sexta-feira, 1 de junho de 2007

"Music for Anthropomorphics" by Mechanics - by Inimigo do rei


Sábado de manhã. Faz um frio insano do lado de fora da janela, daqui de dentro faz frio também, ainda assim eu me sento no chão. O Mechanic me diz que quer que eu sofra, vou tentar satisfazê-lo. Eu me sento no chão. Frio. Chão frio.
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Melhor aproveitar e cortar minhas unhas, as dos dedões do pé. Muitos dias usando coturno, minhas unhas estão sujas. Pretas. Preciso cortar.
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Coloco o Cd “Music for anthropomorfics” pra rodar. O Cd do Mechanics pra rodar. O livro na mão e o Cd rodando. A vizinha de baixo bate no meu chão, reclama do peso talvez. Bom. Ela que sempre ouve suas músicas gospel na hora do meu cochilo do almoço, agora quer sossego. Vaca. Não abaixo o som. Vaca.
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Tesoura, lixa, lascas de unhas pretas no chão.
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Márcio Jr. sempre com seu discurso de coisas interligadas, de ir além do simples e do aqui, de juntar peças e cacos desconexos. Márcio Jr. e seus discursos.
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A música alimenta Zimbres, que alimenta as letras, que realimentam Zimbres, que alimenta o Cd, que gera o livro, que produz arte.
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Em tempos de inFernet e downloads desconexos (ontem baixei três Cd´s diferentes, não consegui ouvir na ordem até agora. Talvez nunca ouça.), em tempos de falta de encartes e letras, em tempos de capas sem-graça por seu tamanho reduzido, o Cd dos Mechanics é diferente.
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Já tinha ouvido. Ouvi para me preparar para o Bananada, mas nada havia me preparado para isso. Estou sentado no chão frio cortando as unhas dos pés com a vizinha batendo uma vassoura no meu reto pelo chão que também é teto.
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Peso.
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Conceito. Segundo Rodolfo, tudo é o conceito. Sem o conceito não temos nada.
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E uma guerra é declarada.
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Atenção no visor!!! Atenção no visor!!! Atenção no visor!!! Atenção no visor!!! Atenção no visor!!! A segunda música começou. Atenção no visor!!! A segunda música está tocando! Atenção no visor!!! A segunda música...
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Ela passa disfarçadamente, exige atenção. Ele disse que queria meu sofrimento. Eu continuo. A vaca do 12º andar parece que desistiu. Quero que morra!
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As músicas vão se sucedendo e eu me lembro dos tempos que procurava trilhas sonoras para minhas peças teatrais. “...Anthropomorphics” é teatral. É ópera moderna com vozes sussurradas no meu ouvido. Sussurros que metem medo. Voz do diabo, voz do mal, voz nefasta, voz que falta sangue. O desgraçado não sangra.
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Minhas unhas estão no chão. O chão tá frio.
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Eu vi todo o show do Bananada, eu não estava bêbado, agora eu entendo, era parte da maldição, era parte da feitiçaria dos quatro mecânicos. Eu estava em transe e alfas ondas flutuavam. Eu entendi. Só eu entendi! Ninguém mais entendeu! Posso quebrar o disco, posso nunca mais ouvir. Eu entendi e vi como devia ver. Eram fragmentos de discursos e estéticas, misturados num caldeirão étnico de laurentinos e flashes de luzes estrobo. Tudo encaixado e encaixotado. Não explique mais. Não explique mais. Até isso faz sentido agora. Preserve o segredo. Não explique. Alguns vão entender. Eu fui o maldito que expliquei o segredo do fim do corredor. Só ele vai entender.
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Zimbres tem um traço sujo, difícil, incompreensível no início. Mas como numa arte em 3D, subitamente o desenho se abre e faz conexão, estou dentro de SF e entendo tudo melhor agora. Diálogos surgem, a citação zoófila faz sentido agora. Me lembro do show do Bananada, eu estava bêbado, eu estava com sono, eu estava vendo em flashes, eu estava sentado no chão. Eu estou sentado no chão. Katu e Túlio nas guitarras e solos, como o que eu me sento, não como o que eu me sento, porque são incandescentes. Vem do inferno.
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Zoofilia inédita. Não come. Chupa. Nunca tinha visto. Inédita. Chupa.
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Jaime e Lt. John operam baterias anti-aéreas com precisão e brutalidade. Mais uma voz metálica entra nos meus ouvidos, já não sei se vem do telefone ou das caixas de som. Estou completamente desnorteado, uma rainha foi morta e eu não lamento por isso. Eu quero que a vizinha morra. Minhas unhas pretas no chão. Cheiro de unha do pé cortada.
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As histórias se entrelaçam e criam um mundo à parte com cidades que voam e pessoas manipuladas, eu já vi isso? Eu vivo isso? Malditos Mechanics, criam um mundo insano e ele faz sentido. Como faz sentido. Vizinha vaca. Vaca maldita. Romance com uma vaca? Romance que chupa. Mundo insano fazendo sentido, isso é inédito. Chupa.
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Há quanto tempo não me sento para ouvir um Cd por inteiro? Esse faz sentido por inteiro, como a febre que começa com acordes zeppelinianos, meio Kashmir, meio muito peso. Ele precisa ser apreciado por inteiro. NÃO BAIXE! NÃO BAIXE!! NÃO BAIXE!! Esse desgraçado precisa ser apreciado por inteiro. Tem que ser comido com casca e semente. Não baixe, imbecil! Eu não vou explicar.
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É capa ou é encarte, eu nunca tinha percebido. Não é o pôster do disco branco, é um pôster... meudeusdocéu é um pôster!!! Novamente faz sentido, mas um pedaço se conclui. Mais sentido no mundo insano. Mundo mecânico.
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O desgraçado conseguiu. Seu discurso filhadaputa de artes coligadas, de ir além do discurso, de interagir com outros universos estéticos, étnicos e éticos, e o filhadaputa conseguiu. “Music for anthropomorphics” é inclassificável e faz sentido. Filhadaputamente com sentido. Como classificar? Me faltam rótulos. Olho pras lascas de unha no chão e elas parecem não ser pretas mais. Parecem ter algo verde por baixo. Pela janela o céu amarelo e minhas unhas sujas de lama verde. Serei eu o réptil esquisito? Eu estou sofrendo. Ele conseguiu.
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Precisamos ficar bêbados juntos. Precisamos discutir muitos. Seu maldito demônio criativo. Precisamos nos embriagar. O desafio está feito. Você Sp Eu Sf e algum líquido que embriague. Não existiremos sem o conceito. E o horror será semeado.
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Não há braços.
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Eduardo Mesquita, O Réptil do rei.
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Um comentário:

Anônimo disse...

E viva a embriaguez!!! Fala el reprodutor! Permita-me a ligeira invasão de "intimidade". =)

Deixei um post sobre o loaded lá no meu blog e um abraço procê. Passa lá se der.

Há braço!
Ps.: Parabéns pela propagação da vida, hombre!