quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

A lenda do Elefante Fora do Eixo

Não tá vendo o elefante??


Conta uma antiga lenda que um homem entra em uma cidade montado em um elefante. As pessoas que o viam se assustavam com aquela cena insólita, afastavam-se correndo e perguntavam ao homem o motivo daquela sandice, passear montado em um elefante. O homem estava tão bem acomodado nas costas do paquiderme, tão satisfeito por sua posição inatacável e nas alturas, que não percebia mais que estava sobre um elefante. E a todos que o perguntavam, aos gritos, o porque daquela maluquice ele simplesmente dava de ombros e perguntava: “Qual maluquice?”

Ele não percebia que estava sobre um elefante.
Talvez essa pequena lenda soe fantasiosa, mas muitos são aqueles que estão próximos do “elefante” e não o vêem. Muitos são os que estão tão imersos na situação que não conseguem perceber os contornos da mesma, e perpetuam comportamentos antigos de outras épocas, em que as necessidades e as exigências eram outras, bem outras. Não se pode perguntar como é a água para um peixe, pois ele está tão incluído, inserido e é tão tacanho seu raciocínio, que ele não consegue comentar sobre o líquido. Temos peixes assim aos montes em nosso meio, no meio do rock independente.

“Foi-se o tempo em que ter banda não significava estar ligada nesses processos políticos. É a integração se consolidando cada vez mais. E quem tá por fora, tá ficando pra trás.”
Pablo Capilé – Espaço Cubo

Vejam isso, no último Goiânia Noise, dando seqüência a articulações que já vinham acontecendo há algum tempo, os produtores da cena rock se uniram para discutir problemas comuns, propostas eficazes e assim fortalecer ainda mais os resultados de tanta gente que se esforça para fazer brilhar um poquito más o rock independente. Nesse dado encontro foi fundada a ABRAFIN – Associação Brasileira de Festivais Independentes, visando dar um caráter definitivamente organizado e sério para o circuito dos Festivais e com isso favorecer o relacionamento dos produtores com as fontes de renda e patrocínio, bem como apoios estatais possíveis. Tratam-se de 16 festivais independentes, atingindo um público total estimado em 300 mil pessoas, que consomem, influenciam, participam e definem os rumos de vários sub-grupos dentro das comunidades atingidas, ou seja, é fonte de trabalho, renda e cidadania para muitas pessoas.
Ainda nesse festival foi fundado o Circuito Fora do Eixo, que busca interligar os festivais, sites, blogs, mailings, programas de rádio e TV, bandas e produtores por todo o país. O Fora do Eixo definiu três eixos estratégicos para iniciar esse processo nacional, que são: a produção de conteúdo, a distribuição entre os selos e a circulação de produtores e bandas. Vem sendo atualmente o canal de comunicação por todo o país entre pessoas envolvidas na cena rock independente, favorecendo o contato, as trocas de informações, as dicas e orientações de quem já deu a cara à tapa e agora pode economizar as dores de quem está começando.
Com essas duas forças soltas pelo país o que podemos ver são sites conquistando espaço e credibilidade (como o FanROck – www.fanrock.com.br – o LondrinaRock – www.londrinarock.com.br – e o Dynamite – www.dynamite.com.br), blogs que aumentam seu número de leitores cotidianamente (como o Baba de Calango – http://babadecalango-to.zip.net e o Espaço Cubo Digital – www.espacocubo.blogger.com.br), programas e zines virtuais de rádio (como o Loaded – www.loaded-e-zine.com), comunidades orkutianas aos montes (GoiâniaRockCity, ForadoEixo e 99% das bandas, dentre outras) e eventos & festivais cada vez mais profissionais, como os bem próximos Porto Musical em Pernambuco, de 19 a 22/02, e o Grito Rock em Cuiabá, de 24 a 27/03 (calendário completo dos festivais no final do texto). Claro que um parágrafo não é suficiente para encaixar todas as iniciativas que vem surgindo por todo o país, movidos pela força de um movimento que se organiza como forma de sobrevivência e longevidade, talvez nem tanto por uma real necessidade, mas principalmente pelo grande senso de responsabilidade e oportunidade de quem se envolve em uma iniciativa bandeirante.
Coloque-se nesse balaio ainda as milhares (se não forem milhões. Estarei exagerando?) de bandas que surgem, que gravam, que querem tocar, que ensaiam, compõem, criam e fazem do rock uma lembrança inesquecível em suas vidas, e aí temos um breve rascunho do cenário que temos hoje em dia no país. Reforço a todo instante a expressão “no país” porque essa é a característica mais marcante dessa movimentação toda: a integração nacional. Integração essa que nenhum presidente de mini-série ou barbado tenha conseguido fazer. Integração essa que nenhuma operação tapa-buraco fracassada ou interdição de locais de rock consiga impedir. Integração essa que põe mais sabor na aventura de fazer rock brasilis independentis.
E aí então podemos vê-lo; esse é o elefante. Gigantesco, poderoso, manso ainda que determinado. Crescendo a olhos vistos, soltando seu balido rebelde recusando-se a se render, mostrando garras, urros e cicatrizes para quem quiser ver e para quem quiser acompanhar. Pois ainda existem muitos que insistem em não ver esse animal enorme, insistem em ignorar uma onda que percorre toda a extensão nacional e que vem gerando cada vez mais frutos.
Estes, tolos estes, que ainda insistem na acomodação rançosa, esperando colo ou proteção, sem se arriscarem a sair na chuva e dançar na beira do penhasco. Estes muitos, que ainda acreditam em duas situações esquizóides: a primeira dessas situações é um oásis de água fresca e sombra farta, onde ninguém precisa se esforçar e as 600 virgens nos esperam; e a outra situação em que não existe forma digna de crescer, e qualquer forma de organização e profissionalismo é simplesmente entreguista e canalha; situação em que os envolvidos se vendem ao sistema e perdem suas almas imortais. E dentro dessas possibilidades ou esperamos o maná cair dos céus ou continuamos a realizar eventos mal feitos, sem qualidade e sem preocupação com o público. Ambas situações bem longe da realidade.
Vemos freqüentemente situações de pessoas envolvidas com música e arte em geral, que não acreditam em um movimento independente como esse que acontece no país. Pessoas que só acreditam no rock brasilis de Loser Manos e Charlie Brau Jr, porque tocam no rádio ou coisa parecida. Essa semana vi um jornalista da área de música falando que “esses festivais são um amontoado de lixo”. Isso assusta quem não está preparado pra ouvir. Ou eu sou completamente sem noção ou então eu já vi muita banda de alta qualidade nos festivais que freqüento. Mas para quem está esperando a “next big thing” da Europa, fica difícil entender que em GoiâniaTown tem uma banda excelente como o Señores, por exemplo (e eu poderia dar um monte de exemplos).
Ninguém falou que esse elefante era fácil de montar, e mesmo tendo gente Fora do Eixo pra todos os cantos, mesmo encontrando montes de pessoas que vislumbram essa organização pelos MSNs da vida (a propósito o meu é eduardoamesquita@hotmail.com) ainda assim existe muita ralação para colocar em prática todos os planos e sonhos de dominação mundial gestados em reuniões sérias ou em mesas de boteco (e esses planos sempre parecem melhores). Os obstáculos são enormes e esses tolos que insistem em não vislumbrar o elefante não cooperam muito para diminuir as dores, muito pelo contrário reforçam as frases derrotistas e negativistas.
Não pensem que acredito também em um ambiente onde todos pensem igual e acreditem nas mesmas coisas e sorriam das mesmas piadas, até porque isso não seria normal. Seríamos então todos vítimas de lobotomia assistindo programas dominicais, ou seja, acéfalos, inertes e derrotados. Sempre teremos pensamentos dissonantes e isso é o que pode gerar novas alternativas e saídas criativas, mas quando conduzidas de forma positiva e propositiva. Simplesmente usar do poder de argumentar para soar irônico, debochado ou cool não acrescenta nada a essa seara tão cruenta que é fazer rock. E o que é pior, ignorar o que vem acontecendo, isso sim é uma rematada palhaçada.
Pra qualquer um que escolha olhar e ver as opções são poucas, ou melhor ainda, não há opção: vai ter que ver que existe espaço, possibilidade e caminho, basta trabalhar e trabalhar bem. Participando, se envolvendo, tomando iniciativa e (mais uma vez) parando de simplesmente reclamar ou criticar o que outros fazem, a conseqüência inevitável é subir nesse elefante porque ainda existe muito espaço, o bicho é grande e quem já subiu estica o braço e dá uma força.
Experimenta visitar algum dos endereços eletrônicos que aparecem nesse texto, deixe seus comentários, participe ativamente e você vai ver que credibilidade e respeito são o resultado dessa equação. Experimenta deixar de lado aquelas visitas sem deixar marca pelos sites e blogs, e você vai ter respostas. Experimenta participar das discussões orkutianas com propostas, sugestões ou no mínimo suas idéias de forma franca e tranqüila e no próximo festival vai ter gente chegando pra conversar contigo. Experimenta pesquisar no Google sobre essa lenda do elefante que eu contei lá no início, e você vai ver que ela não existe, mas serviu bem para o que dela era necessário, foi uma ferramenta eficaz. Existem trilhões de outras ferramentas eficazes por aí, basta usar, mesmo que às vezes tenhamos que forçar a história.
Use o elefante, ele está passando na sua porta.


Eduardo, O Inimigo do rei


FEVEREIRO
Porto Musical-PE: 19 A 22
MARÇO
Grito Rock-MT: 24, 25, 26, 27 E 04 DE MARÇO
ABRIL
Abril Pro Rock-PE: 21 a 23
MAIO
Bananada-GO: Segunda Quinzena
Eletronika-MG: 11, 12 e 13!
JUNHO
Porão do Rock-DF: 2, 3 e 4
Festival Calango-MT: 16, 17 e 18
AGOSTO
Do Sol-RN: Primeira semana!
SETEMBRO
Jambolada-MG: Primeira quinzena
Varadouro-AC: Segunda Quinzena
OUTUBRO
Demo Sul-PR: 6, 7 e 8
NOVEMBRO
Goiânia Noise Festival e Senhor F Festival: Ambos na Segunda Quinzena!
DEZEMBRO
Algumas pessoas tentam te fuder-RJ: Primeira quinzena de Dezembro

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