segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Panela de tú é túúúúú!

Panela de tú é túúú!!

Aconteceu num processo eleitoral aqui do estado de Goiás uma vez. Um dos candidatos, que até então não tinha muitas chances de se eleger governador, apelou para um recurso cômico e criativo; a panela. Isso porque o candidato que tinha totais chances de vencer a eleição, um caudilho babão tradicional e histórico do estado havia se candidatado a governador, colocado a esposa candidata a senadora e uma curriola de apaniguados em candidaturas correlatas. Pois eis que surge em horário eleitoral um comediante falando da “panela” e os males que a “panela” iria causar, e junto a isso criou o termo “denosauro” para se referir ao caudilho salivante pré-histórico, e eis que ao final da campanha o candidato que tinha poucas chances massacrou a “panela” apresentada no horário gratuito que nós pagamos (ué, então não é gratuito?).
Panela então é um termo associado a grupelhos rasteiros, que se valem de atitudes nem sempre dignas para conseguir alcançar os seus objetivos, nem sempre dignos. Infelizmente o que deveria ser uma distinção para grupos com comportamentos pouco éticos, aparentemente virou uma denominação usual para qualquer grupo que se une e se protege, se favorece e se defende.

Digo isso porque tornou-se muito comum em GoiâniaTown esse argumento de que a panela não favorece a cena, porque não abre espaços para outras bandas. E então essas bandas que não fazem parte da panela, não tem apoio e por isso não tocam, não aparecem e por isso não sobrevivem.
Honestamente? Isso me cheira a comodismo e covardia, além de uma boa dose de burrice. Porque senão vejamos; qual seria o motivo de se montar um selo, contratar algumas bandas, fazer um festival e não se valer desse festival para divulgar as bandas que você contratou quando montou aquele selo? Não é extremamente óbvio para qualquer um que os donos de selo organizam festivais para mostrar o trabalho de seus contratados? Isso é panela? Não penso que seja, isso é grupo de trabalho, isso é cadeia produtiva, isso é ordem natural de mercado, isso é qualquer coisa orientada para resultados, mas não é panela.
Conversando com outros produtores de outros estados eu percebi que isso existe exatamente igual em todos os lugares. Os produtores de eventos sempre são tachados de protecionistas ou sectaristas por elencarem suas bandas nos festivais que organizam, gerando então uma situação onde sempre são as mesmas bandas a se apresentar, negando espaço para as novas bandas que surgem. E isso mesmo quando elencam suas bandas e também bandas de outros selos ou mesmo bandas do MSS (Movimento dos Sem Selo).
Antes que possa parecer que eu nego o fato da repetição ad nauseum das mesmas bandas nos festivais, eu confirmo; isso realmente existe. Quando o Violins ou o Rollin Chamas aparece em algum festival da Monstro, isso se deve muito ao compromisso assumido do selo com as bandas contratadas, mas alguém pode negar a qualidade dessas bandas? Alguém consegue dizer que essas bandas não merecem estar aonde estão, muito por causa do seu trabalho, ralação e dedicação ao que fazem? Acho difícil. Vejam esse detalhe bem atentamente: são bandas que ralaram e ralam muito pela sua música. Negue quem puder.
O problema é um pouco maior e mais complexo do que simplesmente rotular quem defende os seus; e lembrando que esses “seus” não são parentes, mas contratados de quem se espera resultado, rentabilidade, retorno ou no mínimo credibilidade. Ou seja, os selos precisam garantir visibilidade para as bandas contratadas, porque isso é o que vai gerar o retorno para o selo, na maioria das vezes em credibilidade e reputação, porque grana é artigo raro no cenário independente. Ainda.
Vejamos o problema em pedaços distintos. Um selo surge e contrata uma banda, contrata outra e dentro de pouco tempo tem 20 bandas em seu cast (qualquer semelhança com a realidade é uma grande cagada mesmo, porque eu não sou dono de selo e estou falando de atrevido). Esse selo precisa divulgar essas tantas bandas o máximo possível para garantir algum retorno delas, e isso vai levar algum tempo, o que quer dizer que por algum tempo esse selo não vai contratar bandas novas. Repito que isso é minha visão do negócio, totalmente aberta a correções e eventuais broncas. Pois bem, nesse tempo em que se trabalha a divulgação dessas bandas fica difícil colocar mais bandas no cast, pois enquanto não existir retorno das primeiras não existe justificativa para se colocar outras na lista, até porque existem custos envolvidos.
Nesse meio tempo centenas de bandas vão surgir (ao menos em GoiâniaTown, em que bandas brotam aos montes from dusk till dawn) e pelo exposto anteriormente, vão ficar sem selo, sem apoio, sem exposição. Temos uma parte do problema, e a ele voltaremos mais adiante.
A outra situação são os festivais, que são organizados pelos donos de selo. Obviamente esses donos de selo começaram a fazer festivais porque não deveriam haver outros lugares para expor suas bandas contratadas, e ao tomarem essa iniciativa criaram essa situação esquizóide. Pois se tivéssemos organizadores de festivais e donos de selos em duas instâncias distintas, teríamos maior participação de maior quantidade de bandas, já que os donos de selo iriam oferecer seus contratados e os organizadores selecionariam baseados em retorno estimado, ou seja, público que a banda levaria ao festival. Eis uma situação e sua provável solução, mas que não se adequa a realidade. Isso porque os selos que hoje fazem festivais pelo país (Monstro, Beacid, FanROck, Espaço Cubo, Baba de Calango e muitos outros) não vão abandonar seus festivais já consolidados ou consolidantes, apenas para se livrarem do rótulo de sectaristas, paneleiros (versão brasileira, não portuguesa) ou coisa parecida.
Quanto ao problema exposto acima, das bandas que ainda não tem selo e que por isso não aparecem, a solução é mais palpável e real: façam seus festivais! Há algumas semanas aqui em Goiânia algumas bandas se uniram e fizeram um festival. Alugaram espaço, som, fizeram divulgação, decoraram o local e fizeram um festival que recebeu muitos elogios de quem foi, e muitos foram, faça-se saber. Ao invés de esperar algum festival grande, as bandas Lola Caolha, Lake, Pelúcias, Duup, Dogma Zero, Lascívia, Grasshoppers e Ceodois se uniram, se organizaram, trabalharam (porque dá um trabalhaço fazer um negócio desses) e fizeram o seu festival. E antes que alguém comente que não precisava colocar os nomes de todas as bandas, eu coloquei porque a atitude dessas bandas foi corajosa e é muito importante que se destaque isso. Na comunidade GoiâniaPunk está surgindo algo semelhante, bandas que querem tocar e que viram que podem organizar um evento para trabalhar e se divertir, e além de tudo levar diversão à outros.
Se mais pessoas se lançassem a organizar eventos, mesmo que simples (e por simples não estou dizendo tosco) em pequenos espaços, aí a cena teria uma quantidade muito maior de bandas se destacando, desenvolvendo experiência, ficando mais maduras nos palcos e mostrando um trabalho melhor. Isso ia gerar mais visibilidade ao rock independente, gerar mais público, mais empresas teriam interesse em patrocinar os eventos e atividades, e todo mundo ia ganhar com isso.
Resumo da ópera? Se mais gente trabalhasse ao invés de reclamar, tudo seria melhor.
Panela? Se desculpa de aleijado é muleta, desculpa de preguiçoso é panela.


Eduardo, O Inimigo do rei

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara muto djoia seu texto, quem me passou o link foi um cara que assina como Nettü Regert no MSN.

To passando por um problema parecido e serviu demais em certas respostas que tive que dar!

Abraço!