quarta-feira, 19 de abril de 2006

E para os xiitas do rock eu ergo meu dedo médio. – primeira parte, a poesia

Nunca conheci quem tivesse feito merda!

No meio rock independente todos os conhecidos tem sido campeões em tudo. Sabem exatamente como se comportar, o que fazer, o que falar, aonde ir, que roupa usar, o jeito certo, a forma exata de se comportar. Todos possuem receitas certas e definitivas do que é ser rockeiro, punk, independente, alternativo, regueiro, hippie, boy, com atitude ou vendido. E rotular e apontar o dedo e mostrar as falhas é um esporte tão praticado e venerado, que por momentos parece que vivemos novamente tempos de inquisição.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, tantas vezes velho, tantas vezes ingênuo, tantas vezes diferente, tantas vezes querendo ser profissional. Mas que ao crivo da inteligentsia dos rockeiros me torno apenas indesculpavelmente sujo. Eu que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar cerveja quente.. Eu que muitas vezes não tenho tido o cuidado de ficar calado e não me manifestar. Tantas vezes que sou ridículo, absurdo. Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes do código de comportamento rocker, que tenho sido arrogante ao tentar propor algo diferente. Que tenho sofrido enxovalhos, mas não me calo. Parece que não aprendo.

E que quando não me calo, tenho sido mais atacado ainda. Eu que quando a possibilidade da briga surgiu, me afasto para longe dela, por não acreditar que bater boca seja produtivo, por não querer agredir nem ser agredido, por querer participar.

Não eu, mas nós (porque somos muitos), que temos sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, começamos a pensar que não temos pares nisto tudo neste mundo. Toda gente que conhecemos e que fala conosco, ou tecla conosco, nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe, todos eles príncipes na vida.

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana que me confessasse que não concorda com o pregado pelo baluarte da cena, que não precisa atacar para se defender, que acredita que colaborar não é fraqueza. Que me contassem não uma violência, uma crítica, uma chacota, mas uma covardia, uma fuga, um medo. Não. São todos o Ideal, se os ouço e me falam. Sabem exatamente o que é bom, o que é o jeito certo de pensar, o que confere credibilidade, o que agrada, o que está no manual "Como ser rockeiro – for dummies" ou "Tenha atitude em 10 lições".

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez cometeu algo fora do padrão, que foi a uma rave, que ouviu funk pancadão, que dançou reggae com sua amada, que seguiu alguma moda boba quando adolescia. Que uma vez – de acordo com as regras – foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos!

Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente na cena rock independente? Então só eu que sou covarde, fraco, medroso, tenho emprego, quero dinheiro e conforto, gosto de cerveja gelada e detesto filas? Só eu sou vil nesta cena? Só eu que quero alguma melhoria?

Poderão as mulheres não os terem amado, podem ter sido traídos – mas ridículos nunca! Emo nunca! Regueiro nunca! Funcionário nunca! Sério nunca!

E eu que tenho tentado trazer o que sei da minha profissão para o rock, como posso falar com tantos superiores sem titubear?

Eu que tenho sido vil, literalmente vil.

Vil no sentido mesquinho, infame e neoliberal da vileza.

Meus agradecimentos à Álvaro de Campos, e meus parabéns a quem sabe o porque desse agradecimento.

Na segunda parte, a ciência.

Eduardo, O Inimigo do rei

eduardoinimigo@gmail.com

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