sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Desbravando terras virgens

Esse texto foi publicado no Diário da Manhã - www.dm.com.br - jornal aqui de GoiâniaTown e no Dynamite on-line - www.dynamite.com.br - o que muito me deixou satisfeito. Ver as letras assim voando é bom demais, e além disso abre mais espaços ainda.


O rock sempre foi tido como rebelde e transgressor, avesso a convenções e odioso rival de preconceitos e idéias pré-concebidas. Pois em Goiânia isso vem sendo praticado de forma ainda mais veemente pelos alucinados que alimentam a cena de rock independente. Estou falando dos shows de rock na Jump Club (http://www.jumpdanceclub.com.br/capa.asp) uma boate GLS da cidade que resolveu se permitir ao rock´n roll de forma inédita e criativa, gerando uma opção barulhenta nas quintas feiras da capital do pequi.
Isso se torna ainda mais importante quando verificamos a necessidade urgente e gritante de espaços para shows regulares na cidade, muito acostumada a festivais grandes (Bananada e Goiânia Noise, por ex.) e festivais esporádicos, pois uma cidade com a quantidade babilônica de bandas como Goiânia sente a falta de lugares para essas tantas bandas se apresentarem, desenvolverem seus shows e pegarem mais experiência em sua lide. Além de conflitos de datas em shows independentes, alternativos e toscos, que gera sempre a divisão de um público limitado quantitativamente, mas ávido por shows, sons e eventos; existe ainda a dificuldade de se encontrar espaço decente e apropriado para apresentações rockísticas.
Interessante e lamentável notar que, apesar de tantas bandas, selos bons, produtores competentes e muita movimentação, a cidade ainda pecava por não oferecer um bar/restaurante/casa de shows/pamonharia/qualquer coisa que tenha um palco decente, sistema de som adequado, cerveja gelada, bom atendimento e – o principal em madrugadas de semana – isolamento acústico ideal. A Jump tem tudo isso.
E o que chama mais atenção é perceber que tendo toda essa estrutura ainda enfrenta o problema de falta de público nas noites de rock. Ainda é deploravelmente comum ouvir comentários preconceituosos e sexistas do século retrasado e bizarrices assemelhadas ao se referir a casa, como se desejo fosse contagioso. Transe com quem quiser cada um, pois o sexo é a experiência mais anarquista do ser humano, totalmente livre de impedimentos, onde se encontra a maior expressão animalesca e que é tão libertária que pode ser praticada solitariamente, sem amarras nem cobranças. E me surge algum bisonho falando que por ter esse ou aquele grupo presente ele não pode presenciar, como se grunges não pudessem freqüentar shows de punkrock pelo risco de passarem a ser fanáticos escutadores de Ramones e DK. Francamente!
Quinta-feira, 29 de dezembro, fui até lá assistir ao último show do ano: Woolloongabbas, Shakemakers e A Coisa.
Além de presenciar três shows legais e um strip-tease arrasa-quarteirão, pude presenciar o melhor do lugar. A mistura que se torna o público da casa. Rockers, indies, punks, heteros, homos, de pouca idade, de muita idade, enfim uma fauna rica e variada. Durante o show dos Woolloongabbas uma galera de mais de quarenta anos encostada no balcão urrava com o rock dos pseudo-australianos entre goles gelados e cowboys. Os dois outros shows tiveram a presença maior do público típico da casa, e esse foi o momento em que a Jump Club mostrou que é o lugar para se fazer rock na cidade.
Mistura. Heterogeneidade. Variedade. Escolha uma palavra para definir o que é ver um show de rock sendo dançado por gente de todos os tipos, todas as idades, todos os jeitos, e você vai entender o que deve ser uma casa de rock. E a Jump é.
Quando desci do balcão, onde sentei para ver a Coisa tocar, acabei me metendo em um grupo de três mulheres, dançando frenéticas, a mais nova com cabelos prateados e com muita semelhança com uma tia minha já saudosa. Foi a comprovação para mim de que a casa da guerreira Regina Perri tem tudo para ser o lugar do rock constante da cidade.
Que os deuses do rock iluminem as cabeças que produzem eventos para organizar bons shows, as bandas se mostrem profissionais em seus compromissos e com isso o público vai aparecer em peso.
Nesta quinta tem show na Jump. E na próxima também.

2 comentários:

Anônimo disse...

Isolamento acústico?????HAHAHAHAHAHAH!Conta outra... Cara, você é surdo????????

Eduardo Mesquita disse...

Prezado "Anônimo", inicialmente esse texto já tem um ano de vida, então é meio datado, ou melhor, muito datado. E sobre o isolamento acústico, pergunte à vizinhança da casa sobre isso. Essa é a melhor medida.