segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Minha homenagem a um Colibri muito especial

Como um Colibri que vai embora...

Tem umas coisas...
Eu sempre estou falando de melhorar as condições dos eventos do rock independente, de preocuparmos mais com o público, colocando alguns conceitos de administração ou mesmo de mercado empresarial quando me refiro à cena e isso nem sempre cai bem com todo mundo. Mas eu vi de perto o motivo de tanta preocupação, que talvez eu nem entendesse tão bem até aquele momento.
Mário Quintana disse uma vez que quando você ama alguém, esse alguém passa a viver dentro de você. E falar de amor pode soar estraño, especialmente em época de patrulhamento ideológico que proíbe falar de amor, porque isso é coisa de “emo”; mas é impossível pra mim, pensar em outro sentimento depois do que eu vivi. Depois do Colibri.
Isso porque no show do SANGUE SECO, no dia 10 de fevereiro, um guri se aproximou, se apresentou, elogiou o nosso show e começou a conversar. Achei o guri gente boa e com a prosa legal, e eu conversava com ele (que tinha sei lá, uns quinze anos) que me falava da banda dele, ou melhor, da ex-banda dele porque ele estava saindo dela por motivos particulares. Impressionante, mas ele estava aos pedaços, não chorava (porque chorar é coisa de “emo”), mas depois de ter trabalhado algum tempo com psicoterapia, fica meio na cara quando alguém está engasgando e engolindo um nó do tamanho de uma garrafa.
Eu fiquei impressionado, principalmente porque me identifiquei. Eu sou um cara casado, psicólogo, quase quarenta anos de idade, e já tinha me acostumado à idéia de que nunca ia ter uma banda de rock (ter uma banda = participar de uma banda), porque durante minha adolescência as minhas iniciativas com o rock nunca deram muito certo. As únicas coisas que sobraram dessas tentativas foi o fim definitivo de uma grande amizade e a sensação de que eu era um completo fracasso, ou a mais sincera tentativa de um fracasso. Mas ano passado montamos o SANGUE SECO, e eu venho tendo muita alegria com esses três alucinados (como digo na letra de “Sexto Minuto”). E nisso que eu me identifiquei, no amor, na paixão que aquele guri tinha pela banda dele, uma banda que não tinha feito nenhum show ainda, que ensaiava lá de vez em quando, porque todos estudantes quebrados não tinham grana toda semana para pagar estúdio. Mas ali ele estava me mostrando o tamanho do envolvimento que a banda tinha gerado na vida dele, o tudo que ela significava pra ele. E eu me emocionei. Confesso. Porque sinto a mesma coisa, essa vontade doida de ensaiar, de fazer música, de fazer show, de ouvir o povo comentando e poder aprender com cada toque generoso que a gente recebe, como as dicas que o Túlio deu no dia 10 (Valeu, Túlio!).
E aí é onde eu digo: Tem umas coisas...
Deixa eu contar uma outra coisa, pra poder voltar pra essa coisa.
Quem estava no GoiâniaNoise e viu o show do Trissônicos presenciou uma cena inesquecível. Durante todo o show deles havia duas criaturas se seduzindo no canto do palco, atrás das caixas de som. Um sujeito e uma menina. Ele feio, ela gata. A última música do show falava de amor, e repetia muito a palavra amor, e quando o Trissônicos tocou essa música, os dois atrás da caixa de som se atracaram num beijo devorador. Sabe aqueles beijos de deixar a boca doendo? Que parece que o encaixe dos lábios foi tão perfeito que tinha sido desenhado pra combinar com a sua boca? E como é bom encontrar uma boca que encaixe com a sua, putaquipariu!! E que você cola o corpo inteiro, para não perder aquela sensação gostosa da presença.
Nem estou falando do tesão danado que é um beijo desses, mas o prazer da conquista, a entrega finalmente ao outro, o carinho das bocas se apertando, aquela briga de submarinos que as línguas fazem e tudo que isso pode deixar na gente depois. É disso, essa sensação única e inesquecível que eu estou falando.
E a cena dos dois se agarrando foi mágica porque pareceu combinada com a música trissônica. O Júnior falando de amor e o casal se devorando. Uau!
Agora volta para o show do dia 10, na minha conversa com o guri que estava saindo da banda. Ele está me contando que vai sair da banda, pronto pra chorar e aí ele abaixa a cabeça pra fazer força pra não chorar, mas aparentemente viu que não ia conseguir segurar e saiu de lado, foi embora. Fingiu que enfiava a camiseta pra dentro da calça, e saiu de cabeça baixa para os lados dos portões. Na hora que ele abaixou a cabeça e saiu, por trás da cabeça dele, numa planta do canteiro, eu vi um Colibri. Um beija-flor, para quem preferir. Eu prefiro Colibri.
Com toda aquela leveza, aquela ansiedade, a velocidade das asas, eu imaginei o coração batendo rapidíssimo para manter aquela energia, aquela beleza agressiva de verde brilhante; e eu confesso que esqueci completamente naquela hora do cara que estava saindo da banda. Fiquei ali olhando aquele Colibri em toda sua majestade, apesar do tamanho pequenito. Em toda sua agressividade, apesar de ser tão gentil com a flor. Alguém pode até estranhar eu ficar tão extasiado com um Colibri, mas eu tinha meio litro de tequila reposada nas veias (o show foi regado à tequila) e um Colibri não é uma imagem tão comum, é algo raro, inesquecível, marcante.
E uma cena fechou com outra. O Colibri foi embora, eu fiquei ali com cara de bobo e aí me lembrei do garoto que vai deixar a banda. E como estava emocionado com a situação, de uma forma geral, eu fiquei preocupado. Aquele guri ainda poderia ter duzentas bandas até chegar à minha idade (o Guga, guitarrista do SANGUE SECO, teve até hoje umas cento e quarenta e sete bandas. E ainda não chegou na minha idade). Aquele guri ainda poderia participar de qualquer cena rock do país, porque ele era novo e já estava participando, indo aos shows, fazendo amizades, discutindo coisas; é articulado, conversa bem. E ainda assim ele estava devastado pelo afastamento e pela distância que viria. Talvez para sempre. Afastamento e distância que iriam deixar suas marcas e cicatrizes, certamente.
E o casal beijando no show do Trissônicos, o Colibri belíssimo indo embora e o guri querendo chorar... de repente tudo ficou junto na minha cabeça, fez sentido.
Esse é o público que lidamos nos nossos eventos. Apaixonados, intensos, entregues, querendo viver uma experiência única, por mais fugaz que seja.
Por mais que o contato com o Colibri tenha sido breve, foi inesquecível, olha eu comentando dele aqui e me emocionando de novo. O Colibri passou a viver dentro de mim porque gerou um momento inesquecível. O casal que se beija e suas bocas em encaixe perfeito. Cada ensaio de banda que fazemos. Cada show que vamos. São marcantes e passam a viver dentro. Como disse o replicante “esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva” porque vivem dentro de cada um, preservadas.
E nosso público? Falo sem medo de errar que todo mundo que participa dos eventos do rock independente já teve um show de rock que marcou sua vida pra sempre. Quantos participam e assistem os shows das nossas bandas e saem dali com a vida transformada, alterada, com um desejo grande para guiar aqueles passos desastrados que ainda virão? Nem digo que nossas bandas sejam a suprema definição de qualidade (nós, pelo menos, não somos mesmo), mas sempre atinge alguém com força, sempre passa uma mensagem. Ninguém passa em vão.
Numa discussão que surgiu por causa de um desses textos publicados, um organizador de shows daqui de GoiâniaTown, o Segundo, me disse uma coisa que me fez refletir: “Inimigo, tem guri que quer ir para um show tosco, beber pingorante e vomitar na calçada!” E ele estava certo. Tem guri que quer ir a um show sem muita frescura, sem muito detalhe, com o perdigoto do vocalista caindo na cara dele, para ele poder mostrar os hematomas para os colegas na escola – “Isso aqui foi numa roda de hardcore no show do WCMasculino!” – e deixar os colegas babando de inveja.
Então que seja para o cara que quer ir ao show e ter um som de qualidade, quer entender as letras, quer pular e pogar sem se machucar, quer beber cerveja gelada, quer comer algo gostoso como o acarajé da Tia, para esse cara nós temos que procurar elevar o nível sempre, e naquilo que está saltando aos olhos porque os exemplos existem aos montes em eventos de todos os tipos.
Mas isso não quer dizer que para o guri que quer beber o pingorante e passar mal não existam coisas para melhorar. Mesmo num “BiritaRockAtitude” que tem por ideal e descrição ser tosco (por tosco não estou dizendo que seja ruim, muito pelo contrário), ainda assim precisamos pensar em segurança para esses guris, em banheiros, coisas que ninguém desse público talvez exija, mas com certeza aprecia se tiver. Porque eles estão tendo uma experiência única, que pode ser uma marca definitiva para eles, e isso é uma responsabilidade muito séria.
O primeiro emprego na minha vida foi como professor de inglês, coisa que jurei nunca mais fazer na minha vida, nem para amigos. Isso porque um dia numa sala de aula fiquei aterrorizado pela idéia de que algum daqueles alunos, das mais variadas idades, pudesse não gostar da minha camiseta do Sex Pistols ou do meu tênis imundo e por isso passasse a não gostar de inglês. Por não gostar de mim, passar a detestar o idioma. Sei que sou paranóico, mas a responsabilidade era muito grande, e eu não queria lidar com isso.
Quando repito as pancadas nas teclas de melhoria dos shows, mesmo em shows simples estou me preocupando com a lembrança que vamos deixar nesses que freqüentam os eventos.
Isso porque às vezes o Colibri vai embora, e deixa um vazio. Por mais rápido que seja o contato, ainda assim a profundidade reside na intenção, e quando temos a intenção de fazer aquele relacionamento durar, por mais improvável que isso seja, isso só depende do tanto que nos dedicamos aos detalhes, aos momentos, a cada pequeno bater de asa e de um coração assustado. Cuidado nos detalhes como um cego tateando um rosto para memorizar as feições de alguém, com gentileza, com suavidade, com atenção.
Por mais que possa parecer piegas, tenho certeza da importância única de DC (depois do Colibri). Por mais que doa, por mais que machuque, sei que o guri que saiu pelo portão e provavelmente desabou em lágrimas vai aprender a viver com suas cicatrizes, como um Colibri que vai embora...


Sabe, eu nem sei se vou voltar a te encontrar, mas que fique aqui meu respeito e minha homenagem ao que vi e vivi. Mesmo eu não as tendo visto, sei que suas lágrimas são importantes e vão marcar sua vida. Mas nunca abaixe a cabeça, viu? Nunca! Colibris são pequenos, mas são brigões, parrudos, e nunca abaixam a cabeça.



Eduardo, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com

3 comentários:

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