sexta-feira, 27 de outubro de 2006

O Circuito Fora do Eixo pode perder o eixo?

Me chamaram uma vez de "marqueteiro demoníaco", por eu trazer termos e conceitos do marketing e das ciências comerciais para o rock independente. Confesso que até hoje eu ainda deliro quando me lembro desse momento, e acrescento que eu adoro o termo, repitam comigo: "Marqueteiro demoníaco". Hummm.... é saboroso! Parece até nome de super-herói. E hoje vou acrescentar mais um motivo para me chamarem assim, porque novamente vou tratar do rock pensando no mercado, e que se danem os patrulheiros ideológicos, porque eu tenho pouco tempo de vida e muita coisa pra dizer.
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No marketing existe um conceito chamado "Ciclo de vida do produto" com sinônimos os mais variados, mas que objetivamente diz que um produto nasce, cresce, aparece e fenece. Ou seja, tem tempo de vida e se ninguém faz nada, ele acaba naturalmente e sem deixar saudades (ao menos na maioria do público alvo, né?). Para contrariar esse movimento natural, os marqueteiros – demoníacos ou não – criam situações de renovar e revitalizar produtos, para acrescentar nova etapa de crescimento antes que surja a decadência. Quer um exemplo? O Gol da Volkswagen é o melhor exemplo. Líder em vendas há décadas, já passou por quatro "gerações", sendo que algumas delas foram apenas uma maquiagem, um "lifting" na cara do carro para parecer que algo de novo existia. Continua sendo o mesmo velho Gol de sempre, confiável, econômico, manutenção barata, bonitinho (bem "inho" mesmo), com o seguro caro bragarai e de volante deslocado pro lado. Ou você nunca viu que o volante do Gol não é certinho na frente do motorista, ele é mais chegado pro lado, o que gera uma posição não muito natural, mas ninguém liga, afinal de contas é o Gol, e melhor ainda se for um de uma nova geração.
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Digo isso porque começo a me questionar sobre os rumos do Circuito Fora do Eixo. Motivos ainda não existem, mas "se eu sou muito paranóico, é porque sei que você quer me matar". Então mesmo que ainda não existam motivos reais e palpáveis, já começam a apontar tendências, sinais de fumaça, indicações tênues de que o produto pode estar chegando ao seu momento de revitalização. Semana passada fui entrevistado pelo programa "Independência ou Morte!" da Rádio Faap – www.radiofaap.com.br – e ao me perguntarem quais os problemas eu via no Circuito Fora do Eixo, realmente me questionei pela primeira vez e falei com convicção e certeza no coração de que não via nenhum problema.
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Imagino que nessa hora muita gente torceu o bico e acha que eu surtei. É verdade, não acho que o Circuito Fora do Eixo tenha algum problema estrutural até agora, posso estar desinformado, posso estar acompanhando os eventos de forma marginal, mas a verdade é que vejo que Circulação, Distribuição e Produção de Conteúdo caminham de vento em popa. Talvez não na velocidade que poderiam, mas numa velocidade que "nunca na história desse país" houve, com produtores e bandas fazendo barulho em todos os cantos do país, circulando, cruzando as distâncias, intercambiando, conhecendo gente e conhecendo gente como jamais foi feito com tamanha intensidade.
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Dessa forma o Circuito não tem problema nenhum, atende a tudo que se propõe e supera em várias facetas. Mas não existe almoço de graça, nem perfeição, as trincas e fendas surgem subterrâneas e minúsculas, diminutas parecendo ecos falsos no radar, mas se não previstas podem se transformar em desastres irrecuperáveis. Poderia bancar a Cassandra e sair prevendo miséria, mas não quero chamar atenção com gritaria, mas sim com ponderações, fatos, observações e comentários os mais sensatos possíveis.
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Por isso acho que o questionamento ao Circuito não é de todo ameaçador, tampouco de todo inofensivo. Porque senão vejamos, algumas bandas estão se destacando e circulando com bastante freqüência, alguns produtores estão potencializando suas iniciativas e alguns canais de comunicação estão saindo à frente com novas abordagens e mídias. Qual o destino disso tudo? O Fora do Eixo quer virar o Eixo?
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Não demora surgir o patrulhamento ideológico cobrando que as bandas estão aparecendo na Rede Blob, por exemplo, e que assim estão traindo a essência do Fora do Eixo. Não demora surgir dedo apontado para aqueles que fizerem seus eventos com estruturas mega e com atrações de peso e porte, ainda que surgidos fora do eixo. Não demora alguém cobrar atitude (o que é isso, pelamordedeus?) sem que isso nunca tenha sido discutido.
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A velha querela entre underground e mainstream é a base dessa preocupação, porque muitos ainda acreditam ser o pecado original da raça humana se uma banda quer ganhar tubos de dinheiro com sua arte. Muitos ainda consideram que a humanidade inteira deveria seguir os caminhos da arte pura e sem corrupção dos circos mambembes e dos artistas desconhecidos. Muita gente ainda acha crime misturar a palavra "dinheiro" e "rock" na mesma frase, então surgem essas atitudes de querer que o mundo inteiro se comporte de acordo com o livro vermelho de Mao ou coisa parecida.
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O ponto é o seguinte, quando uma banda como o Vanguart aparecer no Faustão, tocar na principal rádio da cidade, vender centenas de milhares de CD´s, ou qualquer outro símbolo de sucesso comercial merecidíssimo que seja; como o Fora do Eixo vai lidar com isso? É essa a busca do Circuito? Favorecer a divulgação, circulação e produção de conteúdo visa "bombar" alguma banda, algum selo ou algum articulista e com isso produzir um produto vendável e de sucesso?
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Levanto essa lebre porque antes que alguém acuse gente de sucesso (e de muito trabalho) como cínicos – porque usaram o Fora do Eixo para aparecer – ou como traidores – porque não mantiveram a pureza do ideal rebelde – eu penso que é muito importante deixar isso bastante claro. E talvez eu também esteja tendo uma visão errada da coisa, vai que acontece, né?
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O Fora do Eixo tem um risco potencial maior que é de se tornar outra forma de segregação, criando um Movimento dos Fora do Fora do Eixo. Isso porque à medida que as bandas, que atualmente estão sendo trabalhadas, começarem a gerar resultados, vão também exigir mais trabalho e dedicação. E aí quem vai cuidar das novatas que estão chegando? Os produtores envolvidos com essas bandas que já conseguiram destaque vão precisar concentrar esforços nas atividades relacionadas a elas, até mesmo pelo retorno e rentabilidade proporcionados; e aí quem vai guiar, orientar ou acompanhar as que chegarem por último na festa?
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Imagino que a prática vai mudar e as novas bandas não precisarão de tanto apoio, já que a cena estará mais consolidada, os canais estarão mais ágeis e tudo estará melhor e até mesmo mais fácil. Mas isso é uma forma de se ver e eu posso – novamente repito – estar redondamente errado.
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Não é uma provocação nem um chamado às armas, mas somente uma dúvida que eu levanto, afinal de contas a maturidade do processo exige novos comportamentos e novas atitudes. Não vai ser discurso politizado que vai sustentar para sempre uma união nacional desse porte, até porque as práticas vão se alterar naturalmente no processo. Vaidades surgirão (se já não surgiram) e poderão inviabilizar parcerias. Questionamentos sobre interesses são naturais.
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E aí, em algum momento, inevitavelmente vamos ter que nos preocupar se o Fora do Eixo saiu do eixo.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Pela paz em todo o mundo!



A imagem certa é essa. Esse é o disco que marcou um início. Não conhece ainda? Te mexe e vai atrás, é um disco clássico!

Cólera, houve um começo.


Eu ia fazer 18 anos de idade. Dava aulas de inglês numa escola de idiomas do centro da cidade, na rua 9, aqui em Goiânia. Já se aproximava a hora de terminar minhas aulas, de ir pra casa, e era meu aniversário.
Surgiram no corredor meus melhores amigos, naquele momento, e me levaram para aproveitar o dia, afinal de contas era meu aniversário. E fomos ao shopping.
Chegando lá me disseram pra escolher um disco, qualquer disco, que eles iam comprar pra mim de presente. E eu fui logo para o lado dos discos da Baratos Afins, Ataque Frontal e outros selos pequenos, que tinham seus discos com preços maiores. Normalmente meu salário de professor não dava pra comprar esses discos, então eu ia aproveitar meu aniversário e ganhar um disco mais caro, e que eu estivesse mais interessado em ter. Escolhi "PELA PAZ EM TODO O MUNDO".
Impressionante!
Agressivo, consciente, rápido, impiedoso com quem merece porrada. Eu descobri ali que era o tipo de som que eu ia querer ouvir pro resto da vida.
Cresci, envelheci, encaneci e continuei ouvindo punk rock. Junto com uns amigos montei uma banda de punk rock - SANGUE SECO - muito inspirado no som feito por Redson e seus hermanos.

Dia 12 de novembro eu subo ao palco em Palmas, capital do Tocantins para abrir o show para o Cólera. Parece que volto a ter 18 anos. Parece que as coisas se encontram, e nem sempre no infinito.
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Houve um começo... o que vamos fazer agora é história.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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terça-feira, 17 de outubro de 2006

Tudo é vaidade!


- Tudo é vaidade!

Assim uma pessoa muito bacana me ensinou um axioma bíblico que eu nunca pensei que pudesse relacionar com o rock independente. Mas é triste e decepcionante perceber que o primeiro pecado capital apresentado por Tomás de Aquino – também chamado “arrogância” em algumas obras – é quase uma redundância no ambiente tido como liberal, igualitário e engajado do rock independente.

Digo isso porque já vivi muito, e nos tempos antigos o mundo era diferente. Não tínhamos celular para sermos localizados nas madrugadas pelos cantos da cidade, não tínhamos também orkut para ficar trocando obviedades e expondo nossa burrice, não tínhamos TramaVirtual ou Loaded ou MySpace para conhecer bandas de todos os lados do mundo, e não tínhamos a aceitação do rock. Isso porque nessa época o rock ainda era uma transgressão, e ser chamado de “rockeiro” no colégio não te dava moral com as meninas, mas suspensões repetidas e asco generalizado da comunidade acadêmica. O Willian “El Louco” fala no blog dele, no http://louco.my1blog.com/ sobre meninas que gostam de caras de banda, pois nos tempos antigos – quando virgem não era somente um signo zodiacal – as meninas tinham medo dos rockeiros, e talvez por essa repulsa generalizada, os rockeiros eram unidos.

Quer motivo maior para se unir do que sobrevivência? Assim funciona na natureza, e assim funcionava com quem se envolvia com rock. Isso porque se não se unissem, desapareciam, e logo estariam usando “calça tergal e cabelo lau-lau”, engajados em alguma carreira bancária para alegria da mamãe e desespero dos velhos comparsas.

O que se via nas bandas e nos envolvidos do movimento (porque na época não se dizia “cena”. Cena era de teatro) era uma proximidade e coleguismo muito maior. E vejam que não falei “amizade” porque isso seria esperar muito da raça humana, esse erro natural; mas falei coleguismo. Amizade é confiar a vida a uma pessoa, amar essa pessoa independente das situações, mas coleguismo tem interesse ou conveniência envolvido, gosta-se porque se quer algo ou porque é mais fácil. E mesmo parecendo que isso é canalha, é muito melhor que a selva canibal que virou o meio rock independente, alternativo ou underground, escolha o rótulo quem lê.

Rótulos são, talvez, um dos motivos de tanta separação e fogueira de vaidades desse ambiente. Punks, heavies, indies, HCs e tantas outras derivações que o rock gerou, terminaram por atender à necessidade primeira do “Sistema”: separar e enfraquecer a única tribo “que muda”, como diz o Fall. Ao invés de procurarem cada vez fazer melhor em suas opções políticas, ideológicas e estilísticas, a preocupação é fazer melhor “que o outro”, como se a competição fosse a única regra para convivência. E então além dos rótulos vemos que a pequenez de muitos que se envolvem no movimento é outro ingrediente poderoso dessa equação; gentinha fazendo coisa de gentalha.

Já fui chamado de “marketeiro demoníaco” e “neoliberal” por querer pensar o rock e as bandas como produtos de consumo, visão que em algumas situações eu ainda mantenho, mas trago minhas cicatrizes e sei que o rock é muito mais que um produto de consumo, é muito mais que algo a se vender; é algo a se acreditar. Mas como acreditar em algo tão fragmentado, tão dividido, tão fraco?

Esse é o sintoma final do mal da vaidade no rock, a fraqueza de algo que poderia realmente destruir as amarras, mudar as cores, fazer algo acontecer de bom e positivo. Mas o que vemos são pessoas que se preocupam mais em estar com a razão do que em estar discutindo. Que são grossas e estúpidas nos argumentos, mas acham desculpa para isso. Pessoas que são donas da verdade, absolutas, escondendo seus esqueletos e canalhices e tramóias e burrices em pose e arrogância, arrotando sabedoria de fundo de copo como se fossem os últimos evangelistas da causa perdida do rock.

“Ó príncipes meus irmãos” eu volto a dizer! Tão certos do que fazem que esquecem dos próprios pés de barro. A cada vez que eu escuto (ou leio) algum apóstolo com essa prosa de “eu sei, é assim que funciona” tenho vontade de arrancar os olhos das órbitas, mas me contenho graças ao equilíbrio emocional que a idade proporciona.

Não vêem que alimentando essa disputa babaca, vazia e sem sentido só fortalecem quem queríamos destruir? Não percebem o tanto que já se tornaram ridículos em seus planos de dominação com seus discursos monótonos e repetitivos? Sempre a mesma lenga-lenga chata, que todo mundo já sabe de cor, e que de forma caricatural acaba reforçando todos os comportamentos que criticamos em outras turmas que não sejam a nossa.

Vaidosos em suas máscaras, detentores da verdade universal, certos do caminho em suas naus vazadas, acabam por criar discípulos e seguidores aos montes, tão covardes quanto eles próprios; porque é muito mais fácil seguir um mito do que uma criatura que se questiona e se duvida e se arrepende a todo instante. É muito mais fácil acompanhar os passos de quem nunca erra, de quem sabe a verdade, de quem não quer ser Deus, porque já sabe que é. Porque seguir quem aprende tentando e quebrando a cara implica em quebrar a cara também, e então dói menos simplesmente se apegar às velhas teses que a história já derrubou, mas que contam com defensores que se dizem “de respeito” e que se valem de tempo de casa achando que isso prova competência.
Tudo é vaidade. A cena rock apodrece por dentro por causa das guerras santas entre as igrejinhas toscas de pregadores venenosos e canalhas que se alimentam da comodidade e da bundice dos seus fiéis.

Foi isso que nos trouxe a modernidade? Não é a toa, portanto, que a saudade é tão doce.
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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Guerra é Guerra - Decibélica nas ruas!

Até os dentes...

"Panfletos, cartazes, grude: Era assim que a vanguarda roqueira costumava se armar. Não havia poste, latão de lixo ou hidrante que saísse imune às investidas publicitárias de quem queria tocar roquenrol para não tão poucos."

Começa assim o novo texto do Beto Wilson, manager da Revista Decibélica. Com a proposta de enfiar o dedo na cara e meter o pé na porta, ele já conseguiu alguns consensos inesperados. Mas a idéia é mostrar o tanto que tem gente mal acostumada, preguiçosa, lerda, maloqueira, esperando as coisas cairem do céu. Não vão cair!

Vai no http://decibelica.blogspot.com/ e presencia a destruição. Vale a visita!
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há braços!
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Eduardo Mesquita
eduardoinimigo@gmail.com
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sexta-feira, 13 de outubro de 2006

A banda acabou! "DEZENOVE"

DEZENOVE
Incompreensível. Essa era a palavra mais usada quando se referiam ao fim daquela banda. Isso porque ninguém conseguia entender porque eles terminaram a banda, porque separaram e nunca mais se falaram. Mas estou adiantando um pouco a história, vamos com calma.

Você tem ou já teve banda de rock? É uma experiência única e inesquecível. Porque é divertido, é trabalhoso, é suado, é canseira, mas é inesquecível. E é único. Putz, parece que eu não consigo explicar melhor que isso, mas é isso que é a explicação.

Esses caras eram amigos, e um dia se encontraram e em meio a muita conversa fiada e cerveja gelada, tiveram a idéia de montar uma banda de rock. Para ser bem exato, uma banda de punk rock, que era o som que eles gostavam mais de ouvir, e também porque não eram grandes coisas musicalmente, e achavam que o punk rock fosse fácil. Tolos!

Na cidade em que viviam já existia um movimento de rock bastante pesado e desenvolvido, com muitas bandas legais, muita gente trabalhando sério pra fazer o rock ser mais aceito, muitas discussões frutíferas e outras várias discussões estúpidas, normalmente envolvendo gente que se achava dono da verdade e gostava de cagar regra ou criticar de forma grosseira e babaca qualquer um que pensasse diferente. Ou seja, em muitos aspectos era um ambiente propício para o surgimento de mais uma banda. E eles já eram freqüentadores assíduos dos shows e festivais, já conheciam muitas pessoas de outras bandas e foram bem aceitos.

Como seus perfis oscilavam entre paranóicos, detalhistas e meticulosos, eles se dedicaram de forma bem metódica e esforçada para fazer um som que fosse bom, digno, crível e agressivo. Escreveram letras violentas, fizeram riffs de guitarra criativos, usaram o baixo de forma brutal e a bateria reta e sem frescuras deixando claro que a proposta da banda era fazer rock, e não fazer gracinha.

O começo foi difícil, como sempre é, e eles ralaram um tanto para conseguir um show para tocar e mostrar o som deles. Depois de alguns meses de procura e batalha, conseguiram a oportunidade num show organizado por um parente de um deles. Alguns poderiam dizer que eles só foram escolhidos para tocar nesse evento porque o organizador era parente de um dos caras da banda, e isso é o mais óbvio. Claro que só foram chamados por isso! Nunca tinham tocado em lugar nenhum, ninguém conhecia o som deles (o organizador – cuidadoso – havia ido a um ensaio para se certificar que eles não eram um problema grande demais, claro) e então eles só conseguiriam o primeiro show pedindo pelamordedeus ou tendo algum contato bom. Parente de produtor é um puta bom contato, ou não?

Foram tocar nesse primeiro show e estavam em pedaços, nervosos, ansiosos e tudo mais que possa ser creditado a pessoas que enfrentam algo novo pela primeira vez e que será avaliado por outras pessoas. Estavam tensos como cordas de violino, para me valer de um clichê estiloso. As bandas que tocaram antes deles não facilitaram em nada o nervosismo, porque eram bandas muito boas, violentas e que deixaram uma sensação de “que diabos eu estou fazendo aqui” em cada um deles. Mas mesmo com todo o nervosismo da primeira vez, o show deles agradou o público presente, e logo várias pessoas se acumulavam na frente do palco, uma roda de hardcore surgia para garantir algumas escoriações, e eles se sentiram mais tranqüilos. Bem verdade que conseguiram errar muito em suas próprias músicas, mas quem não erra quando está nervoso, não é mesmo? Para completar a noite ainda foram elogiados por uma outra banda de muita qualidade da cidade, e isso os deixou satisfeitos por tudo ter começado bem.

A seqüência é uma rotina para qualquer banda, procurar mais shows, ensaiar bastante, buscar melhorar a composição, criar um estilo. Pelo menos rotina para bandas que querem fazer um trabalho que preste, claro, porque sempre vão existir os que fazem por fazer, e que preferem apostar no “quanto pior, melhor” para justificar preguiça ou incompetência. Vai entender...

Acontece que algum tempo depois, perto de um ano ou mais um pouco, eles foram convidados para tocar num grande festival fora da cidade, numa outra região onde o rock era muito forte e onde tinha uma equipe muito bem organizada e engajada que trabalhava esses eventos e outras iniciativas. Desnecessário dizer que ficaram empolgadíssimos, aquela seria a coroação dos esforços todos que fizeram ao longo daqueles muitos meses. Prepararam um set list fuderozzo, com as músicas mais destruidoras que tinham, mentalizando para fazer um show com raiva, nervozzo e empolgante.

Foram semanas de ansiedade e expectativa, antecipando tudo que poderia acontecer. Foram para o tal show, tocaram e se sentiram muuuito bem. Isso porque o show – apesar de todos os pequenos problemas surgidos – foi bom, mas bom mesmo. E eles sabiam que não haviam tocado tudo que podiam, porque estavam nervosos, porque não estavam acostumados a tocar em palcos daquele tamanho e daquela altura, porque estavam tristemente sóbrios, e mais um monte de motivos. Por tudo isso, sabiam que o show não tinha sido um dos melhores que já haviam feito, mas ainda assim conseguiram deixar uma boa impressão no público. Várias pessoas gostaram bastante, e tudo isso e mais o tanto de bons contatos feitos durante o festival, anunciavam um futuro de muito rock para aqueles quatro alucinados.

Na cidade em que moravam os comentários pipocavam e muitos apostavam que iam buscar realizar mais shows fora do estado de origem, quem sabe finalmente lançar um CD cheio ou até mesmo tentar uma turnê européia!! As especulações eram muitas, mas tudo caiu por terra quando chegaram de volta à cidade natal, em um tópico de discussão na inFernet. Eis que surgiu a notícia de que a banda tinha acabado, que não iriam mais tocar juntos, e que nem a amizade tinha sobrevivido. Não se conversariam nunca mais.

Incompreensível. Ninguém nunca ficou sabendo o motivo, ou melhor, ninguém é um pouco de exagero, porque os quatro obviamente sabiam, e eu tive a chance de descobrir também, apesar de que nunca antes eu havia contado a verdade.

Acontece que eu era – na época – muito amigo de um deles. Ele era o mais tranqüilo dos quatro, quase nunca discutia com ninguém, sempre apoiava o que a banda decidia, um sujeito pacato ao seu jeito. Digo “Era” porque ele morreu, mas antes de morrer me contou o motivo da separação. A conversa foi assim:


“- Cara, foi naquele show fora do estado, lembra? Pois então, a gente estava muito empolgado, felizes e satisfeitos pelo convite. Tudo estava muito lindo e organizado, com tratamento de primeiro mundo, hotel, comida, birita, fantástico. O show nem foi tão bom, porque estávamos muito nervosos, mas ainda assim o povo gostou. E aí veio o problema. Quando a gente desceu do palco, rindo feito criança em loja de brinquedo, uma das produtoras do show veio e nos entregou as fichas para pegar cerveja.
- Mas isso não era bom? Vocês tinham cerveja grátis!!
- Bom pra caramba, claro, mas ela entregou pro vocalista dezenove fichas.
- E daí?
- Cara, nós éramos quatro, ela deu dezenove fichas. Como divide dezenove por quatro?
- Peraí, você tá dizendo que isso foi o problema?
- Cara, porque ela deu dezenove fichas? Porque não deu vinte, ou então dezesseis?? Dezenove?? Que diabo de número é isso?
- Meu amigo, era cerveja grátis. Jogasse fora se fosse o caso, mas vocês brigaram por causa das malditas dezenove fichas??
- E você pelo visto não acha motivo suficiente, né? Tem gente que acha que tudo é fácil, que não entende o problema dos outros! Cara, ela deu dezenove fichas!!!”

Pois é, eles acabaram com a banda por causa das dezenove fichas. Por não saber como dividir entre os quatro. Imagina isso?

Mas também, quem é que entrega dezenove fichas? Ainda se fosse dezoito, ou vinte, mas dezenove??

Humpf!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Um buraco no Fora do Eixo!

Essa semana um texto me chamou a atenção. Foi feito pelo Richard, que tem um selo aqui em GoiâniaTown, o Anti Records.

Isso porque o velho escritor já falou sobre a burrice da unanimidade, pois eis a voz dissonante que aponta falhas numa idéia que vem recebendo loas e incensos por todos os lados: o Circuito Fora do Eixo.

Já disse ao Richard que não concordo com tudo que ele disse no texto, mas pela coerência do texto, pela coragem de expor o que pensa e pela contribuição que qualquer discussão pode trazer para um projeto, pedi e ele me autorizou a colocar o texto aqui no blog.

Leiam, reflitam e ao final eu coloquei o endereço do tópico do orkut em que ele colocou esse artigo inicialmente. Vamos alimentar a discussão, se não for para mudar algum comportamento, que ao menos possamos reforçar os já existentes.

Ou no mínimo para ouvir / ler o pensamento de um cara que briga muito pelo rock independente e que por isso merece meu respeito. Agora quem fala é o Richard...


Buraco no circuito fora do eixo

Antes de qualquer coisa, quero deixar bem claro minha intenção ao escrever este simples artigo. Não quero de nenhuma forma, atacar meus companheiros de trabalho na produção de shows aqui na cidade, cujo trabalho é fundamental para o respeito em âmbito nacional que a cidade tem quando o assunto é rock independente. Mas ao ver o que acontece na cena hoje, sinto no direito de dar uma posição às bandas com que trabalho, que algumas vezes (e com certa razão) se sentem injustiçadas com o espaço que lhes é concedido e com o pouco apoio que lhes é dado. Porém, hoje nos meios informativos do “rock fora do eixo”, é muito claro ver a ascensão de bandas de certos estilos que caem no gosto de quem está ligado e detêm os meios de comunicação e a produção de shows nesse meio. Não vou esconder minhas críticas e nem trabalhar com indiretas, por que acho que o que eu tenho a dizer é realmente necessário, pois vejo claramente bandas de trabalho recente tendo seu trabalho reconhecido (o que é muito bom), porém vejo bandas que estão literalmente ralando e seu trabalho ainda está longe de ser reconhecido. E tenho em minha visão, que o motivo é o simples fato de que, nesse meio se criou um “padrão” para o rock goiano, que acaba por desmerecer outros estilos fora do stoner ou do indie.

Vamos então aos fatos: Criou-se uma espécie de liga do rock and roll que inclui a cidade de Goiânia, o chamado circuito fora do eixo. Este circuito foi feito para, entre outras coisas, fortalecer a cena cada vez mais crescente fora dos grandes eixos no meio do rock, onde acontecem grandes eventos regularmente. As principais representantes deste circuito são Cuiabá e Goiânia. O trabalho tem sido de um modo geral muito bom, não fosse por um buraco, que com certeza posso afirmar, vem se tornando cada vez maior, e, mesmo assim, não atraiu a atenção da produção que representa tal circuito na Goiânia rock city.

Vamos então falar primeiro da propaganda. A revista DECIBÉLICA, hoje creio que a única que tem o potencial de atingir toda a cena, é o meio que pode mostrar este buraco, devido às reportagens. O trabalho é muito bom, a parte gráfica da revista é muito boa, os releases no geral são bem explicativos, porém a vontade de trabalhar na cena como um todo não é tão boa assim. A revista mostra a cena goiana, no geral, focando apenas duas produtoras da cidade: a Monstro Discos e Fósforo Records. De acordo com esse olhar, alguns estilos como o punk rock tradicional, o hard core (melódico, crossover, nova-iorquino, etc) e o metal ficam sem espaço devida a construção que se faz de Goiânia como a cidade do indie e do “hard rock” (é errado dizer mas estou incluindo nessa linha o stoner e o glam).

Em questão do surgimento de bandas novas, é inegável o potencial delas em todos os estilos. Mas os olhos dos festivais que estão no Circuito Fora do Eixo parecem não achar tanto, visto que as novas bandas que sempre são convidadas para os shows, são em sua maioria dos estilos que configuram o rock goiano segundo estas produtoras. Realmente me deixou meio instigado ver o release do Circuito da revista DECIBÉLICA colocando Goldfish Memories como uma das bandas que mais se destacou este ano. A banda é muito legal, tem a pegada boa, e tem entrosamento, mas não chegou perto de ser colocada nos destaques deste ano. Isso desmerece o trabalho de algumas bandas novas que ralaram, fizeram shows durante todo o primeiro semestre, lançaram material e conquistaram um público muito considerável. Só não tem o mesmo mérito que a citada Goldfish por uma questão de gosto pessoal.

Agora, neste ano, me parece que estas produtoras sentiram uma queda no seu público (o que é bem verdade, pois pra mim isso é frequentemente reclamado). Isso é um acontecimento que nada contra a maré, já que a cena aqui está em ritmo de crescimento. Porém, se eles, juntamente com a fiel escudeira revista DECIBÉLICA, julgam o nível das bandas novas de acordo com o seu gosto pessoal, e sempre colocam as melhores em seus shows, não entendo então o porquê da falta de público. Eu não sinto esta falta de público nos meus shows quando vejo um show da Duup lotado, com direito a moshs e rodas de hard core, ou um show divertido e direcionado com o Tcholas, e por aí vai. Já que eles têm o direito de fazer tais julgamentos, eu julgo também os destaques deste ano, porém levando em consideração os vários shows feitos por estas bandas e os materiais lançados. Incluo as 4 bandas que lancei este ano (Duup,Tcholas, Lascívia e Os Fronhas), cujo trabalho foi gratificante e reconhecido pelo público que foi aos shows, quase sempre cheios. Aos Engravatados, que neste ano fizeram vários shows, tem um puta de um guitarrista bem criativo e gravaram varias músicas que podem ser conferidas nos links que deixarei abaixo. The Envy Hearts, esta sim a grande campeã do stoner, totalmente redonda. Gloom, que toca direitinho e caiu no gosto do público que busca atingir. Funbox, que foi promessa quando surgiu, mas que por uma grande ironia, deixou de ter importância dentro da produção que hoje está no circuito quando abandonou a influencia stoner no seu trabalho. No Dolls, punk com ênfase na luta feminista e o Joana D’ark, que é muito criativa, com destaque pro batera.

E pra finalizar, quero deixar claro mais uma vez, que não estou desmerecendo o trabalho de ninguém, muito pelo contrário. Porém, o circuito é que as vezes parece desmerecer nosso trabalho.


Para quem quiser conferir o tópico e os argumentos surgidos, e também quiser colaborar na discussão, o endereço é esse aqui:
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=10440997&tid=2491175057132527052&na=4
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
eduardoinimigo@gmail.com
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segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Tapa no mico!

"Devo ter sido o último panaca a assistir ao tal “Tapa na pantera” e, se não estou completamente louco, os velhos maconheiros – ô, raça! – devem estar morrendo de vergonha do vídeo sensação do You Tube. São três minutos e trinta e seis segundos de piadas bocós sobre efeitos colaterais consagrados da canabis sativa – risadas incontroláveis, disritmia e lapsos de memória, por exemplo – interpretadas por uma senhora porra-louca com um cachimbo na mão e nada, absolutamente nada na cabeça. É um espetáculo tão degradante do ponto de vista dos neurônios da protagonista, que todo pai deveria mostrar “Tapa na pantera” aos filhos, a título de advertência: “Olha aí como fica uma pessoa que fuma maconha”. Chocante!"
Tutty Vasques desanca o mito virtual, mas com alguma coerência por trás de seus urros. Isso porque o protesto dele não é contra ou a favor da maconha, mas em defesa do talento rebelde e eterno, inquestionável da belíssima atriz Maria Alice Vergueiro. Está aqui http://nominimo.ibest.com.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=14&textCode=23630&date=currentDate&contentType=html
Realmente, com o currículo dela ficar famosa na net por causa de um tapa na pantera... é pouco para ela.
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Há braços!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
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