém disse que um vereador eleito com idéias semelhantes às nossas vai transformar todos os shows em palanques políticos e eventos beneméritos.
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O que é mais sério?
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Repetindo algo que eu já disse, concordo com o Segundo; existem coisas mais sérias. Mas primeiramente, com essa idéia não se pretende que o futuro candidato seja exclusivo do rock, e “segundamente”, é começando a discutir as coisas próximas que conseguimos massa, força e união para discutir as coisas distantes e maiores.
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Recebo regularmente e-mails falando de proteção aos animais. Muita gente critica o movimento de defesa e proteção aos animais, dizendo que deviam proteger as crianças famintas (citar crianças com fome é o jargão pop-lulista de qualquer canalha preguiçoso) ao invés de se preocupar com cães e gatos. Uma coisa não inviabiliza a outra, e alguém tem que se preocupar com os cães e os gatos. Ou não?
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Apontar os grandes problemas para tentar minar e sabotar uma busca de solução para os pequenos problemas é só um jeito cômodo de não fazer nada. Todos que lembraram as crianças famintas ou outros temas mais sérios não estão fazendo – que eu saiba – muita coisa pelas crianças famintas ou pelos outros temas mais sérios.
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O que se propõe aqui é o começo de um processo de representação, e isso quer dizer (traduzindo para os asininos de plantão) o esboço de algo que possa unir, criar mudanças, interferir de forma positiva nesse mundo de merda que temos hoje. Esboço, tentativa, esforço, ninguém está definindo formas definitivas que todos vão ter que seguir de hoje em diante, até porque o fato de termos algum dos nossos eleitos não vai impedir ninguém de jogar pedra nele, pelo contrário, vai expor mais ainda na vitrine aquilo que acreditamos e fazemos.
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A idéia de colocar alguém que ME represente no sistema político é um início de um tímido começo, a proposta de um primeiro passinho que pode beneficiar rock, teatro, MPB, sertanejo, cultura, crianças famintas, CPI´s contra mensaleiros e até Oaxaca.
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A idéia de colocar um representante político é a idéia de criar uma voz!
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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Meus agradecimentos ao Homero, pelo argumento original do texto. Valeu HxHx!!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Pablo Kossa abre o jogo!


Não que ele esconda normalmente, até porque acho que "jogo" não é uma palavra que se aplique a esse feio barbudo. Nem ele usa de "joguinhos" nem acho que saiba jogar nada de verdade, apesar de ter uma bicicleta ergométrica (isso eu ainda preciso ver pra crer).
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O fato é que Dom Pablito, capo da Fósforo Records deu uma entrevista ao Hell City, o mais novo blog de Cuiabá, feito por uma molecada nervozza e peituda (eles não tem medo de falar nada, pôr o dedo na cara, provocar, desrespeitar quem merece; isso é coisa de gente nova. Já o dino aqui é todo cuidadoso. tsc, tsc, tsc...rs) bem integrada pelo Mikhail e pelo Kléber.
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E Pablo conta tudo, numa entrevista muito djóia, sobre os planos da Fósforo para esse ano. E tem planos, menino! Não vou contar aqui, porque a entrevista é do Hell City e não rola ficar controlceiando blog de ninguém, mas quero destacar algumas cositas.
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Vai ter prévia para participar do Calango desse ano. Veja como participar!
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Lançamentos de Cd´s e Ep´s, e alguns eu realmente quero muito ver prontos. Caso do Mersault e a Máquina de escrever, que é fácil a banda mais criativa do centro-oeste, ficando lado a lado em ousadia com o Porcas Borboletas, a diferença é que os mineiros são mais cênicos e os goianos são mais climáticos. "Domus não é whisky" é uma das melhores músicas que eu já vi em melodia e harmonia, procure na inFernet e baixe sem medo.
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Também tem planos para Chapéu, Cervejas e Frustrações, e fica a indagação no ar: serão tão atrevidos no estúdio como são no palco? Vamos ver! E também Goldfish Memories que tem um dos melhores vocalistas que eu já vi cantar, uma puta vozona e o desgraçado parece não fazer força nenhuma pra soltar aquela potência toda de garganta.
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Só isso? Não! Ainda tem os meus brothers, os walla-boys, pseudo-australianos do Wolloongabbas! Finalmente o registro dessa banda que eu praticamente vi nascer.
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Mas é melhor parar por aqui, senão mais um pouco e eu atravesso a entrevista dos cuiabanos. Faz assim, visita o http://www.hellcity.blogger.com.br/ que é o blog Hell City e confere a entrevista. Aproveita e veja logo abaixo da entrevista do Pablo as considerações que os lokis do HellCity fizeram sobre um concurso/eleição que vai acontecer em Cuiabá. Os guris tem fogo nas teclas! hahahahahahahahahahahahahaha
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Precisamos de novas bandeiras! Agora. Parte 1


São novos tempos o que vivemos, isso é inegável e o calendário prova: agora é 2007. E se de tudo que vimos no ano passado pudemos aprender e apreender algo é que o rock independente está se fortalecendo, vai se consolidar (continuando os bons esforços de todos os brigões teimosos do país) e conseguir sustentar-se de pé. Excelente. E aí eu recebi hoje uma série de mensagens do Sidney Filho, figura das palavras lá de Belém do Pará, e vi que outras bandeiras precisam ser erguidas dentro em breve.
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Para apresentar tudo isso resolvi repostar um texto antigo, sobre bundices e desbundes e sobre minha decepção com a cabeça da maioria que frequenta e consome o rock. Ontem ainda tive o desprazer de ler uma discussão orkutiana em que um moleque acéfalo (pobrezinho, ninguém nasce estúpido daquele tanto) insinuava que a população carcerária americana é predominantemente negra exclusivamente por causa da cor da pele. Isso para depois afirmar que 83% da população brasileira é analfabeta, imagino que ele incluso, certo?
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Enfim... na sequência vai uma digressão sobre o tema, depois o texto sobre a bundice do rock e depois a matéria do Diário do Pará revelando outra pouca vergonha de políticos desse país.
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Digo sobre a digressão do tema porque já vejo a necessidade dessas novas bandeiras surgindo no ar, e aí pergunto: Quem vai ser o primeiro vereador ou deputado Fora do Eixo eleito nesse país? Quando vamos começar a nos preocupar com a representatividade política de nosso movimento rock independente? Ou vamos continuar gritando apenas em blogs e festivais? Quem vai sair de nossas linhas e envergar a armadura pra brigar o jogo do demônio, que é a política? Quem vai sair no tiroteio, correndo o risco de ser atacado por amigos e por rivais? Alguma hora isso vai ter que acontecer, não podemos mais fugir dessa necessidade.
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Se queremos ter alguma forma de poder de decisão e influência precisamos de organização, coesão, coerência ideológica, e isso não quer dizer que todo mundo tem que pensar igual, mas que ao menos todos consigam negociar de forma madura e organizada seus anseios, desejos e - porque não - interesses, em prol de algo que todos aqui amamos. O rock independente possui gente suficiente para incluir um representante em qualquer câmara ou assembléia desse país, e o apoio do poder público em várias iniciativas (como no norte, por exemplo) mostra que esse público interessa aos papa-votos. Então já lanço a provocação e indago: quem será o nosso primeiro vereador ou deputado Fora do Eixo? Quem será o vereador / deputado que vai manter um MP3 player em seu gabinete rodando Bang Bang Babies, Vanguart e Maldita? Quem vai vestir seu terno e ir ao plenário com suas tatuagens pulsando e um pin brilhante de uma stratocaster na lapela? Quem vai ser o primeiro sapo a enfrentar as serpentes?
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Estamos num bom momento para começar articulações politizadas visando a eleição de um vereador. Um trabalho bem conduzido, com visitas à escolas, eventos direcionados, mesas de debates regulares e constantes, o apoio de produtores e selos, tudo isso somado a um trabalho bem feito de divulgação "marketeira" mesmo, e chegaremos ao pleito municipal com alguém potencialmente forte para disputar. É uma briga boa e compensará pelos resultados. Foi-se o tempo em que somente por sermos "do rock" tínhamos o rótulo de doidos ou irresponsáveis, e muita gente mostra isso no cotidiano com seu trabalho sério e sua dedicação a uma idéia. A representação política é um passo necessário a um movimento que se quer articulado e forte, pois quando tivermos espalhados pelo país os nossos vereadores e deputados estaduais, aí sim teremos muito mais apoio para a realização da nossas atividades culturais, artísticas, que geram emprego e renda, que geram informação e lazer, que são importantes para a sociedade.
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Nós somos importantes para a sociedade. Seria um pensamento muito tacanho achar que somos menos que qualquer outra categoria, quando nosso único demérito é a desorganização (nesse sentido específico) e a falta de objetivos concretos e comuns. Entre os nossos temos grandes cabeças, gente criativa, brigona, gente com ideais, gente com atitude (entenda como quiser), gente com culhão para topar uma briga dessas, gente sem medo nem vergonha de enfrentar um microfone e falar em nome de um monte.
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Como disse Honestino Guimarães, presidente da UNE desaparecido político na Ditadura Militar, “nós voltaremos e seremos milhões", e muita gente usa isso nas camisetas ou capas de caderno. Vamos viver isso! Vamos ser isso! Não estou romanticamente sugerindo uma revolução armada, porque realmente não acredito nisso, e não vejo méritos em matar por uma idéia. Morrer sim, mas matar realmente não me soa bem. O que estou provocando, propondo é nos metermos no sistema que condenamos, é mergulhar na merda se for necessário para lá criar algo novo e nosso. O que estou propondo, antes de uma revolução, é uma (r)evolução, gerada de dentro pra fora, como uma imagem que sempre apreciei, do feto que no momento do parto se agarra aos lábios (grandes e pequenos) da mãe E A VIRA DO AVESSO!!! Vamos virar do avesso! Vamos dançar com o diabo pra fazer a nossa própria dança.
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Pensem nisso.
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Agora vem o texto; depois a matéria bacanuda sobre um fato vergonhoso:
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Do desbunde pra bundice, que trajetória!
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Estava revendo “Quase famosos” dia desses. E me veio aquela velha sensação que sempre tenho quando vejo filmes que retratam os “flash and crash days” que foram o final dos anos sessenta até o meio dos anos setenta: a vontade de ter vivido aqueles tempos. Isso porque tendo nascido no início dos anos 70 (em 1970, pra ser exatíssimo) eu vivi uma situação chata, porque quando cheguei “na festa”, ou seja, quando comecei a descobrir todas as tentações que podem assaltar um adolescente cheio de hormônios e desejos, a festa estava começando a abaixar o som.
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Digo isso porque quando eu achei que ia “espocar a cilibina”, como diria o Glauco, a maioria dos grandes artistas mundiais estava morta ou morrendo por causa dos excessos químicos, fosse álcool ou drogas ilícitas. Quando eu achava que ia “comer” o mundo inteiro, a AIDS estava surgindo ameaçadora e cruel, obrigando o mundo a se comportar ou usar preservativos desconfortáveis e brochantes, isso porque preservativos ainda soavam como algo anti-natural naqueles tempos. Então para quem é de uma geração ou duas depois da minha, é natural usar preservativos, porque praticamente nasceram usando; e as drogas já não assustam tanto assim mais, mas eu sou de uma geração que foi ameaçada, e ou se lançava de forma corajosa/amalucada nas experiências ou se recolhia à sua covardia pequeno-burguesa e seguia a vida sem extremos.
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E aí quando eu vejo um filme como “Quase famosos” ou leio um livro como “Mate-me, por favor” eu fico pensando como devia ser louco não ter medo de nada, lançar-se na vida com desesperada sede, experimentar tudo, viver tudo, assumir tudo que se pensasse, envolver-se em grandes causas e movimentações, perseguir o sonho kerouakiano e poder explodir em chamas sem receio. Assim eu sempre imaginei que fosse o ambiente rocker, com seus exageros vivenciais e ideológicos, mas me decepcionei quando finalmente pude provar o que é estar no meio rock´n roll.
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Não porque os exageros químicos não existam, até existem ainda em enorme quantidade. Claro que já não possuem tanto apelo para mim, pois já passei da hora de começar uma vida junkie, e me limito a ser um “bêbado trincado”, como me chama o Beto. As outras drogas não me chamam mais a atenção.
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A decepção vem da escassez ideológica do meio rocker. Escassez não define, a aridez é um termo mais preciso. Ao que parece o rock passou do desbunde sessentista para uma bundice no novo século, uma apatia, uma ausência de posicionamento e provocação, uma ida de um extremo ao outro sem freio nem pausa. Ao que parece o rock tornou-se tão somente uma opção de se afastar das questões e viver num hedonismo autista, mais que mergulhar nessas questões e buscar a dialética e a contradição, que eram combustível para grandes movimentações, discursos, posicionamentos e atitudes.
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“O rock errou”, Lobão disse uma vez. Talvez seja isso então, o erro foi tentar mostrar uma cara politizada e ativista, quando na verdade tudo era somente festa e exagero. O erro foi me fazer acreditar que o rock fosse um canal de expressão do que pensamos e queremos para o mundo e para o ser humano, quando na verdade então o rock é somente um canal de expressão individualizada e egoísta. E quem quiser buscar algo de melhor pro mundo que monte uma ONG antes de uma banda. Será isso?
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Dia desses numa discussão orkutiana um famoso participante reclamava que sempre que termos como “anarquismo, comunismo” e outros assemelhados surgiam na discussão, o povo reclamava, como se algo proibido estivesse sendo abordado, e brotam argumentos como “política é uma coisa chata” e coisas do tipo. Então fica a impressão de que os roqueiros de hoje são realmente os cabeças de vento que meus avós acreditavam. Isso me apavora, será que a visão radical, tradicionalista e conservadora, que por muito tempo foi alimentada por aqueles que sentiram o rock como um ato de guerra, será a certa? Será que eles afinal estavam com a razão?Isso seria muito decepcionante. Prefiro acreditar que estamos vivendo uma fase letárgica, em que a reação será violenta e destruidora; prefiro acreditar que essa é uma transição em que os ressentimentos e rancores se acumulam e se potencializam. Prefiro acreditar então que a qualquer momento algo vai ensurdecer a patuléia que quer circo, e o grito vai se tornar único, forte, coeso, íntegro, e aí então vergonha vai ser não escolher um lado, ser radical e ter atitude (e esse termo finalmente vai fazer sentido).
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Prefiro acreditar que meus avós estavam realmente errados, e que o rock é um lugar para cabeças pensantes, com idéias e ideologias, com posturas e que aceitam correr o risco por isso. Melhor que o rock seja o lugar em que as pessoas vão para ser sacrificadas e não para ser incensadas e louvadas. Melhor que sejamos os demônios ameaçadores em tudo que dizemos e acreditamos e não santos ocos, patéticos e inofensivos, mergulhados apenas em viagens químicas e negação.
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Melhor que sejamos quase famosos, e não unanimidades inquestionáveis. Ou então que alguém nos mate, por favor.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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Novas bandeiras, precisamos agora! parte 2


Agora a matéria de Belém do Pará. Vergonha...
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FONTE DIÁRIO DO PARÁ (03/01/07)
www.diariodopara.com.br

Renovado convênio com a TV Liberal


FUNTELPA Convênio já rendeu R$ 30 milhões às ORM

No apagar das luzes de 12 anos de tucanato, o ex-governador Simão Jatene aprontou mais uma: no último dia 31 foi renovado, por mais um ano, o convênio entre a Fundação das Telecomunicações do Pará (Funtelpa) e a TV Liberal. Pelo convênio, que já consumiu cerca de R$ 30 milhões, o Governo paga à TV Liberal para que ela use as 78 repetidoras de propriedade do Estado, para transmitir a programação dela, na maior parte oriunda da Rede Globo. Isto mesmo: o Governo é quem paga.
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O convênio foi assinado em novembro de 1997, na administração do ex-governador Almir Gabriel e vem sendo prorrogado desde então. Em artigo que o DIÁRIO publica abaixo, o jornalista Lúcio Flávio Pinto questiona, inclusive, a legalidade da manutenção do convênio, que já ultrapassou o limite previsto em lei, para prorrogações contratuais. Há outro problema, porém: a própria forma dessa contratação - um convênio - que não é usual entre o Poder Público e empresas privadas.
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“Esse é um assunto, no mínimo, polêmico, tanto que ensejou uma ação popular patrocinada pelo deputado federal Vic Pires Franco. E eu não acredito que o parlamentar provocaria o Judiciário, sem se cercar de todos os cuidados, numa demanda tão grave”, observa o advogado Inocêncio Mártires. Ele evita falar em ilegalidade da contratação. Mas salienta que convênios desse tipo não são comuns. “Em geral, o Governo costuma firmar convênios com entidades sem fins lucrativos ou, reconhecidamente, de utilidade pública. Com empresas privadas, é no mínimo estranho. E é por isso que eu fico intrigado com a singularidade desse contrato”, comenta.
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Aluguel de jato aumentava repasses para as ORM

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O fato é que, ao utilizar essa modalidade, o convênio, os governos tucanos conseguiram burlar as exigências da Lei de Licitações, a 8666/93, para uma contratação tão vultosa com uma empresa privada. No início, o convênio previa o pagamento, pela Funtelpa,à TV Liberal, de R$ 200 mil por mês - ou R$ 2,4 milhões por ano. Mas, foram tantos os aditamentos de preço que hoje ninguém sabe ao certo em quanto está esse repasse mensal. Vasculhando as páginas do Diário Oficial do Estado é possível estimar, porém, num cálculo por baixo, que a transação já consumiu cerca de R$ 30 milhões.
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Na noite de ontem, a reportagem do DIÁRIO tentou ouvir a nova presidente da Funtelpa, Regina Lima, mas ela disse que não poderia adiantar nada sobre o assunto, uma vez que ainda deverá conversar com a governadora Ana Júlia Carepa. A reportagem também tentou contato com a governadora e com a assessoria de imprensa dela, mas não obteve retorno.
O convênio é apenas um exemplo das relações camaradas, da última década, entre os governos tucanos e as Organizações Rômulo Maiorana (ORM), grupo empresarial do qual a TV Liberal faz parte.
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Outro exemplo é o aluguel de um jatinho da ORM Táxi Aéreo, pelo Governo do Estado. O contrato, de número 020/03-CMG, já consumiu mais de R$ 5,250 milhões, em menos de dois anos. E apresenta sinais evidentes de superfaturamento. Até o ano passado, a TAM, por exemplo, cobrava R$ 15,00 por quilômetro voado, na locação de um jatinho executivo, com a mesma capacidade de passageiros da aeronave da ORM. Com isso, uma viagem de 6 mil quilômetros - ida e volta entre Belém e S. Paulo - saía, na TAM, a R$ 90 mil. Mas alcançava R$ 162 mil, na ORM Táxi Aéreo, uma vez que ela cobrava, ao Governo, R$ 27,00 por quilômetro voado.
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Grupo também recebia verbas para propaganda
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No entanto, o jatinho e o convênio representam, apenas, uma gota d’agua no oceano de recursos públicos que os governos tucanos repassaram, anualmente, aos Maiorana, ao longo da última década. O grosso do faturamento do grupo vinha, mesmo, das verbas da propaganda oficial.
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No ano passado, o contrato de propaganda do Governo do Estado, apenas para a administração direta e algumas autarquias, atingiu R$ 41,6 milhões, entre valor base e aditamentos. E a estimativa, nos meios publicitários, é que pelo menos 70% desse valor foram destinados a ORM.
Ou seja, entre o aluguel do jatinho, o convênio da Funtelpa e as verbas da propaganda, as ORM recebiam, por ano, do Governo do Estado, algo em torno de R$ 33,8 milhões. Um volume de recursos tão extraordinário que daria, por exemplo, para construir 134 unidades de saúde, beneficiando 90 por cento dos municípios paraenses. E que deixa longe o que foi repassado, em ICMS (Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), em 2005, a maior parte dos municípios paraenses. É o caso, por exemplo, de Marabá (R$ 23,3 milhões em ICMS e mais de 195 mil habitantes), Santarém (R$ 14,2 milhões e mais de 274 mil habitantes) e Ananindeua (R$ 24,7 milhões e mais de 482 mil habitantes).
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Trapaça Tucana
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No último dia 28, o já agora ex-governador Simão Jatene, do PSDB, ainda no exercício do cargo, demitiu Ney Emil da Conceição Messias Júnior da presidência da Fundação de Telecomunicações do Pará. O decreto de exoneração é datado do dia 28, mas, de forma inusitada, prevê que só começará a contar três dias depois, no dia 31. Para arrematar, a dispensa do servidor só foi publicada no Diário Oficial de ontem, 2, quando o primeiro número da publicação circulou sob a administração de Ana Júlia Carepa, do PT.
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Essa mesma edição do DO também publicou ato do mesmo Ney Messias aprovando o 14º termo aditivo ao convênio entre a Funtelpa e a TV Liberal, que prorrogou o prazo de vigência dessa relação a partir de 31 de dezembro do ano passado e término em 31 de dezembro deste ano. O “convênio” (que devia ser um contrato) venceu, na verdade, no dia 29. O aditivo que o prorrogou deixou, assim, dois dias vagos, sem cobertura legal. Mas esse deve ter sido considerado apenas mais um “detalhe” irrelevante. O que importava era deixar o ato para o último dia dos tucanos no poder, mas só o tornando público depois da transferência do governo, como um fato pronto e acabado, consumado.
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Essa estratégia tem uma explicação: o tal convênio, assinado originalmente em setembro de 1997, no primeiro mandato do governador Almir Gabriel, é um das mais insólitas criações da administração pública em toda história do Pará. Por ele, a Funtelpa cedeu seu sistema de transmissão de imagem e áudio de televisão para a TV Liberal por todo interior do Estado.
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As torres e estações da fundação deviam ser usadas em benefício da emissora pública de televisão. Mas a TV Cultura tem que se limitar a ter uma cobertura apenas metropolitana, em torno de Belém, sem acesso à rede de retransmissão do próprio Estado.
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Mas a TV Liberal não se limita a usar a Funtelpa para espalhar sua programação comercial, baseada na TV Globo: ela ainda recebe 200 mil reais por mês, valor, sujeito a correição, que já foi aditado diversas vezes nos sete anos de vigência do convênio. Significa dizer que a TV Liberal, além de nada pagar pelo uso do bem público, ainda recebeu mais de 30 milhões de reais nesse período. Nada há, nos anais de qualquer governo no Brasil, igual a esse “convênio”, que continuará em vigor, depois de 14 aditamentos e extrapolando o limite legal de cincos anos, por um ano inteiro do mandato de Ana Júlia, se a nova governadora nada fizer em contrário. Fará?
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Lúcio Flávio Pinto
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E aí meu povo, vamos continuar com a "boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar"? Ou vamos começar a nos organizar de forma sistemática para erguermos nossas bandeiras e deixar uma marca definitiva em nossas regiões? Eu já coloquei a cara - timidamente - na janela, quem quiser o tumulto já tem o convite impresso aqui, pintado no asfalto em frente à minha casa, com meu sangue e minhas crenças. É um convite, vem quem quer.
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E você, quer?
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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