quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Misógino, homófobo, racista, infanticida, genocida, pestilento... esse é Deus? - parte 1

Zanzando por aí, aparentemente o tema religião e religiosidade estão na pauta desse dia, e coincidência ou não, hoje lendo a coluna do Hélio Schwartsman encontrei um texto que me impactou. Está no http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult510u276.shtml e eu trouxe o texto inteiro, na íntegra porque ele é muito bom e eu não seria calhorda ao ponto de refazer os escritos do cara fingindo que estava tendo uma idéia original. Calhorda sim, mas tudo tem limite.
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Enfim, eis o texto, e fala de um livro lançado recentemente que coloca os adjetivos do título do post em Deus. Um Deus genocida, pestilento, infanticida, homófobo, misógeno e mais um monte de outras coisas sem dúvida chama atenção, mas porque será dito tudo isso?
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Concordar ou não é a provocação primária, mas somente isso não é o suficiente, ao final do texto ele coloca umas perguntas que sempre me incomodaram realmente e que finalmente alguém colocou em palavras de forma organizada.
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Enfim, eis o texto. Divirta-se e reflita.

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Santa ilusão
Ao contrário de 97,3% do mundo --incluindo vários ateus--, achei delicioso o último libelo do biólogo britânico Richard Dawkins contra Deus. Falo do livro "The God Delusion" (a ilusão ou o delírio de Deus; a obra ainda não foi traduzida para o português), que recebeu críticas acerbas mesmo de racionalistas militantes, como Marcelo Gleiser no caderno Mais!.
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É fácil entender a revolta principalmente de religiosos com o texto de Dawkins. Os qualificativos que ele encontrou para aplicar a Altíssimo incluem: "misógino", "homófobo", "racista", "infanticida", "genocida", "filicida", "pestilento", "megalomaníaco", "sado-masoquista" e "valentão caprichosamente malévolo". O autor de fato não se vale de meias palavras para defender sua tese de que a religião é um grande engodo, um mal que deveria ser extirpado da face da terra. Só que Dawkins não se limita a afirmar essas coisas. Ele também pretende provar, com argumentos, que Deus é uma hipótese altamente improvável e totalmente desnecessária.
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Há momentos em que se sai muito bem, outros, menos. Dawkins é por exemplo magistral ao demolir a tese do "design inteligente" (ID), segundo a qual determinadas características dos seres vivos são complexas demais para ser explicadas "apenas" pela seleção natural, exigindo uma espécie de deus-projetista. Ele demonstra, por A + B, que a teoria darwiniana é plenamente satisfatória e que o ID é muito mais uma combinação de religiosidade com preguiça intelectual do que uma objeção científica séria.
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Menos convincentes são suas refutações a argumentos teológicos, como as cinco "provas" de santo Tomás de Aquino e a ontológica, de santo Anselmo. Aqui, o autor ignora séculos e séculos de sutis discussões dos doutores da igreja. Desconfio de que o fez de propósito, muito provavelmente por considerar que tudo não passa de verborragia vazia. Como ateu exemplar, também acho que essas "provas" não vão muito além da retórica, mas sou capaz de apreciar a beleza com que tais jogos de linguagem foram forjados. Não é porque não acredito em Deus que não admiro os oratórios de Händel, os afescos da Capela Sistina ou a arquitetira da catedral de Notre-Dame.
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Outro ponto que parece ter despertado a fúria dos críticos é o fato de Dawkins colocar no mesmo saco sutilezas metafísicas e argumentos divinamente tolos, como: "Ele (Deus) o ama tanto, como você pode rejeitá-Lo?". Entendo, porém, as razões que levaram o autor a proceder desta forma. Ele reuniu sem selecionar muito todos os raciocínios que já ouviu em seus longos anos de militância atéia e procurou rejeitá-los "en bloc". É por isso que se perde nessa e em outras questões bizarras que com alguma filtragem não valeriam a tinta em que são impressas, como tentar determinar se Hitler e Stálin eram de fato ateus e se isso em algum grau contribuiu para seus crimes.
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O livro melhora bastante quando Dawkins volta a seu campo de atividade biológico e sugere explicações para a universalidade da religião entre humanos. Sua hipótese é a de que a fé em deuses/Deus é uma espécie de efeito colateral adverso de mecanismos cerebrais adaptativos. Teríamos uma propensão à credulidade cujo valor pode estar em fazer com que crianças obedeçam a seus pais sem levar em conta se o que eles dizem faz ou não sentido. Essa confiança incondicional pouparia os jovens rebentos de atirar-se em rios infestados de crocodilos, caminhar na encosta de precipícios e evitar outras ameaças que poderiam custar-lhes a vida caso insistissem em aprender por conta própria.
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Outro ponto alto é quando ele relata experimentos psicológicos, notadamente os de Marc Hauser, que sugerem que o imperativo categórico kantiano está inscrito dentro de nós. Padrões de moralidade semelhantes aos descritos pelo filósofo prussiano --notadamente a idéia de que não devemos usar outros seres humanos apenas como meio para atingir objetivos-- fariam parte de nossa programação cerebral. Se isso é verdade, e tudo indica que é, cai por terra o argumento utilitarista de que a religião é a fonte da moralidade e é importante para manter a paz social. As pessoas não deixam de cometer crimes por temer ir para o inferno, mas porque têm um impulso biológico para acatar normas que julgam justas, em que pese a existência de certos indivíduos que sempre tenderão a burlar as regras.A mais feroz das críticas a Dawkins, porém, não é de conteúdo ou argumentação. Censuram-lhe o próprio projeto do livro, que é o de convencer o maior número de pessoas a abraçar o ateísmo e os já ateus a "sair do armário". Viram aí uma "intolerância" em tudo igual à das religiões.
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Talvez, mas acho que os críticos perdem de vista o profundo senso de humor com que "The God Delusion" foi escrito. O livro todo é uma grande provocação, mas uma provocação "à propos". Por que os textos usados nas escolas dominicais podem ter caráter doutrinário e uma defesa do ateísmo não? Por que, pergunta-se o autor, devemos aceitar a convenção social segundo as quais idéias religiosas devem ser respeitadas? Uma idéia idiota é sempre uma idéia idiota, não importando o campo semântico em que seja proferida. Por que podemos afirmar sem nenhum problema que determinada tese científica, econômica, ou jurídica é imbecil, mas, se ousamos dizer o mesmo em relação a uma "verdade religiosa", somos tachados de intolerantes e quem sabe até processados?Se alguém nos dissesse acreditar que brotou de uma árvore e que sempre que segura sua caneta ela se transforma num coelho voador, teríamos boas razões para duvidar da sanidade desta pessoa. Por que então não tratamos como louco o católico que afirma que Jesus nasceu sem pai biológico, de uma mãe virgem e que, toda vez que se celebra uma missa, o vinho se torna sangue e um tipo esquisito de biscoito se converte no corpo do homem?Para colocar questões mais republicanas, por que um ministro religioso, apenas por ser religioso, fica livre do serviço militar, enquanto pessoas que apenas deplorem a violência correm o risco de ter de servir ao Exército? Por que igrejas não pagam impostos e eu, que também tenho um sistema de crenças e uma ética (na minha opinião muito melhores), não faço jus à mesma regalia?
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O fato de eu compreender os propósitos políticos de Dawkins não significa que eu concorde inteiramente com eles. Acho que seu projeto é inexeqüível por razões que ele próprio aponta: a religião é um universal humano. Talvez em fins do século 19, para um observador incorrigivelmente otimista, tenha sido possível acreditar que a ciência sepultaria as crendices. Os mais de cem anos que se seguiram, entretanto, indicam o contrário. As religiões seguem firmes, fortes, separando as pessoas e provocando incompreensões e guerras. Oferecem, também, é preciso dizê-lo, conforto psicológico aos que nelas acreditam. Por índole e seguindo minha programação kantiana, acho que devemos deixar a cada um o direito de escolher o que deseja ser. Podemos e devemos mostrar nossos argumentos contrários a um Deus sobrenatural, mas sem jamais transpor a linha que separa a exposição da imposição. Não creio, entretanto, que Dawkins a tenha atravessado. Ao contrário de igrejas, ele jamais ameaçou mandar os crentes para a fogueira ou explodi-los.
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3 comentários:

Bosco Carvalho disse...

Ah! teísmo, ateísmo, comunismo, socialismo, capitalismo, marxismo, stalinismo, nazismo, são só rótulos com os quais nos identificamos para 'acharmos' que somos.
Sem estas muletas todas, a maioria de nossos companheiros de viagem, não teria como achar nem o rumo de casa, quanto menos o buraco da fechadura.
Em nossa infantilidade intelectual, espiritual, moral, acreditamos na maioria das coisas que de alguma forma alcançaram nosso sistema cognitivo.
Uma grande parte destas 'crenças' nos foram impostas por alguém maior do que nós, de quem dependíamos para sobreviver: os adultos à nossa volta quando éramos crianças. Alguns foram nossos pais. Para uma grande parte de nós, a babá, que na verdade era a 'empregada doméstica', geralmente analfabeta e desinformada.
Ou seja: uma grande maioria foi 'educada' por alguém sem educação formal, de horizontes e cultura limitados.
O Brasil mesmo, só saiu da agraridade há bem pouco...
E pensar, é um ato de coragem. O que falta à grande maioria dos acomodados que se auto-denominam 'reis da criação'.
Se você me perguntar qual o pensamento que passou por minha mente ontem, às 16:31 ou hoje há 1 hora atrás, eu não saberei te dizer.
Nem você, nem ninguém.
Somos umas maquininhas biológicas, inconscientes, movidas por algum 'software' que nos dita algumas regras de sobrevivência. E somos incoscientes da grande parte daquilo que acreditamos ser.
Escolhemos um certo tipo de carro, roupa, refrigerante ou bolacha, a partir de mensagens manipulativas elaboradas por quem sabe fazê-las.
E os religiosos e governantes sempre souberam muito bem com juntar forças para dominar 'as ovelhas' e forçá-las 'sutilmente' a obedecer. A 'servir'...
Poderemos discutir 'ad infinitum' o crer/descrer...
Mas geralmente não daremos o passo decisivo em direção à conquista nos restantes 97% daquilo que realmente somos.
Por outro lado, o momento atual é um momento de muitas possibilidades: a física quântica começa a estabelecer a ligação entre 'espírito' e 'matéria', de uma forma vem de encontro ao que alguns místicos orientais sempre mencionaram.
Estamos entrando em uma fase de compreensão do universo como algo multidimensional, atemporal e eterno, sem a necessidade de termos um déspota, cruel, impiedoso e sanguinolento que é como muitos 'pintam' o que se convencionou chamar de DEUS.
É bem provável que algum fanático 'teísta' venha a atentar contra a vida do autor do livro mencionado.
Uma certa parcela daquilo que convencionamos chamar de 'humanidade' sempre teimou em querer contradizer o termo, apedrejando, envenenando, enforcando, esfaquando, crucificando aqueles que 'pensam além das normas estabelecidas'.
Um dos últimos a receber este tipo de tratamento, foi o famigerado 'Osho'. E quem já o leu ou presenciou seus discursos, sabe que Richard Dawkins não está escrevendo nada novo...
Mas de qualquer forma, é muito saudável que alguém da 'velha Europa' retire as lajes das catacombas mentais em que muita gente teima em usar como um cajado para poder continuar a viver...

joyci disse...

Deus ñ é esse Deus ruim,pelo contrário ele é bom e misericordioso,somos nós q "pedimos"a punição,o castigo...através das nossas decisões.
Se vc ñ acredita em Deus,então deixa eu te fazer uma pergunta!Como vc prova sua existencia?Pela lei do Big Bang?Deixa eu te falar outra coisa, vários cientistas provam q o Big Bang aconteceu por meio de substancias estranhas e desconhecidas,ou seja,ñ reconhecem essas substancias.Daí vamos para a Bíblia quando através de Moisés com seu cajado DEUS abre o Mar Vermelho,o q aconteceu ali foi algo inacreditável aos olhos humanos,ñ foi?E se eu te contar q isso também aconteceu por meio de substancias estranhas e desconhecidas,ou seja,o q podemos hoje chamar de milagre.Outra coisa a Terra está numa posição em q se ela tivesse 10% mais perto do sol ou 20% mais longe do sol ñ existiria vida,se a camada de ozÔnio fosse mais fina um pouco os raios do sol pentrariam mais fortes e se fosse mais grossa seria muito frio,então tbm ñ exisistiria vida e assim por diante.Será q tudo o q existe aqui foi por acaso ou planejado?Foi a teoria do Big Bang ou DEUS?
Ñ diga q DEUS ñ existe,vc,a sua existencia é uma das maiores provas q mostram q Ele exite.Independente de quaquer coisa Deus te ama icondicionalmente.Ele ñ quer te ver sofrer,são os próprios atos q te levam a receber o q eles te fazem merecer.Ñ é religião q salva, isso eu te garanto,mas o q salva é a fé.Então tenha fé, acredite N'Ele! Jesus está voltando vc vai querer ficar e passar por uma terrível tribulação?Ou quer viver em paz?No grande Dia ñ vai adiantar se arrepender do q passou.
Deus te abençoe!

Anônimo disse...

Nao da para debater com fanáticos que acreditam em fábulas. Só dizem m. Falam as asneiras da biblia como alguem que acabou de descobrir a pólvora. Me considero ateu por que conheço a biblia e outros. O contrario nao seria ateu... Seria indiferente.