quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Bons tempos é o cacete!

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Fiz um 5S em casa.
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Para quem não entendeu (ou para quem tem "nojinho" de termos corporativos) o 5S é um sistema de qualidade que os japoneses (quem mais?) inventaram de inventar. Uma de suas premissas básicas é que a organização e a higiene facilitam o trabalho, e por isso um dos momentos marcantes de um programa desses é o chamado Dia D. Esse é o dia em que os envolvidos passam em revista recolhendo tudo que não tem utilidade e ainda está guardado, ou mesmo o que é lixo e está em fundos de gavetas ou atrás dos armários. Já viu quanta tranqueira a gente consegue juntar ao longo do tempo? É impressionante.
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Pois então, eu precisava de espaço e fiz um 5S tosqueira aqui em casa. Muita coisa foi pro lixo definitivamente, e uma dessas coisas foi uma caixa de capacete. Já viu o tamanho de uma caixa de capacete? É grande, principalmente quando o usuário do capacete tem uma testa do tamanho da minha. Eu usava capacete quando corria de bicicross, mas isso já passou e a caixa estava aqui entulhando, pois era enorme. A caixa em si nem era grandes coisas, mas o que tinha dentro dela era significativo: fitas K7. Milhares delas, ou pelo menos algumas centenas. Não sei, não parei pra contar, se fosse contar não jogava fora. A maioria já devia estar emperrada, dura, sem condições de tocar. Mas reservei uma caixinha de doze fitas cassete para observar depois.
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Sabe aquelas antigas caixas de fitas cassete que iam dentro dos carros? Foi uma dessas que eu reservei.
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Hoje coloquei uma dessas fitas para tocar. Muito Smiths, Hüsker Dü, Cat Stevens, The Chimes e outras coisas dos anos 80 que faziam músicas suaves, lentas e melancólicas. Putz, me emocionei. Quantas músicas legais que eu não ouvia há eras, e o melhor não foi isso.
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Quem viveu os anos 80 se lembra do que era gravar uma fita k7. Você gravava para ouvir no carro do pai (ou do primo) ou para "aplicar" alguém naquele som. Ou então para impressionar e mostrar um som que ninguém ainda conhecia, mas você já tinha em suas posses.
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Cada um dos motivos que nos levava a ficar calculando tamanho de fita e ordem das músicas, além do trabalho de anotar nomes nas capinhas, tudo isso tinha seu romantismo bem típico da adolescência. Aquelas lembranças que vão ser presentes pelo resto da vida, mesmo que mude muito, sua vida se altere e as coisas pareçam tão diferentes.
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Não são diferentes.
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As coisas não são diferentes, você que mudou. E isso não precisa ser um sofrimento, afinal de contas.
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Vejo gente nova com conversa de "que saudade dos meus tempos" como se o mundo tivesse acabado ou se hoje em dia fosse um inferno tão singular que a memória é o único refúgio possível para essas vítimas. Que coisa patética! Um pensamento desses num senhor de 80 anos já é uma aberração, imagina numa criatura que não viveu trinta anos ainda.
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Sim, hoje temos uma série de problemas, dificuldades e situações que não tínhamos quando adolescentes. Lembro que essa fita que eu estou ouvindo agora (está tocando Cowboy Junkies... belíssimo!) foi gravada para uma viagem que ia fazer. Na época eu estava curtindo meu primeiro carro, um Chevette 86 marrom que tinha um sonzinho tímido, barato, mas responsável. Bancos confortáveis para artes diversas, som adequado e dupla carburação (não entendo nada disso, mas todo mundo falava isso pra mim). Corria o suficiente para me deixar empolgado e me levava e trazia para faculdade e para as bagunças de então.
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Fico feliz em ter guardado essas doze fitas, porque algo ficou desse tanto de lembranças (agora toca The Cure) mesmo tendo conseguido um monte de espaço com a dispensa da caixa de capacete.
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Sim, foram tempos excelentes, mas não gostaria de voltar. Hoje ouvindo essas fitas eu vi que mesmo com tantas responsabilidades, dívidas e pressões que vivo agora, hoje eu vivo o melhor momento da minha existência. E o mundo de hoje é o melhor mundo que existe para eu viver.
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Precisa melhorar? Sim, em muitas coisas, mas não fico me lamentando e remoendo o passado como um ruminante. Até porque não tenho tempo para isso, a vida não parou para que eu ficasse de recordações aqui e meus clientes continuam precisando de mim. E eu continuo precisando de mais clientes. hahahahhahahahah
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Tá tocando Simply Red e antes tinha rolado Rolling Stones. Bons tempos... não voltam mais e estão bem guardados na minha memória.
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Talvez um dia eu faça um 5S nas minhas memórias também. Tem muita coisa que eu não quero me lembrar mais. (e agora tá rolando uma clássica do Marillion...)
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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Um comentário:

Anônimo disse...

Ainda sobre as fitas cassetes: Eu gostava de gravar os especiais de uma emissora de rádio da cidade.
Eu tinha fita dos Beatles, Kid Abelha, Legião Urbana. Tinha uma fita do Legião que a última música do lado B, era Fábrica... A música começa e cortava na parte que encerrava a guitarra e os primeiros toques da bateria...nossa que raiva que eu tinha da fita... PQP! Queria ouvir a música toda.
Daí, depois comecei a ganhar mais trabalhando como babá e comprei os vinis. Meu primeiro disco foi da Simone, o segundo do Paulo Ricardo. Depois veio Tânia Alves e os boleros, Mano a Mano (dupla sertaneja), uma relíquia do João Mineiro e Marciano (um dos primeiros LPs deles) e Legião Urbana.
As fitas já descartei, mas, os discos (ainda) não. Sempre penso em vender para uma loja tradicional daqui que vende, troca discos, mas, ainda me falta coragem...
Quem sabe num dia de 5 S, não?

Obrigada por me fazer lembrar tanta coisa bacana.
Penso como você: estou muito melhor hoje que antes. Super bem e equilibrada.
É bom sentir saudade, mas, é completo voltar a viver a vida presente. É o conjunto e o resultado de tudo que já vivemos (ou não) no passado.
Beijos!!